Debates
O AC/DC dos negócios
Da Redação | 20 de maio de 2020 - 02:14
Por Roberta Züge
Atualmente, qualquer cidadão que esteja minimamente
consciente conhece o novo Coronavírus. Falar em prevenção, contaminação,
infecção, isolamento, distanciamento social, taxas de crescimento e até o uso
correto de máscaras, são assuntos constantes em qualquer estrato social ou
educacional.
Pessoas sem nenhuma afinidade com a área de saúde discutem a
eficácia de tratamentos, uso de novos medicamentos, chegando até em máscaras
N95. Temas que antes eram mais comuns aos profissionais da saúde, viraram
discussões intermináveis, especialmente nas redes sociais, já que os contatos
pessoais estão muito limitados.
Mas, poucas são as certezas sobre o pós-corona. Uma das
previsões é que será intensificado uso de plataformas digitais. Essas
precisaram ser robustas em operacionalidades e devem permear distintos
serviços. Também devem permitir reuniões importantes, pois viagens a trabalho
serão realizadas apenas se realmente forem imprescindíveis. Supõe-se que nesse
novo cenário transforme o comércio online em um novo protagonista mundial.
Talvez, as lojas físicas se alterem para pontos de retirada de produtos e/ou em
macro distribuidores. Experimentar uma roupa ou algum sapato se tornará menos
comum. Menos tempo na loja pode significar menos contato físico, ou seja, menor
chance de contaminação.
Outro setor que deve repensar muito suas ações é o de
alimentos. Impende que os empresários comecem a empreender rapidamente sobre
tais demandas, não apenas no sentido de mitigar o problema, mas em
contingenciamento de medidas eficazes para prosseguir nesse ramo de atividade.
Pode-se analisar o que ocorreu na China, por exemplo: a Starbucks, uma rede de
cafeteria multinacional, estimou que as vendas naquele país devem cair cerca de
50% em relação ano anterior. A estimativa, antes da pandemia, era que teriam um
crescimento mínimo de 3%.
O momento deve ser de atenção e de trabalhos triplicados;
tentar desovar o que se está produzindo, ao mesmo tempo em que se buscam
informações e dados que possam subsidiar planos de negócios e reestruturação
das atividades fins. Para os que trabalham com alimentação, seja diretamente na
produção ou em contato com o consumidor final, vão precisar evidenciar cuidados
de higiene e sanidade. Devem transparecer ao consumidor que o produto é seguro.
E isso deve exigir também mais transparência em relação à rastreabilidade dos
produtos e dos procedimentos empregados.
O setor de alimentação também deve exigir mais robustez e
amistosidade na utilização dos sistemas digitais, afinal o consumidor está preocupado
com o alimento e seu tempo é igualmente preciso. Quem poderia imaginar que
haveria uma horda de pessoas lavando embalagens de arroz, feijão etc., assim
que chegassem em casa? Essas estarão seguras solicitando uma refeição por
aplicativos, ou se servindo num buffet de self-service? Aquele hambúrguer, com
vegetais frescos e crocantes, foi preparado com produtos higienizados
corretamente? A produção do campo foi feita sob critérios que mantenha a
sanidade dos alimentos?
Do mesmo modo que lojistas e empresários do setor de
restauração devem estar se preparando para novos desafios, da retomada do
consumidor aos centros comerciais, o setor de produção rural também deve buscar
ferramentas que garantam a rastreabilidade e sanidade dos seus produtos. A exportação
de alimentos, carro chefe que deve ser novamente o fiel da balança, também deve
olhar para esses requisitos.
Os olhares devem ser fixados no cliente, o que ele busca e como sanarmos suas angústias para atendê-los. Mais do que nunca, este é o momento de focar na solução, não apenas querer discutir responsáveis pelos problemas, eles estão postos. Vencerá aquele que se adaptar ao novo cenário. Teremos um segundo AC/DC: antes e depois do Coronavírus.
Roberta Züge; Diretora Administrativa do Conselho Científico
Agro Sustentável (CCAS); Diretora de Inteligência Científica
Milk.Wiki; Médica Veterinária Doutora pela Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP); Sócia da Ceres
Qualidade