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Coluna MSN: Exercícios de fuga

“Aprender a andar de bicicleta foi meu primeiro impulso de partida”

Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa
Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa -

Da Redação

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Aprendi a pedalar aos 12 anos em uma bicicleta cargueira. Ajudava meu padrasto na Máquina Bandeirante, que beneficiava e vendia arroz em Peabiru. Aos sábados, entregávamos dezenas de sacas de 58 quilos nas mercearias da cidade. Eram várias viagens no dia. Nesta infância operária, trabalhar talvez fosse a melhor forma de se divertir.

Em momentos de lazer, usava a Monark de um tio, tendo que pedalar por dentro do quadro, corpo meio torto, pois não tinha altura para me sentar no selim.

Usei bicicletas adultas e emprestadas durante a infância, quando os meninos ricos exibiam a legendária (e proibitiva para nós) Caloi 10. Minha primeira bike pessoal foi comprada aos 35 anos. Passava a pé em frente a uma loja em Curitiba, vi uma Sundown vermelha e o menino em mim não resistiu. Voltei pedalando ao apartamento em que morava à época, sem ter onde guardar o trambolho.

Depois mandei a bicicleta para Peabiru (que era seu lugar de origem), onde ela ficou até meus pais se desfazerem dela. Eu achava que com isso havia concluído meu ciclo de ciclista amador.

Recentemente, no entanto, estimulado por amigos, comprei outra montain bike, agora um Sense de entrada, com poucos acessórios, apenas os de segurança. Todo o domingo fazemos um pedalzinho. É bom sentir o vento no rosto quando pegamos embalo nas descidas. E mesmo a dor nas pernas do esforço na subida se torna gratificante.

Quando me perguntam para onde vou nestes passeios dominicais, quais as rotas preferidas, respondo que para mim qualquer pedal é sempre uma volta à infância.

Algum tempo atrás, eu trouxe de Peabiru a cargueira de uma antiga mercearia, restaurei e a deixei na sala de casa. Na parte da frente, coloquei um engradado de madeira com cascos vazios de Crush, um deles com uma tampa enferrujada com um furo de prego no meio. Não usávamos canudinho, era por este furo que sorvíamos lentamente o refrigerante, sonhando com o dia em que deixaríamos a cidade.

O autor é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa. No Instagram: @sanchesnetomiguel; no Facebook: https://pt-br.facebook.com/miguelsanchesneto/; no Twitter: @miguelsanchesnt

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