Debates
“Tô cansada, pai!”
Da Redação | 24 de setembro de 2020 - 02:29
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Esta frase ouvi da minha filha de 7 anos há algumas semanas.
Isoladas em seu núcleo familiar desde o início da pandemia – e lá se vão pelo
menos seis meses! – as crianças começam a demonstrar sinais de cansaço. O
rendimento escolar desabou ladeira abaixo e o emocional dos pequenos começa a
mostrar sinais de esgotamento.
Antes de tudo como pai, comecei a estudar o fenômeno da
pandemia e seu impacto nas crianças. Estudiosos comentam que o custo social da
pandemia será enorme especialmente para elas. Parcela pouco significativa nos
índices divulgados, o isolamento social para as crianças foi muito mais severo
do que para os adultos. Longe da escola, dos amigos, da igreja e dos avós, as
crianças sinalizam que estão cansadas e sem qualquer condição de absorver os
conteúdos transmitidos nas aulas virtuais.
A preocupação é muito simples: os transtornos nascentes
nesta fase da vida, repercutem e contribuem cumulativamente na fase adulta. E o
impacto disso veremos na sociedade: possivelmente, um índice muito mais elevado
de adultos com depressão, stress e sabe-se lá quais destes problemas irão
impactar na saúde física também. Em tempos de debate da igualdade social, é
importante salientar que os transtornos psicológicos nas crianças, causam
mudanças no equilíbrio social, contribuindo para o aumento das desigualdades.
Medo, insegurança, insônia e irritação podem ser sinais
emitidos pelas crianças de que algo não vai bem. É importante que nós pais
possamos observar atentamente tudo isso jamais deixando passar qualquer pista
negativa. Cada pai sabe a linguagem mais adequada de como lidar com isso; o
importante é acolher, motivar e jamais permitir que prevaleça o negativo.
Também é importante que as lideranças tomem a frente em
favor dos pequenos; que os líderes religiosos se preocupem em defender um
retorno gradativo das crianças nas atividades comunitárias – sempre dentro das
normas sanitárias; que as escolas permitam atividades em que haja – ainda que
de leve – um contato das crianças e os professores. Chegamos no ponto em que
videoconferências já não são mais suficientes para minimizar os efeitos do
isolamento.
Discutir a saúde mental das crianças é oportuno e
necessário. Cada família sabe sua prioridade, lembrando sempre que vivemos em
um regime de liberdade e que, cada decisão, deve ser validada e ter seu impacto
medido no seio familiar.
Em breve haverá vacina; a economia irá se reerguer; porém as
chagas psicológicas de nossas crianças e adolescentes permanecerão. É urgente e
necessário transformar esta demanda em oportunidade de prevenção e mudança de
hábitos, promovendo a saúde mental das crianças.
Jorge Munhoz Jr é publicitário, casado, pai de 4 meninas
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