'Farra do INSS': saiba quem é o deputado alvo de operação da Polícia Federal | aRede
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'Farra do INSS': saiba quem é o deputado alvo de operação da Polícia Federal

Político é considerado porta-voz da Conafer, entidade investigada por esquema de fraude

Euclydes Pettersen (Republicanos) enviou uma nota à coluna dizendo que nunca teve qualquer vínculo com o INSS
Euclydes Pettersen (Republicanos) enviou uma nota à coluna dizendo que nunca teve qualquer vínculo com o INSS -

Publicado por Lilian Magalhães

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O deputado federal Euclydes Pettersen (Republicanos-MG) é alvo de mandado de busca no âmbito da nova fase da Operação Sem Desconto, deflagrada nesta quinta-feira (13) pela Polícia Federal, em parceria com a Controladoria-Geral da União (CGU).

Pettersen é considerado porta-voz político da Conafer. A coluna mostrou que ele vendeu uma aeronave para o presidente do Instituto Terra e Trabalho (ITT), ONG ligada à Conafer, ao mesmo tempo que enviou emendas parlamentares para a entidade. A verba enviada por ele ao ITT foi parar em empresa ligada à própria Confederação, a partir de um esquema de fraude à licitação.

Recentemente, a aeronave passou para o nome de um laranja, um secretário da Conafer que há quatro anos era beneficiário do Auxílio Emergencial e, hoje, mora na periferia de Brasília.

Inicialmente, Euclydes Pettersen enviou uma nota à coluna dizendo que nunca teve qualquer vínculo com o INSS, seus dirigentes ou decisões administrativas. Afirmou ainda que não tem relação ilícita com a Conafer e nunca participou da gestão da entidade.

Em seguida, enviou uma nota complementar, dizendo que toda operação representa, para alguns, um fim, e para outros, uma libertação.

“Já fui alvo de duas operações: em uma delas, fui absolvido, e na outra, o Judiciário sequer recebeu a denúncia, por falta de provas que comprovassem qualquer prática criminosa”, escreveu. “Deixo claro que apoio integralmente o trabalho das autoridades competentes e me coloco à inteira disposição para prestar todos os esclarecimentos necessários. Acredito na justiça, na verdade e na importância das investigações sérias, conduzidas dentro da legalidade e com total transparência”, prosseguiu Pettersen.Entenda a venda da aeronave de deputado para presidente de ONG ligada à Conafer

No total, Euclydes Pettersen enviou duas emendas para o ITT. O primeiro empenho ocorreu em outubro de 2022, no valor de R$ 1,5 milhão. Já a segunda emenda, de R$ 1 milhão, foi enviada em dezembro de 2023. Ambas tinham como objeto a realização de capacitação de agricultores e inseminação de gados bovinos em Minas Gerais.

Entre as duas movimentações, no entanto, o parlamentar vendeu uma de suas aeronaves para o presidente do ITT, Vinícius Ramos da Cruz.

O Cessna Aircraft, modelo 172RG e prefixo PR-ATM, havia sido comprado por Euclydes Pettersen e um sócio em janeiro de 2021. O valor total da compra foi de R$ 320 mil. Dois anos depois, em março de 2023, o deputado e o sócio venderam o avião para Vinícius Ramos da Cruz por R$ 400 mil.

Já em junho de 2025, houve nova transferência de propriedade do jatinho, desta vez por R$ 700 mil, para Silas da Costa Vaz. Ele é secretário da Conafer e, durante a pandemia da Covid-19, recebeu R$ 4.050 em auxílio emergencial, benefício que foi pago a famílias de baixa renda em razão da crise econômica causada pelo vírus.

Funcionário da Conafer há 10 anos, Silas Vaz mora com a família e uma casa no Recanto das Emas, região com uma das menores rendas per capita do Distrito Federal, o que reforça indícios de se tratar de um laranja. Em conversa com a coluna, o secretário da Conafer afirmou que nunca comprou aeronave e que não sabe dizer por que os aviões estão no nome dele. “Eu não me lembro [de ter assinado qualquer documento]. Toda hora eu assino documentos”, declarou.

