Debates
O espaço escolar não pode esperar até a vacina chegar
Da Redação | 03 de outubro de 2020 - 01:29
Por Milena Fiuza
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o fechamento das escolas tem causado
consequências adversas. As perturbações resultantes desse movimento acentuam as
disparidades já existentes nos sistemas educacionais, além de afetarem outros
aspectos fundamentais da vida. Em recente publicação sobre o tema, a Unesco
aponta itens sob a ótica da Educação que foram especialmente atingidos. São
alguns deles: aprendizagem efetiva interrompida, agitação e estresse para
professores, pais despreparados para a Educação remota, desafios na criação e
manutenção do ensino não presencial, altos custos econômicos e aumento das
taxas de abandono escolar.
A retomada presencial passa, naturalmente, pela opção de
aguardar o momento supostamente mais seguro resultante de uma vacina. Ainda que
o mundo viva uma corrida por uma solução contra a Covid-19, existe muita
responsabilidade e milhares de testes antes que um imunizante seja distribuído.
A cada nova notícia sobre o assunto, somos remetidos às possibilidades de se
alcançar uma vacina eficaz e segura somente ao longo de 2021.
O fechamento de escolas tem evidentes impactos negativos
sobre a saúde e desenvolvimento infantil, Educação, renda familiar e economia,
a médio e longo prazos. Condicionar a decisão de retorno presencial das aulas à
imunização global da população pode até parecer uma decisão 100% segura, mas,
no entanto, escora e prolonga um cenário educacional que as instituições de
ensino sustentaram até o momento com esmero, mas que começa a dar sinais de
esgotamento do modelo e necessidade imediata de ajuste.
Para além da defasagem educacional constantemente mensurada
pelas instituições e já mapeada para recuperação futura, têm se agravado as
desigualdades e violências nos últimos seis meses. As crianças, além de terem
seus estudos prejudicados, também enfrentam questões graves de violência em
meio à pandemia. As crianças e adolescentes se mostram mais irritadas por
estarem tanto tempo longe de seus colegas e de outros familiares.
O afastamento social tem mexido com as sensações da
população mundial – e as crianças são especialmente vulneráveis. A perda dos
espaços de apoio e convivência é um dos motivos para o aumento do estresse e,
consequentemente, da violência contra as crianças e adolescentes. No mês de
abril, o Governo Federal recebeu 19.663 denúncias de violência sexual contra
crianças e adolescentes, sendo um aumento de 47% em relação ao mesmo período do
ano passado.
A escola, mais do que nunca, deve ser compreendida como
atividade essencial. Se, em algum tempo, houve quem acreditou que poderia fazer
educação escolar em casa, a quarentena trouxe os argumentos para dissuadir quem
defendia esse conceito. O ambiente escolar não é apenas um espaço para
construção de conhecimento, é sim um local seguro com um ambiente profilático
propício para essas crianças e adolescentes. Nenhum outro espaço social está
tão comprometido em cumprir as normas e regras para mitigar a doença, pois,
afinal, tudo na escola é educativo, enquanto protegemos os alunos, ensinamos
como devem proteger a si e aos outros, ao passo que nos adaptamos a viver com a
Covid-19, até que uma vacina esteja acessível a toda a população.
Milena Fiuza é gerente pedagógica do Sistema Positivo de
Ensino.