Debates
A mentira tem perna curta; e braços longos
Da Redação | 17 de julho de 2020 - 02:27

Por Mário Sérgio de Melo
A grande mídia agora se declara a serviço da democracia e quer resgatar o PT. Arrepende-se do erro que cometeu. Mas não tem dignidade de admitir o erro. Ao contrário, sempre cobra a autocrítica do PT. Quer que o PT, e as esquerdas, assumam a culpa pelos erros que cometeram, como se fossem eles os culpados pelo desgoverno e barbárie hoje no Brasil. É bom lembrar, a grande mídia levou quarenta anos para reconhecer o erro de ter apoiado a ditadura, no início. Só mudou de lado quando se viu censurada e perseguida.
O PT e as esquerdas muito mais acertaram que erraram. Quem esconde e distorce isso, como a grande mídia, mente. Por ser avessa a uma sociedade com menos privilégios, mais inclusiva e lúcida, menos manipulável.
A grande mídia criou a criatura que fugiu de seu controle, e agora a afronta, sufoca-a com seus grandes braços. Embora a criatura que agora a grande mídia diz repudiar faça bem o que ela defende e deseja: avilta o trabalho e o trabalhador, privatiza serviços estratégicos (saúde, educação, segurança, saneamento, energia, aviação, etc.), loteia o patrimônio nacional, desdenha o meio ambiente, afrouxa a regulamentação da iniciativa privada, concentra renda e privilégios, isenta rentistas, imbeciliza a educação.
Há quem diga: “A criatura que está destruindo o Brasil não era o candidato da grande mídia”. Verdade! Esse foi o mais espetacular erro da grande mídia. Ela não previu que estava criando o inqualificável fenômeno Bolsonaro: quando demonizou o PT e a esquerda, quando apoiou o golpe contra o governo democrático eleito, quando louvou o governo fantoche ultraliberal de Temer, quando endeusou as distorções e mentiras da Lava Jato e a prisão de Lula, quando frustrou o sonho de uma sociedade mais justa e inclusiva. Acabou vítima de seu erro, de seu próprio veneno.
Os resultados das urnas de 2018 mostraram duas coisas fundamentais: o poder de manipular o povo, fazendo-o votar na aberração travestida de novidade; e a recusa do povo logrado em escolher o candidato da grande mídia e de seu elitista sonho de plutocracia. Os grandes derrotados de 2018 foram a democracia e o PSDB.
Se a grande mídia agora vai assumir de fato o serviço à democracia, esta é uma alvissareira novidade. Mas a democracia que ela tem em mente será a mesma desejada pelo povo excluído? Que sonha com melhores condições de trabalho, salário e aposentadoria? Com um Estado forte, justo e nacionalista, que controle um setor privado voraz, entreguista, monarquista e escravocrata? E que inspire o orgulho de viver numa nação tão rica, por natureza e pela virtude de seu povo, como o é o Brasil?
Ou a grande mídia ainda é a porta-voz de arraigados instintos selvagens: o egoísmo, a ganância desmesurada? Eles impedem enxergar que a inclusão é o caminho para a superação de graves empecilhos sociais, ambientais e econômicos. Vencê-los seria galgar um degrau na escala civilizatória.
Oxalá seja a esta democracia que a grande mídia esteja declarando servir. Mas será?
Mário Sérgio de Melo é Geólogo, professor aposentado do Departamento de Geociências da UEPG