Coluna MSN: Bares de ontem | aRede
PUBLICIDADE

Coluna MSN: Bares de ontem

“Os barres morrem sóbrios”

Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa
Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa -

Da Redação

@Siga-me
Google Notícias facebook twitter twitter telegram whatsapp email

Muitas pessoas procuram clubes, associações e outras entidades quando chegam a um lugar novo. Quando aportei em Ponta Grossa, fui atrás principalmente dos bares, onde fiz amigos que até hoje me acompanham. Tenho um bom faro para botecos que representem uma sociedade.

Meu primeiro endereço social foi o Ewaldo’s Drink, na Paula Xavier. O dono, que dava nome ao estabelecimento, nos atendia enquanto estudava inglês. Sua mulher, Dona Vera, também trabalhava no balcão. Nos horários de folga, ele pescava lambaris no rio Tibagi, que eram servidos fritos. Mas o melhor petisco era o bolinho de carne achatado na mão. Uma de suas frases resumia tudo: “Não tenho clientes, e sim amigos”. E levava muitos deles para casa quando não tinham condição de dirigir. Mas se aparecesse alguém já alterado, ele se recusava a servir álcool. Depois de receber a conta, sempre dizia: “Deus te ajude”.

Meu segundo endereço foi o Bar Brasil, na Anita Garibaldi, onde conheci o Seu Brasil, que me falava sobre política local. Lá aprendi a apreciar pepino azedo, prato da culinária judaica. Azedado na base de água, folha de parreira, endro e sal. E descobri muitas figuras do Bairro das Órfãs, entre elas um pintor que se dizia pertencer ao grupo do Juarez Machado, de duplo nome: Tato / Arnaldo Ferreira. Não sei de qual dos dois comprei uns quadros. Com a morte do Seu Brasil, pai de minha querida amiga Dirlene, o bar deixou de ser o mesmo, porque um bar é antes de tudo o dono.

Outro que frequentei foi o Marieta, na Balduíno Taques, mas sem maiores intimidades. Havia certa pretensão de ser um espaço da elite. Éramos geralmente mal atendidos e isso valorizava o cardápio.

Por fim, para comer torresmo, o lugar certo era o Rei das Batidas, na Avenida Vicente Machado, frequentado por todo tipo de gente - democrático, amplo e barulhento. Passei muitas manhãs de sábado em suas mesas, observando uma população que eu não encontraria em nenhum outro ponto.

Todos estes endereços desapareceram. Deixo aqui uma lágrima bêbada para cada um deles.

O autor é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa. No Instagram: @sanchesnetomiguel; no Facebook: https://pt-br.facebook.com/miguelsanchesneto/; no Twitter: @miguelsanchesnt

PUBLICIDADE

Participe de nossos

Grupos de Whatsapp

Conteúdo de marca

Quero divulgar right

PUBLICIDADE