Número de fumantes no Brasil aumenta pela primeira vez em 20 anos
Popularidade dos cigarros eletrônicos entre jovens desafia conquistas históricas de combate ao tabagismo e ao uso de vape no país
Publicado: 02/06/2025, 03:00

Dados divulgados pelo Ministério da Saúde devido ao Dia Mundial Sem Tabaco, lembrado neste sábado (31/5), revelam que o número de fumantes no Brasil cresceu 25% em 2024, voltando ao patamar de 2012. É a primeira vez, nos últimos 20 anos, que o número sobe acima das margens de erro, e a culpa pode ser dos vapes.
O número de fumantes, que em 2023 era de 9,3% dos adultos, chegou a 11,6% segundo os dados mais recentes do governo. O hábito é mais comum entre homens (13,8%), mas que também tem crescido entre as mulheres (9,8%).
Especialistas ouvidos pelo Metrópoles indicam que um dos grandes responsáveis pelo avanço do tabagismo no país é o cigarro eletrônico. Apesar de serem proibidos, os vapes circulam amplamente, atraindo especialmente adolescentes, com sabores e formatos chamativos que mascaram sua toxicidade.
“A introdução do cigarro eletrônico trouxe um risco real à saúde pública do país, e esses resultados podem nos acompanhar muito tempo, especialmente porque jovens são os mais suscetíveis ao início do vício”, diz o pneumologista Ricardo Amorim, presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).
PROBLEMAS PROLONGADOS - Doenças pulmonares crônicas: são comuns casos que incluem bronquite crônica e enfisema, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e fibrose pulmonar.
Problemas cardiovasculares: o consumo frequente causa aumento da pressão arterial e frequência cardíaca, maior risco de infarto do miocárdio e AVC e danos nos vasos sanguíneos.
Efeitos neurológicos: usar vape por muito tempo causa dependência da nicotina, alterações no cérebro em desenvolvimento, aumento da ansiedade e irritabilidade.
Risco de câncer: a exposição a substâncias presentes no vape podem levar ao desenvolvimento de cânceres.
Doença pulmonar associada ao uso de produtos de cigarro eletrônico (EVALI, em inglês): lesão pulmonar causada pelas substâncias contidas no vape e que pode deixar sequelas permanentes.
NOVA GERAÇÃO DE DEPENDENTES - Estudos recentes indicam que mais de 25% dos estudantes brasileiros do ensino médio já experimentaram cigarros eletrônicos. O apelo visual e os sabores variados tornam o dispositivo atrativo, escondendo a presença de doses de nicotina até 120 vezes maiores que as do cigarro comum.
“É muito provável que estejamos formando uma nova geração de tabagistas pelo alto potencial viciante destes dispositivos”, alerta o pneumologista Rafael Rodrigues de Miranda, professor do Grupo MedCof, de formação de médicos para a residência.
Para Miranda, assim como para as outras fontes ouvidas, o crescimento descontrolado ameaça a posição do Brasil como farol internacional das campanhas antitabagismo. “O Brasil ainda é referência mundial no controle do tabagismo. No entanto, esse status está sendo desafiado por novas ameaças, como os dispositivos eletrônicos para fumar, fazendo com que, infelizmente, tenhamos um aumento no número de tabagistas”, diz.
AMEAÇAS AO EXEMPLO BRASILEIRO - No Brasil, a partir da década de 1990, uma série de políticas públicas eficazes, como a proibição da propaganda de cigarro, a adoção de advertências nos maços, o aumento de impostos e a criação de ambientes livres de fumaça, levou a uma progressiva queda do consumo de cigarro.
O uso dos vapes, porém, escapou dessas medidas por não ser percebido por boa parte da população como um cigarro e por não conter tabaco. No início de sua história, há 10 anos, acreditava-se que eles eram menos nocivos, o que hoje se sabe que é mentira.
“Os dispositivos eletrônicos estão associados a riscos significativos para a saúde cardiovascular e pulmonar. Embora contenham cerca de 50 substâncias cancerígenas, em comparação com as mais de 5 mil encontradas nos cigarros tradicionais, ainda é cedo para afirmar que oferecem menor risco de câncer. Além disso, há o risco de uma condição pulmonar grave e específica relacionada ao uso desses dispositivos: a evali (lesão pulmonar associada ao uso de cigarros eletrônicos ou produtos de vaping)”, resume a pneumologista Sandra Guimarães, pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Com informações do Metrópoles.