Ataques aéreos entre Índia e Paquistão deixam mortos e feridos na madrugada
Os ataques de ambos os lados ocorreram da noite de terça-feira (6) para quarta-feira (7)
Publicado: 07/05/2025, 08:42

Depois de muitas ameaças de ambos os lados, a tensão entre a Índia e o Paquistão atingiu outro nível na noite de terça-feira (6) para quarta-feira (7), quando os exércitos das duas potências nucleares partiram para o ataque. Nova Déli lançou ofensivas ao país vizinho, que retaliou com fogo de artilharia na região fronteiriça da Caxemira e abateu cinco caças indianos. Os bombardeios mataram pelo menos 26 pessoas do lado paquistanês e 12 do lado indiano, no confronto militar mais sério entre os dois países em duas décadas.
De acordo com informações da correspondente da RFI Sonia Ghezali, ataques aéreos indianos atingiram várias cidades na Caxemira administrada pelo Paquistão, bem como Muridke, Sialkot, Shakargarh e Bahawalpur, na província do Punjab. Os alvos eram mesquitas, casas e um posto de saúde.
Um ataque covarde e injustificado, denunciou Islamabad, através de seu porta-voz, prometendo uma resposta forte. "As Forças Armadas paquistanesas, com total apoio da população, estão respondendo completa e energicamente à agressão inimiga. Uma resposta firme será dada a este ato de agressão, especialmente por ter como alvo civis inocentes e desarmados", disse o porta-voz militar. O exército paquistanês afirma ter abatido cinco caças indianos e um drone.
Todos os hospitais da região estão em alerta. Trocas de fogo de artilharia pesada ocorrem desde a noite passada ao longo da fronteira, desencadeando imediatamente propostas de mediação por parte de Pequim e Londres, enquanto a ONU, Moscou, Washington e Paris pediram moderação.
Durante esses ataques, "nove campos terroristas (...) foram destruídos", disse a tenente-coronel Vyomika Singh, porta-voz do exército indiano.
Os mísseis indianos que caíram sobre seis cidades na Caxemira paquistanesa e no Punjab e a troca de tiros que se seguiu ainda deixaram 46 feridos, disse o tenente-general Ahmed Chaudhry, porta-voz do exército de Islamabad. Esses tiros também danificaram a barragem hidrelétrica de Neelum-Jhelum, ele acrescentou.
A Índia relatou 38 feridos no vilarejo de Poonch (noroeste), na Caxemira, durante disparos de artilharia. O confronto que começou durante a noite, continuou pela manhã ao redor da cidade, que foi alvo de vários projéteis paquistaneses.
SOB FOGO CRUZADO - A RFI ouviu Ghulam Mohayyudin Bukhari, de 36 anos, morador de Bahawalpur, no Punjab, onde a Índia atacou ontem à noite. A explosão aconteceu a poucos quilômetros da casa dele.
"Houve uma grande explosão. Era noite. Houve tantas explosões que imediatamente corremos para o telhado. Vimos uma luz laranja que rapidamente se tornou vermelha diante dos nossos olhos. Cerca de cinco segundos depois, ouvimos outra explosão e as pessoas começaram a sair correndo das suas casas. Depois do que aconteceu ontem à noite e da situação atual, todo mundo está assustado. Ao mesmo tempo, estamos prontos para enfrentar qualquer situação".
Do outro lado, da fronteira, na Índia, a RFI entrevistou Bilal Ahmad, de 35, morador de Karnah, ao norte da Caxemira. Ele contou sobre os confrontos que ouviu durante a noite na sua casa e a destruição na região.
"Vivemos com medo de confrontos. Quando o nosso exército indiano interveio à 1h da manhã, fomos tomados pelo terror. Barulhos ensurdecedores de foguetes nos acordaram. Olhando as mídias sociais, entendemos que o exército atacou finalmente o Paquistão. Depois disso, ficamos em casa. O tiroteio era intenso dos dois lados, só ouvíamos explosões por toda a parte a parte, sem coragem de sair.
De manhã, notamos os danos na nossa área. Em cada aldeia, pelo menos duas ou três casas foram queimadas e veículos foram danificados pelo fogo de retaliação do Paquistão. Nunca havíamos visto isso em nossas vidas. Agora teremos que conviver com esse medo da guerra. Meu pai morreu em 2003 por um bombardeio semelhante vindo do Paquistão".
REGIÃO EM DISPUTA - As tensão entre os dois países aumentou após um atentado de homens armados, em 22 de abril, na parte da Caxemira administrada pela Índia, que causou 26 mortes. Nova Déli acusou Islamabad de estar por trás da ação, o que o país islâmico nega. O atentado não foi reivindicado até hoje.
Vários porta-vozes alegaram ter evidências de que os autores dos ataques na Caxemira estavam ligados a uma rede terrorista sediada no Paquistão, conforme relata o correspondente da RFI em Bangalore, Côme Bastin. Nova Delhi tem criticado Islamabad por sua falta de cooperação na luta contra grupos insurgentes transfronteiriços.
A Caxemira é uma região de maioria muçulmana dividida entre Índia e Paquistão, disputada por ambos os países desde que se tornaram independentes do Reino Unido, em 1947.
Em uma breve declaração, o governo indiano informou que suas forças haviam atingido "infraestruturas terroristas no Paquistão [...] de onde foram organizados e dirigidos ataques terroristas contra a Índia".
O governo paquistanês anunciou a convocação de uma reunião, nesta quarta-feira, do Comitê de Segurança Nacional, composto por responsáveis civis e militares e mobilizado apenas para situações extremas. "O Paquistão se reserva o direito absoluto de responder de forma decisiva a este ataque indiano não provocado. Uma resposta firme já está em andamento", advertiu o primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif.
A ONU pediu "moderação máxima" a ambas as partes e advertiu que "o mundo não pode permitir um confronto militar entre Índia e Paquistão", afirmou Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral António Guterres.
O governo britânico disse estar "pronto" para intervir a fim de "acalmar" a situação entre a Índia e o Paquistão. "Tudo o que pudermos fazer em termos de diálogo e redução da tensão, estamos prontos e aptos a fazer", disse o secretário de Comércio britânico, Jonathan Reynolds, à BBC.
Em resposta a uma grande escalada dos dois países com armas nucleares que fazem fronteira com a China, Pequim declarou estar pronta a intervir na redução das tensões entre o Paquistão e a Índia. "Estamos prontos para trabalhar com a comunidade internacional e continuar a desempenhar um papel construtivo para aliviar as tensões atuais", disse o porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Lin Jian, em uma coletiva de imprensa.
Com informações do Terra!