Vídeo mostra jovens suspeitos de estupro deixando mulher em lanchonete em Curitiba
Vítima relata não se lembrar como saiu de festa; Polícia Civil cumpriu mandados de busca nos endereços dos estudantes de medicina e arquitetura
Publicado: 08/09/2025, 14:57

Imagens registradas por câmeras de segurança e obtidas pela Banda B mostram dois estudantes universitários e um adolescente abandonando uma mulher em uma lanchonete de Curitiba, após suposto crime sexual ocorrido no início de agosto. A vítima, identificada como Susana Patrícia Aretz, relata não se lembrar de como saiu da festa em que esteve na cobertura de luxo no bairro Batel. O caso é investigado como crime sexual em concurso com furto qualificado. A mulher quis se identificar e participou de uma entrevista coletiva nesta segunda-feira (8).
De acordo com a Polícia Civil, dois estudantes universitários — de medicina e arquitetura — foram alvos de mandados de busca e apreensão na última quinta-feira (4) nos bairros Batel e Água Verde. “Durante a ação, foram apreendidos celulares, notebooks, outros aparelhos eletrônicos e objetos relacionados ao fato investigado”, explicou a delegada El Santos Freitas Cavalcanti.
Um dos vídeos mostra o trio estacionando um carro em frente a uma lanchonete de Curitiba por volta das 23h45 daquele sábado, 9 de agosto. Os três amigos desembarcam do veículo e dois deles se cumprimentam enquanto aguardam a saída de Susana. Em certo momento, ela desembarca do carro e deixa um cartão cair, o qual é pego por um dos estudantes e guardado no bolso.
Pouco depois, a vítima é vista abraçando um dos jovens e sendo fotografada. Logo em seguida, eles entram na lanchonete e retornam para ficar em uma área externa do estabelecimento. Oito minutos depois, Susana tenta entrar sozinha no automóvel, mas não consegue e aparece caminhando sem controle de equilíbrio. Exatos 12 minutos após a chegada do grupo à lanchonete, os suspeitos retornam rapidamente para o carro, deixando Susana para trás.
Ela percebe a movimentação e se dirige até o veículo. Ao tentar abrir a porta, os suspeitos dão marcha à ré, impedem a entrada da mulher e fogem. Susana tentou correr, mas não conseguiu entrar no carro. Ela permaneceu no local. Outras imagens registradas pela câmera de segurança da loja de conveniências de um posto de combustíveis mostram o trio fazendo compras e usando o cartão da mulher para pagá-las.
A reportagem apurou que Susana foi até uma farmácia logo após o episódio e recebeu ajuda de outras pessoas, que acionaram a Polícia Militar e descreveram que ela estaria sob efeito de “alguma substância”. As testemunhas relataram a fuga dos três jovens e revelaram que o celular dela também havia sido levado por eles, além do cartão bancário. Após ser socorrida por uma ambulância do Samu, ela foi levada para a UPA Boqueirão.

Extratos bancários obtidos pela Banda B apontam que os amigos gastaram R$ 293,55 em dois postos de combustíveis no intervalo de 17 minutos. A Polícia Civil não informou se o cartão e o celular de Susana foram localizados durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão nos endereços ligados aos suspeitos.
Segundo Igor José Ogar, advogado de Susana, os amigos “comemoraram um ato criminoso” contra a vítima. Ele participou de entrevista coletiva nesta segunda-feira (8), acompanhando a vítima e detalhando as ações da defesa e da investigação.
“Isso dali é um verdadeiro descaso com a minha constituinte, com a vítima. Um verdadeiro descaso. Em dado momento, eles comemoram se cumprimentando. Isso está no vídeo, uma nítida e clara comemoração. A defesa tem total repúdio àquelas cenas. Todos nós ficamos atônitos com o que vimos”, disse Igor Ogar.
CASO - Tudo começou em uma festa anual de luxo, localizada em uma cobertura no bairro Batel. Susana foi convidada por um amigo, mas não conhecia os estudantes que a acompanharam após o evento. De acordo com relatos da vítima e do advogado, Susana teria sido colocada em estado de vulnerabilidade, possivelmente pelo uso de drogas ou álcool, ainda que ela tenha consumido bebidas em quantidade moderada.

“Por várias vezes ela cambaleia e quase cai ao chão. É uma pessoa que não tem resposta nem reflexo a nada. Então, por essa razão, ela merecia respeito”, afirmou Igor Ogar. A vítima disse que não se lembra de como entrou no carro dos suspeitos nem como chegou à lanchonete, apenas tem vaga lembrança do trajeto e de alguns eventos posteriores.
“Muitos daqueles fatos, mesmo registrados em imagens, ela não tinha conhecimento, não se recordava e também não sabia”, acrescentou Ogar. Ele também revelou que a defesa realizou levantamentos investigativos próprios, conversou com proprietários de estabelecimentos e conseguiu acompanhar toda a movimentação dos suspeitos.
Sobre o possível episódio de violência sexual, o advogado destacou que o estupro de vulnerável independe de conjunção carnal: “Um ato libidinoso, involuntário, quando a vítima está sob efeito de drogas, psicotrópicos ou bebida que retirem sua plena consciência, é considerado estupro, segundo a lei.”
As investigações apontam que dois dos jovens responderão criminalmente, enquanto o adolescente poderá responder por ato infracional análogo aos mesmos crimes.

CONSTRANGIMENTO - Susana relatou que se sente constrangida com a exposição do caso, principalmente por ter uma filha de 12 anos, mas confia na Justiça e no advogado. “É muito constrangedor. A questão das imagens eu já tinha visto antes. Depois de uma grande investigação, foi entendido. […] Confio na Justiça e no Igor”, disse.
O advogado reforçou que o status social e econômico dos suspeitos não será barreira para responsabilizá-los. “O escudo que outrora serviu para amparar criminosos, da classe social superior e condição econômica avantajada, não vai proteger essas pessoas. Vamos promover, junto ao Ministério Público, uma acusação condigna a todos os atos que praticaram”, afirmou Ogar.
Segundo o advogado, há a hipótese de a mulher ter sido dopada pelo trio. “Eu não lembro nem como eu desci, se eu desci pelo elevador, se eu desci pela escada… Por onde foi”, afirmou Susana, que destacou não ter bebido em excesso. “Eu estava bem controlada”, concluiu.
PRÓXIMOS PASSOS - A investigação segue em segredo de Justiça, mas já envolve levantamento telemático dos celulares dos suspeitos, análise de imagens de drones do evento e depoimentos de testemunhas.
Com informações de: Banda B, parceiro do Portal aRede.