Debates
O meio ambiente está se reprogramando durante a Pandemia
Da Redação | 04 de junho de 2020 - 02:28
Dra. Daiane Garabeli Trojan
O mundo parou ou o mundo mudou? Certamente mudou e vai
continuar mudando. Se por um lado vemos a natureza se regenerando: redução
histórica do buraco na camada de ozônio, águas límpidas e povoadas por peixes
em Veneza, melhora da qualidade do ar na China e Estados Unidos em função da
relação antrópica do homem, desde suas vertentes de produção como turismo; por
outro, teremos contato com impactos ambientais de outra natureza, como aumento
na geração de resíduos sólidos domiciliares, assim como geração de resíduos
hospitalares envolvendo descarte correto de EPI`s muito acima do que entendíamos
como normal. Perceba que o ambiente está a todo momento se reprogramando para a
atividade humana e diante desta pandemia não será diferente.
É importante temos a percepção que o mundo, a vida e o
ambiente não serão mais os mesmos pós pandemia. Os hábitos de consumo, de
transporte, de comunicação mudaram. Alguns aprendizados nesse período não vão
retroceder, como as facilidades de deliverys, serviços à domicílios ou mesmo
possibilidades de home office. Isso impacta fortemente o meio ambiente.
A pandemia do coronavírus despertou um olhar sensível em
todas as áreas do conhecimento e de atividades econômicas. A educação mudou com
atividades remotas, a agricultura também, principalmente sobre a demanda de
produtos hortifrútis, assim como a indústria .A saúde avançou e provavelmente a
arquitetura de casas e de equipamentos públicos também venham a mudar, já que
estamos em fase de ressignificação da vida, de prioridades, de relações com
meio ambiente.
Aproveitando a comemoração do Dia Mundial do Meio Ambiente,
em 5 de junho, para lembrar que o meio ambiente é mais amplo que o prisma do
ambiente natural, e que envolve também patrimônios históricos, espaços urbanos
e o ambiente de trabalho. Nunca na história recente fomos tão carentes de
relações sociais, tão impactados emocionalmente pelo ambiente de trabalho e
saudosos do contato com a natureza em todas as suas formas.
Se relacionarmos os princípios de prevenção e precaução do
direito ambiental, entendemos que o isolamento tem sido uma medida extrema da
precaução, enquanto a ciência busca desenvolver a prevenção por meio de
vacinas. Saúde pública, saneamento, meio ambiente não podem receber, neste
momento, olhares diferentes, já que integram um mesmo sistema. A Constituição
Federal de 1988, também conhecida como Constituição Verde, nos garante “direito
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
Esse momento de pandemia que freia nosso ritmo de vida, deve proporcionar senão
uma mudança brusca de consumo, ao menos uma visão da relação íntima do homem e
a natureza, pela relação antrópica. Se não criarmos um novo normal para nossas
rotinas de vida e trabalho, não haverá meio ambiente como conhecemos hoje para
as gerações futuras.
Dra. Daiane Garabeli Trojan, engenheira agrônoma
e professora da Unopar Ponta Grossa com atuação forte em projetos de extensão
das áreas ambiental e social.