Questionado à época da reportagem, Euclydes Pettersen admitiu que tem relação com a Conafer e com o ITT, mas que não poderia responder pelos prestadores de serviço e pela licitação tocada pela entidade. “Sobre os prestadores de serviço, eu não tenho conhecimento, quando indicamos o recurso fica a responsabilidade do instituto direto com o ministério para aprovação do plano de trabalho. Como eu disse, esse plano de trabalho é apresentado diretamente ao ministério para as devidas fiscalizações necessárias para aprovação.”

Aos 41 anos, Pettersen é também presidente do partido Republicanos em Minas Gerais. O parlamentar está em seu segundo mandato na Câmara dos Deputados.

COMO A ONG DA CONAFER FRAUDOU LICITAÇÕES? - As emendas de Euclydes Pettersen foram enviadas por meio de convênios ao Instituto Terra e Trabalho. Nessa modalidade, a própria ONG realiza as licitações e subcontrata empresas para a execução do objeto.

No entanto, indícios levantados pela coluna apontam que as licitações foram fraudadas por meio de simulações de propostas, e uma empresa ligada à própria Conafer foi subcontratada, recebendo mais de R$ 2,1 milhões.

A companhia beneficiada pela fraude é a Agropecuária PKST LTDA, representada por Ingrid Pikinskeni Morais Santos, sócia e mulher de Cícero Marcelino de Souza Santos, que, por sua vez, é apontado pela PF como assessor do presidente da Conafer, Carlos Roberto Ferreira Lopes.

Segundo dados da Receita Federal, a Agropecuária PKST foi fundada em março de 2022, sete meses antes de Euclydes Pettersen destinar a primeira emenda ao ITT.

Para ganhar os subcontratos, a Agropecuária PKST simulou licitações com empresas também ligadas ao núcleo da Conafer. Uma das “concorrentes fake” foi a Agropecuária e Mineração Lagoa Alta LTDA, que pertence a Bruna Braz de Souza Santos Lopes, esposa de Carlos Lopes, o presidente da entidade.

Em uma outra licitação, a Agropecuária PKST concorreu com a Ala Genetics, cujo CNPJ e nome presente no carimbo da suposta proposta é justamente o da Agropecuária e Mineração Lagoa Alta.

No total, a empresa obteve três subcontratos no âmbito dos dois convênios. O objeto dos acordos é a realização de inseminações artificiais de bovinos e capacitação de produtores rurais. O ITT ainda não realizou a prestação de contas dos convênios.

Em maio, a Polícia Federal cumpriu dois mandados de busca e apreensão contra Ingrid Pikinskeni e Cícero Marcelino, no âmbito da segunda fase da Operação Sem Desconto, que investiga o esquema de descontos indevidos na aposentadoria e pensão de segurados do INSS. A ação foi realizada em Presidente Prudente (SP).

Relatório da PF aponta movimentações suspeitas envolvendo as empresas do casal e a Conafer. “Como analisado, vultosas somas são enviadas diretamente pela Conafer para Cícero Marcelino, Ingrid Pikinskeni e suas empresas, sendo que, posteriormente, o dinheiro aparenta circular pelas diversas empresas do grupo. Esses fluxos sugerem um mecanismo de dispersão de recursos por meio de entidades e empresas controladas por indivíduos ligados à associação e ao esquema. A origem desses recursos, que passaram por diversas associações e empresas, portanto, levanta suspeitas de lavagem de dinheiro”, diz a PF.

NOVA FASE DA OPERAÇÃO - Ao todo, polícia federais e auditores da CGU cumprem 63 mandados de busca e apreensão, 10 mandados de prisão preventiva e outras medidas cautelares diversas da prisão. As ordens judiciais foram expedidas pelo ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Dentre os presos também estão três pessoas ligadas à Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer), entre eles Cícero Marcelino, e o presidente do Instituto Terra e Trabalho (ITT), Vinícius Ramos da Cruz. A confederação é uma das entidades envolvida na Farra do INSS.

Os mandados são cumpridos nas seguintes unidades da Federação: Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins.

O QUE DIZ O DEPUTADO - “Recebo a ação com serenidade e respeito às instituições. Reitero que nunca tive qualquer vínculo com o INSS, seus dirigentes ou decisões administrativas. Sobre a CONAFER, reafirmo o que já disse em plenário: não tenho relação ilícita com a entidade e nunca participei de sua gestão. Defendo investigações rigorosas e confio plenamente na Polícia Federal, no MPF e no STF. Estou à disposição para todos os esclarecimentos e certo de que a verdade prevalecerá”.

Com informações de Metrópoles.

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