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Tarifaço dos EUA coloca em risco R$ 1,5 bi em exportações agro do PR

Os efeitos já começaram a ser sentidos na região dos Campos Gerais

Diversos setores do agro estadual já sentem o efeito da medida, que começa a valer dia 1º de agosto
Diversos setores do agro estadual já sentem o efeito da medida, que começa a valer dia 1º de agosto -

Publicado por João Victor

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A pouco dias do início da aplicação de tarifas de 50% pelos Estados Unidos sobre todos os produtos brasileiros, com vigência a partir de 1º de agosto, as agroindústrias e o setor rural paranaense esperam um terremoto nas operações. Isso porque diversos setores do agronegócio estão na lista de produtos da pauta de exportação paranaense para o país norte-americano. Os produtos florestais, no qual o Paraná se destaca no cenário nacional, café, piscicultura, carne bovina e laranja deverão ser os mais impactados.

Em 2024, os Estados Unidos foram o segundo principal parceiro comercial do Paraná, importando o equivalente a US$ 1,587 bilhão em produtos da agropecuária. No primeiro bimestre deste ano, o país norte-americano ficou como o terceiro principal destino das exportações paranaenses, totalizando US$ 214 milhões. Ou seja, o mercado comandando pelo presidente Trump não é apenas ocasional, mas um pilar fundamental na estratégia comercial do Estado.

“O Sistema FAEP está atento às possíveis consequências dessa medida. Estamos a poucos dias do início do tarifaço, mas o governo federal não abriu, em momento algum, um canal de negociação, buscando preservar nossos acordos comerciais e minimizar os impactos sobre quem trabalha no campo. Isso é preocupante”, aponta o presidente interino do Sistema FAEP, Ágide Eduardo Meneguette. Desde 2009, os EUA são superavitários na relação comercial com o Brasil.

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Com forte dependência do mercado norte-americano, o setor florestal do Paraná será o mais impactado pela tarifa imposta pelos Estados Unidos. O Estado já sente os efeitos da medida, com contratos cancelados, embarques suspensos, contêineres retidos em portos, férias coletivas forçadas e demissões em indústrias do ramo. Além disso, empresas reduziram suas operações para rever estratégias, com risco iminente de fechamento de unidades.

Segundo a Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (Apre), a nova tarifa é inesperada e desproporcional, comprometendo a competitividade do setor, e afeta diretamente a renda de pequenos e médios municípios paranaenses.

“Essa taxação praticamente inviabiliza os negócios e, como consequência [disso], milhares de empregos e famílias estão ameaçados”, afirma o presidente da entidade, Fabio Brun, em manifesto. De acordo com a Apre, o setor florestal emprega cerca de 400 mil pessoas no Paraná, abrangendo desde a base produtiva até as indústrias de transformação. Apenas em 2024, o Paraná vendeu mais de US$ 681 milhões em produtos florestais para os Estados Unidos, sendo US$ 627 milhões em madeira – o que representa cerca de 60% do total comercializado pelo Brasil. O Estado se destaca especialmente nas exportações de compensado, madeira serrada e molduras de pinus, amplamente utilizadas na construção civil norte-americana, além de portas, painéis e móveis de madeira.

No caso das molduras de madeira, o Paraná responde por quase 70% das exportações brasileiras, sendo que quase a totalidade desse volume (98,4%) tem os Estados Unidos como destino. Já no compensado de pinus, o Estado é responsável por cerca de 68% das exportações nacionais, e novamente os EUA aparecem como principal comprador, com 31,7% do total. Com a sobretaxa de Trump, a competitividade desses produtos no mercado internacional será drasticamente comprometida.

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Até o momento, três indústrias paranaenses já anunciaram medidas que afetam diretamente trabalhadores do setor. Em comum, todas têm o mercado norte-americano como principal destino das exportações.

A BrasPine, que atua fortemente na produção de molduras para exportação, concedeu férias coletivas para 1,5 mil funcionários, equivalente a 60% do quadro total. A medida atinge as unidades de Jaguariaíva e Telêmaco Borba, na região dos Campos Gerais. Segundo a empresa, após o anúncio da taxação, “uma quantidade significativa de pedidos” foi suspensa ou adiada.

