Debates
O agro é uma chave para o futuro
Da Redação | 10 de julho de 2020 - 03:01
Por Xico Graziano
Está aumentando a importância da agropecuária na economia
brasileira. O fato contraria a teoria clássica. Pois em vez de significar uma
volta ao passado, o Brasil encontrou no agro um caminho para o futuro.
Dois indicadores macroeconômicos comprovam a valorização
recente do agro nacional: o desempenho das exportações e o crescimento do PIB
setorial.
As exportações oriundas do agronegócio somaram US$ 31,4
bilhões no 1º quadrimestre de 2020, acréscimo de 5,9% sobre igual período de
2019. Considerando-se a média dos quatro primeiros meses, as exportações do
agro representam 46,6% da exportação total do país. Em maio, somente, essa
fatia de participação alcançou 55,8%. Incrível.
Por sua vez, as importações do setor de agronegócio caíram
4,5% no quadrimestre, somando US$ 4,57 bilhões. Resultado: o agronegócio gerou
superávit na balança comercial de US$ 26,83 bilhões nos primeiros quatro meses
de 2020. A receita do agro paga as compras externas do país.
Quanto à geração de valor, os estudos do Cepea-USP mostram
que, no ano de 2019, o PIB (Produto Interno Bruto) do agronegócio subiu 3,81%.
No mesmo período, anual, segundo o IBGE, o PIB brasileiro total cresceu apenas
1,1%. O agronegócio empurrou a economia nacional.
Nesse 1º trimestre de 2020, o PIB do agronegócio continuou
crescendo, chegando a 3,29%, comparado com o mesmo período de 2019 (Cepea-USP).
Já o PIB nacional caiu 0,3% (IBGE). Esses dados indicam que está crescendo a
participação do agronegócio no PIB total do Brasil. Em 2019, o PIB do
agronegócio sobre o PIB brasileiro cravou 21,4%. Esta é a fatia da riqueza
brasileira gerada a partir da produção rural.
Mas, atenção: falar em “agronegócio” significa considerar
todo o complexo, ou seja, a soma das cadeias produtivas situadas antes, dentro
e depois da porteira das fazendas. E não a produção rural per si. É fundamental
entender esse ponto. A importância da agropecuária não se mede mais, como no
passado, apenas pela atividade econômica existente dentro das propriedades
rurais. O conceito de agronegócio é mais abrangente. Mais moderno e correto.
Na metodologia do Cepea-USP, o agronegócio está composto por
quatro segmentos produtivos relacionados entre si, cujas participações são
(2019): Insumos (rações, fertilizantes, máquinas, defensivos, medicamentos),
com peso de 6%; Primário (lavouras e pecuária), com peso de 22%; Indústria
(frigoríficos, lacticínios, usinas de açúcar, celulose, torrefação de café,
etc), com peso de 30%; e Agrosserviços (assistência técnica, transporte de
cargas, varejos, restaurantes, finanças, propaganda, exportação, etc), com peso
de 42%.
Resumindo, para fixar o conceito: a produção rural,
propriamente dita, representa apenas 22% do valor agregado do agronegócio. O processamento
industrial e os setores de serviços, relacionados ao agro, preponderam, com 72%
do agronegócio.
Percebam que exclusivamente o setor primário rural, aquele
praticado dentro das fazendas, tem baixa participação no PIB nacional, ao redor
de 4,7% (basta multiplicar 0,22 por 21,4%). Quando, todavia, considera-se a
somatória de atividades que dependem da produção rural, ou são por estas
movimentadas, fica claro que a agropecuária tecnológica dinamiza e multiplica a
renda de vários setores econômicos. Gera renda e empregos espalhados pelo país.
Esse raciocínio, fundamentado nas variáveis macroeconômicas,
vislumbra que o agronegócio poderá se tornar o maior negócio do Brasil. Fará
parte do modelo de desenvolvimento. Participará do núcleo da política
econômica.
Acreditem. Descubram. O agro é uma chave para o futuro.
Xico Graziano, engenheiro agrônomo, doutor em Administração, professor de MBA na FGV e membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS)