Estudo em Israel traz descoberta de 780 mil anos sobre a alimentação humana

Um novo estudo arqueológico no norte de Israel está mudando como se entende a dieta ancestral dos primeiros humanos. Pesquisadores descobriram que, ao contrário do que se acreditava, os hominídeos dependiam fortemente de alimentos vegetais, e não somente de proteína animal.

A descoberta foi feita ao longo do Rio Jordão, ao sul do Vale do Hula, e revela uma dieta ancestral variada, com destaque para bolotas, cereais, leguminosas e plantas aquáticas.

O estudo foi publicado nos Anais da Academia Nacional de Ciências. Ele analisou grãos de amido encontrados em ferramentas de basalto com cerca de 780 mil anos. Essas ferramentas estavam em um assentamento pré-histórico próximo de Gesher Benot Ya’akov.

O local já é conhecido por suas evidências arqueológicas extensas. São mais de 20 camadas de ocupação humana, além de ossos fossilizados de animais e restos de plantas como sementes e frutos.

A pesquisa fez parte do doutorado do Dr. Hadar Ahituv, que atuava no Departamento Martin (Szusz) de Estudos da Terra de Israel e Arqueologia da Universidade Bar-Ilan. Atualmente, ele trabalha no Laboratório de Tecnologias de Processamento de Alimentos Antigos (LAFPT), do Instituto Zinman de Arqueologia, ligado à Universidade de Haifa.

O projeto contou com especialistas de diferentes instituições. Entre eles estão a Profa. Nira Alperson-Afil e o Dr. Yoel Melamed, da Universidade Bar-Ilan, a Profa. Naama Goren-Inbar, da Universidade Hebraica, e a Profa. Amanda Henry, da Universidade de Leiden, na Holanda.

MITOS SOBRE A DIETA PALEO - A pesquisa vai de encontro a uma ideia bastante comum: a de que os primeiros humanos viviam basicamente de carne. Essa teoria serviu de base para a chamada dieta “paleo”, popular atualmente. No entanto, muitos estudos anteriores focaram em restos de animais porque alimentos vegetais são raramente preservados com o tempo.

Agora, os grãos de amido encontrados mostram que os hominídeos consumiam plantas ricas em carboidratos. Esses carboidratos eram essenciais para o funcionamento do cérebro humano. Entre os alimentos processados estavam tubérculos, nozes, raízes e outras variedades vegetais.

Essas plantas eram preparadas com ferramentas específicas, como maças e bigornas feitas de basalto. Esses instrumentos serviam para quebrar e triturar os alimentos.

O estudo destaca que essa é uma das primeiras evidências do uso de ferramentas para preparar vegetais. Os hominídeos conseguiam lidar com uma grande variedade de plantas, incluindo o lírio-d’água amarelo e a castanha-d’água, que hoje está extinta.

Além dos grãos de amido, os pesquisadores encontraram também restos microscópicos. Foram identificados grãos de pólen, pelos de roedores e penas. Esses elementos reforçam a credibilidade das descobertas.

PLANTAS FORAM ESSENCIAIS - “Esta descoberta ressalta a importância dos alimentos vegetais na evolução dos nossos ancestrais”, disse o Dr. Ahituv. “Agora entendemos que os primeiros hominídeos coletavam uma grande variedade de plantas durante todo o ano, processando-as com ferramentas feitas de basalto. Esta descoberta abre um novo capítulo no estudo das dietas dos primeiros humanos e sua profunda conexão com alimentos de origem vegetal.”

A descoberta vai além da alimentação. O uso de ferramentas para preparar plantas também indica aspectos sociais e cognitivos importantes.

Os hominídeos trabalhavam em grupo e mostravam sinais de organização social. Eles também tinham um bom conhecimento do ambiente onde viviam, tanto em regiões aquáticas quanto terrestres.

Esse domínio sobre os recursos naturais mostra uma inteligência adaptativa. Mesmo sem linguagem escrita ou agricultura, já havia ali um nível de complexidade no comportamento humano.

O estudo representa um avanço importante nas pesquisas sobre a dieta ancestral. Ele oferece novas perspectivas sobre como nossos antepassados viviam e se alimentavam. E mostra que as plantas sempre tiveram um papel fundamental na história da humanidade.

Com informações: CPG.