Na Millpar, de Guarapuava – segunda maior empresa do setor no Brasil e terceira na América Latina –, 640 funcionários ligados à manufatura de produtos exportados foram incluídos nas férias coletivas, o que representa 58% do total. Além disso, houve redução nas operações, visando ajustar a produção à nova dinâmica temporária do mercado internacional. Outra gigante do setor, a Sudati anunciou a demissão de 100 colaboradores nas unidades de Ventania e Telêmaco Borba, devido à insegurança gerada pela tarifa de 50%. As duas unidades afetadas produzem compensados.

No momento, redirecionar a produção florestal paranaense para outros mercados não é uma alternativa viável no curto ou médio prazo. O setor está atrelado ao perfil de consumo dos Estados Unidos, onde a madeira brasileira é utilizada tanto na movelaria quanto na geração de energia.

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A aplicação da tarifa deve gerar um efeito colateral imediato: sobrecarga no mercado interno, que não tem capacidade de absorver esse volume de produção, especialmente no Paraná. “A madeira produzida aqui dificilmente tem outra saída. O Estado é ainda mais refém, porque boa parte dessa produção não encontra espaço no mercado interno”, afirma Anderson Sartorelli, técnico do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP.

CAFÉ- Os norte-americanos são os maiores consumidores de café do mundo e, hoje, dependem do grão brasileiro para atender à alta demanda pela bebida. O Brasil é o principal fornecedor ao país, responsável por 34% do volume importado pelos Estados Unidos. A eventual ausência do produto brasileiro comprometeria a viabilidade da cadeia norte-americana, pressionando ainda mais os preços ao consumidor.

A Colômbia, segundo maior produtor de arábica – variedade preferida dos Estados Unidos –, não tem capacidade para suprir a lacuna deixada pelo Brasil. Por outro lado, os exportadores brasileiros e paranaenses buscariam novos mercados para mitigar os impactos, com atenção voltada à Ásia e América Latina.

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Embora represente uma fatia pequena nas exportações totais de café, o Paraná vinha ganhando espaço com o café solúvel, produto de maior valor agregado que tem nos Estados Unidos seu principal mercado.

Além do café commodity, os EUA também são o principal destino dos cafés especiais brasileiros, que representaram 22% das exportações em 2024. O Paraná, que tem se destacado na produção desse tipo, será afetado pelo efeito cascata, impactando a remuneração e desestimulando produtores locais.

“É uma relação histórica de compra de café. O consumidor norte-americano dificilmente deixará de consumir, mesmo com aumento de preços, o que sustentaria o valor agregado da cadeia produtiva. A expectativa é que o mercado se acomode. Mas haverá impacto: o exportador vai receber menos, o produtor também e o consumidor final vai pagar mais”, avalia Jefrey Albers, gerente do Departamento Técnico e Econômico do Sistema FAEP.

PISICULTURA - A piscicultura, em especial a produção de tilápia, segmento no qual o Paraná se destaca nos cenários nacional e internacional, será uma das atividades mais afetadas pelo tarifaço. Isso porque o principal destino do pescado paranaense é os EUA.

Em 2024, os Estados Unidos foram o destino de 89% das exportações brasileiras da piscicultura, totalizando US$ 52,3 milhões. No Paraná, entre 2023 e 2024, as exportações cresceram 94% em valor e 68% em volume. O Estado foi o maior exportador brasileiro de tilápia em 2024, obtendo receita de US$ 35,7 milhões, representando uma fatia de 64% do total nacional.

