Debates
Uma mensagem para o Dia do Trabalhador
Da Redação | 30 de abril de 2021 - 02:46
Por Lino Rampazzo
Num importante documento do Concílio Vaticano II (1962-1965) lemos: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo”.
Podemos aplicar e refletir estas palavras no Dia do
Trabalhador de 2021, perguntando: quais são as alegrias, as esperanças, as
tristezas e as angústias do trabalhador nesta situação de pandemia?
A cada dia o noticiário fala mais das tristezas e das
angústias do que das alegrias dos trabalhadores. De fato, a pandemia
intensificou profundamente a crise de muitos no Brasil.
Um dos graves problemas na área trabalhista diz respeito ao
desemprego. A situação, neste aspecto, já era ruim mesmo antes da crise da
pandemia, de modo que seus impactos no país tendem a ser ainda mais dramáticos.
Essa situação seria mais facilmente contornável, caso a
maioria da população estivesse em empregos formais. No entanto, o grau de formalização
das ocupações no Brasil vem caindo continuamente desde 2015, com destaque para
a perda dos empregos no ramo industrial. Sem o dinamismo desse setor, uma massa
de trabalhadores foi se deslocando para setores de menor produtividade e
menores salários, especialmente no comércio e serviços em geral, os quais
serviram como válvula de escape à deterioração e queda do emprego formal.
Fala-se, então, de “sucateamento dos postos de trabalhos”, “informalização”,
“enfraquecimento dos direitos trabalhistas”, “uberização” etc.
Diante dessa crise, particularmente a do desemprego, o Papa
Francisco assim se expressou recentemente: “Uma família onde falte o trabalho
está mais exposta a dificuldades, tensões, fraturas e até mesmo à desesperada e
desesperadora tentação da dissolução. Como poderemos falar da dignidade humana
sem nos empenharmos para que todos, e cada um, tenham a possibilidade de um
digno sustento?”.
Estas palavras estão no documento “Patris corde”, que
significa “com coração de Pai”, publicado no dia 8 de dezembro de 2020, por
ocasião do 150° aniversário da Declaração de São José como padroeiro universal
da Igreja. E São. José, além de ter sido o “amado Pai” adotivo de Jesus e
esposo de Maria Santíssima, foi trabalhador, e trabalhador que sofreu!
Saiu com Maria de Nazaré para Belém para o recenseamento
determinado pelo imperador César Augusto. Lá Maria deu à luz Jesus. Onde? Num
estábulo “porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7). Certamente
José não tinha dinheiro para pagar a hospedaria.
Com 40 dias de vida Jesus foi apresentado no templo. E José
ofereceu a contribuição dos pobres: “dois pombinhos” (Lc 2,24). Depois ele
fugiu para o Egito, porque Herodes queria matar o menino. E José, com Maria e o
menino Jesus, sofreu na difícil situação de refugiado.
Em seguida voltou para Nazaré, mantendo a família com seu
trabalho de carpinteiro (Mt 13,55). Ele é o pai trabalhador! Sobre isso, assim
se expressou o Papa Francisco no documento citado: “São José era um carpinteiro
que trabalhou honestamente para garantir o sustento da sua família. Com ele,
Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o pão
fruto do próprio trabalho”.
Neste nosso tempo em que o trabalho parece ter voltado a
constituir uma urgente questão social e o desemprego atinge por vezes níveis
impressionantes, mesmo em países onde se experimentou durante várias décadas um
certo bem-estar, é necessário tomar renovada consciência do significado do
trabalho que dignifica e do qual o nosso Santo é patrono e exemplo. O trabalho
torna-se participação na própria obra da salvação, oportunidade para apressar a
vinda do Reino, desenvolver as próprias potencialidades e qualidades,
colocando-as ao serviço da sociedade e da comunhão; o trabalho torna-se uma
oportunidade de realização não só para o próprio trabalhador, mas sobretudo
para aquele núcleo originário da sociedade que é a família”.
Que São José Operário, cuja memória é celebrada pelos
católicos no dia 1° de maio, Dia do Trabalhador, nos ensine a dar um sentido ao
trabalho e com sua intercessão ajude a Igreja e a sociedade inteira a valorizar
os trabalhadores reconhecendo e atribuindo-lhes a dignidade que merecem. Dessa
maneira, teremos “esperança e alegria”.
*Lino Rampazzo é Doutor em Teologia e Coordenador do Curso
de Teologia da Faculdade Canção Nova