Debates
Lula Livre é medo da verdade
Da Redação | 13 de novembro de 2019 - 01:35

Por
Inventou-se um controverso artifício, 6X5 no STF, para
soltar Lula. Ele, que alguns têm como o maior estadista do Brasil, deve estar com
um sentimento ambíguo: alegre por estar solto, triste por não reconhecerem o
que sua prisão significa.
Lula foi solto por uma divergência de entendimento entre uma
jurisprudência e o que reza a Constituição. O parecer de que ele estava preso
indevidamente prevaleceu por pouco. Faz pensar que o erro jurídico era uma
questão difícil, passível de equívoco.
Vamos a outra interpretação. Lula foi solto porque nossos
vizinhos sul-americanos, Chile, Argentina, Equador, Bolívia, Uruguai, estão
dando mostras que lá a população não aprova as mesmas medidas entreguistas que
estão sendo implantadas aqui. E pode revoltar-se ferozmente. É crescente o
temor que a população do Brasil acorde. A revolta explosiva depende de uma gota
d’água depois que o copo já está cheio: pode ser o aumento da tarifa do
transporte público, do combustível, o arrocho salarial, o desemprego. Mas o que
enche o copo d’água até que uma gota baste para transbordar?
No caso do Brasil, muitos eventos têm enchido o copo d’água.
A começar pelo injustificado golpe que depôs Dilma. A seguir veio a
questionável condenação de Lula, contestada por juristas internacionais de
renome, que apontaram falta de provas, facciosidade, atropelamento do processo
e motivação política. Depois a posse de Temer que traiu o programa que o
elegeu, e entregou o País à sanha transnacional. Depois a eleição de Bolsonaro
graças a crimes digitais que nunca foram devidamente apurados. Depois as
denúncias do laranjal do PSL que elegeu Bolsonaro. Depois as denúncias do The
Intercept Brazil comprovando o facciosismo da Lava Jato. Depois os indícios de
envolvimento da família Bolsonaro com milícias e o crime organizado. No meio de
tudo isso, as incentivadas queimadas na Amazônia, as trapalhadas diplomáticas
com parceiros comerciais importantes, a inépcia diante do derrame de óleo no
NE, os discursos de ódio, as mentiras, as frequentes declarações de autoridades
nacionais e internacionais de que temos um presidente que não está à altura do
cargo.
Tudo isso é mais que suficiente para encher o copo d’água.
Soltar Lula talvez dê a falsa impressão de que o copo não está tão cheio. Só
impressão. Porque se nos lembrarmos que durante essas trapalhadas todas o
desemprego, a concentração de renda e a miséria cresceram, a economia cambaleia,
não há investimento, direitos trabalhistas estão sendo aviltados, o pré-sal,
estatais de energia, de aviação e outras estão sendo rifados, a Petrobras e
grandes empreiteiras brasileiras foram sangradas gravemente, o povo brasileiro
está dividido, odiento e desorientado, então percebemos que já há água mais que
suficiente para transbordar.
Que o Brasil acorde para a verdadeira razão da soltura de
Lula: é confundir sobre a verdadeira razão de sua prisão. Que é a sabotagem de
um país que ensaiava assumir um protagonismo inadmissível para o poder
hegemônico mundial.
Mário Sérgio de Melo é Geólogo, Professor aposentado do Departamento de Geociências da UEPG