O Estado é responsável por 36% da produção nacional de tilápia e de 25% de toda a produção de peixes do país. Apesar de estar em crescimento, essa cadeia econômica ainda é bastante incipiente e será impactada de forma mais severa. “Diferentemente das cadeias de aves, suínos e grãos, a da tilápia ainda está em formação. Trata-se de uma atividade com forte presença da agricultura familiar e altamente endividada, que buscou dinheiro em instituições financeiras para adequar as propriedades as questões sanitárias, técnicas e trabalhistas”, destaca o presidente da Comissão Técnica de Aquicultura do Sistema FAEP, Edmilson Zabott, que também é presidente do Sindicato Rural de Palotina, no Oeste do Paraná. A região, onde há forte presença de cooperativas, concentra 85% da produção do Estado com 180 mil toneladas anuais do pescado.

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SUCO DE LARANJA - Apesar de a União Europeia liderar as importações de suco de laranja brasileiro (51,4%), os Estados Unidos aparecem em segundo lugar nessa lista. Os norte-americanos são o destino de 41,7% do volume exportado nos últimos 12 meses pelo Brasil, conforme dados da CitrusBR. Diante desse cenário, o tarifaço representa uma ameaça direta à estrutura de fornecimento global, com reflexos no Paraná.

Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), as exportações paranaenses de suco de laranja aumentaram 345% no primeiro semestre de 2025, em relação ao mesmo período do ano anterior, alcançando US$ 4,76 milhões.

O município de Paranavaí, no Noroeste do Estado, é um dos polos mais impactados. Apenas no primeiro semestre de 2025, o município exportou US$ 10,9 milhões em suco de laranja ao mercado norte-americano. “Não sabemos como a tarifa será operacionalizada ou qual o critério de cálculo. Também estamos na expectativa de como será a reação das empresas norte-americanas”, afirma o empresário Paulo Pratinha.

Hoje, o suco brasileiro já paga uma taxa de US$ 415 por tonelada, o que representa entre 15% a 20% do preço final. Se a nova taxação se somar a esse valor, os tributos podem atingir até 70% do valor da exportação. Mesmo que os consumidores norte-americanos aceitem pagar mais caro, o exportador vai receber menos, bem como o produtor rural. “Haverá necessidade de acomodar essa tarifa, independentemente do percentual, entre os elos da cadeia, dada a dependência de importação dos EUA”, complementa.

Segundo o empresário, o grau de dependência dos EUA pelo suco de laranja é elevado, principalmente do Brasil e do México – que também está na lista de sobretaxação, com uma tarifa de 30%. No entanto, a produção mexicana vem sofrendo retração por questões sanitárias, o que deve aumentar ainda mais a dependência dos EUA pelo produto brasileiro. “Com os dois principais fornecedores sobretaxados, os norte-americanos não têm alternativas viáveis. O grau de dependência deles é grande, e isso vai afetar não só o consumidor, mas toda a cadeia industrial que agrega valor ao nosso produto lá”, observa o empresário.

CARNE BONIVA - No caso da carne bovina, a expectativa é que a decisão norte-americana não traga impactos diretos. No Paraná existe apenas uma planta, localizada na região Noroeste, que exporta para esse destino. “O Paraná pode ser afetado com algum efeito colateral. Mas nas suas indústrias não teria um impacto significativo”, avalia o presidente executivo do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Paraná (Sindicarnes), Ângelo Setim Neto. “Não houve paralisação de abates no Estado. Nosso mercado continua existindo e absorvendo a produção”, complementa.

Apesar disso, o tarifaço pode interromper um processo virtuoso das exportações paranaenses. Na comparação entre o primeiro semestre de 2024 e o mesmo período de 2025, a participação da carne bovina paranaense nos embarques para os EUA aumentou 180% em valores, passando de US$ 1,6 milhão para US$ 4,7 milhões.

Outros produtos da produção bovina também impactam o número de abates. Couros, produtos de couro e peleteria (produtos com pele de animais) também estão entre os principais produtos paranaenses exportados para os EUA. No primeiro semestre desse ano a receita com a exportação desses itens foi de US$ 19,9 milhões. “O couro foi bem afetado. Isso vai refletir no boi. A receita da indústria frigorífica na aquisição do boi não é influenciada apenas pela carne, mas pelo couro e outros produtos também” analisa Santin.

Com infromações: Agência de Notícias do Sistema FAEP

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