Moradores pedem por restauração de 'casarão' histórico de Irati
O local tem sido palco e pauta de gravações cinematográficas, documentários, estudos acadêmicos e matérias jornalísticas
Publicado: 04/07/2025, 18:22

'SOS CASARÃO DE FLORESTAL', as redes sociais estão sendo usadas por ex-moradores da localidade de Florestal, divisa entre Irati e Fernandes Pinheiro (Sul do Paraná) para resgatar as memórias da comunidade e chamar a atenção para o risco de desabamento de um casarão histórico e centenário, construído por volta de 1912, durante o Ciclo da Madeira.
“A proposta da página Florestal Viva no Instagram era apenas resgatar fotos antigas das famílias que eram vizinhas na vilinha. Em poucas horas catalogamos mais de 300 imagens, que estão sendo compartilhadas, gerando saudades. Em muitas, o Casarão de Florestal sempre estava ali, lindo e imponente”, explica José Nascimento, criador do espaço na rede social. “Como a gente diz, eu nasci e me criei lá. Quando chegaram as fotos atuais, todos do grupo ficaram muito tristes e espantados: o Casarão de Florestal está sob ameaça de desaparecer a qualquer momento”, avalia.
Foi dessa forma que surgiu o movimento on-line chamado SOS CASARÃO, que tem os seguintes objetivos:
- Chamar a atenção das autoridades para o risco real da perda de um lindo patrimônio histórico e cultural do Brasil;
- A necessidade de criar na localidade um ecossistema que oportunize ações de preservacionismo histórico, cultura, pesquisa agropecuária, recreação e educação, entre outras frentes.
“Já não acreditamos mais que alguma coisa será feita de verdade, pois há mais de vinte anos ouvimos falar de um projeto e as coisas só degradam e pioram”, comenta uma ex-moradora de Florestal. Um outro afirma: “O Casarão é um marco e faz parte da nossa história. É triste lembrar como era e ver como está. A gente sonha com a tal restauração”. Por seus motivos muitos moradores preferem o anonimato, enquanto as prefeituras de Irati e Fernandes Pinheiro informam que estão trabalhando num projeto.
O CASARÃO - O Casarão, que tem sido palco e pauta de gravações cinematográficas, documentários, estudos acadêmicos e matérias jornalísticas, tem 3 andares, cerca de 400 metros quadrados e 40 cômodos. Ele fica na Fazenda que foi sede da Serraria Miranda (informações a abaixo).
“O aspecto mais notável dessa edificação é o seu projeto arquitetônico. Construída totalmente em madeira, foge, porém, completamente, dos modelos usuais dessa técnica difundidos no estado do Paraná; tendo como parâmetros comparativos as mansões anglo-americanas do século XIX”, destaca em uma análise o site Site da Jera, de Engenharia e Arquitetura. A descrição dos especialistas registra ainda que o sistema construtivo das paredes é diferenciado, usando estilo britânico e norte-americano (bow-window e pórticos).
“É significativo também o classicismo que impregna a arquitetura através do rigor simétrico da composição, o emprego de colunas jônicas no imponente pórtico principal e os jardins com suas touceiras dispostas ordenadamente e moldadas com formatos geométricos (cones e esferas)”, destaca o site. Realmente, além do primor arquitetônico, o prédio recebeu uma atenção especial no paisagismo, mesmo em se tratando de uma obra do início do século XX e em plena floresta.
ESQUECIMENTO - “O que nos entristece é o atual estado de tudo por lá. Depois que começamos a falar no assunto o pátio recebeu uma limpeza. Não é tudo, mas sinal que alguém sentiu o movimento’, comenta José Nascimento, citando que o local foi tombado pelo Patrimônio Histórico em 30 de julho de 1990 (processo 006/90 - inscrição 102). “Agora o tombamento vai completar 35 anos. A gente corre o risco de ser desrespeitoso e crítico, mas é muito tempo, não? A situação só piorou. O Casarão está abandonado, essa é a verdade e sem um pai ``, reclama.
Com o processo até o antigo Iapar deixou o prédio fora dos seus limites, ficando com os barracões da Serraria Miranda (que precisam ser tombados) servindo de armazéns e a velha chaminé. Segundo os moradores, uma empresa chegou para reformar o telhado do Casarão, mas teria abandonado a obra. Hoje em dia até os jardins estilizados, casas da fazenda e o posto meteorológico poderiam fazer parte de uma reorganização para melhor aproveitamento regional e de multiuso.
FAZENDA FLORESTAL - A família Miranda (do industrial Alberico Xavier de Miranda) tinha duas grandes fazendas na região, onde fazia extração e processamento de madeira. A Serraria Miranda ficava onde hoje está o casarão abandonado e era a sede. Muito bem montada, contava com máquinas modernas para a época (à vapor). Ao todo eram 800 funcionários, que tinham na sede escola para os filhos, armazém e até uma igreja, que ficava ao lado do Casarão e até seguia o mesmo estilo arquitetônico.
A fazenda é cortada pelos trilhos da ferrovia Paraná Santa Catarina, que liga Ponta Grossa a União da Vitória e Guarapuava, respectivamente. Era pela estrada de ferro que a madeira era transportada, assim como pasta mecânica (papelão) que tinha como centro de produção uma outra indústria, instalada na localidade que era conhecida como Instituto do Pinho, Flona de Irati, que era do antigo Ibama. Detalhe: a movimentação de cargas entre as duas propriedades (em cerca de 5 quilômetros) era feita por vagonetes, em trilhos exclusivos do grupo empresarial.
No caso da Fazenda Florestal, em 1967, ela passou a ser de propriedade do Governo do Estado do Paraná (Seab) e a do Pinho ficou com o Governo Federal (na época IBDF). Hoje a Florestal é gerenciada pelo IDR - Instituto de Desenvolvimento Rural (antigo Iapar) e o casarão foi tombado pelo Patrimônio Histórico.
Se não bastasse, mais uma dúvida existe: para que cidade pertence o Casarão? Fernandes Pinheiro ou Irati?
Recentemente, ao saber do risco que Casarão corre, o secretário de Desenvolvimento Sustentável, Rafael Greca, apresentou o problema ao governador em exercício, Darci Plana, pedindo atenção. O secretário ainda se propôs a fazer uma visita técnica ao local, para unir forças políticas em torno de um projeto. “No ano em que o Casarão de Florestal completa 105 anos não temos festa, pelo contrário. Só uma coisa podemos comemorar: sua resistência ao esquecimento e abandono”, finaliza José Nascimento.
Com informações da assessoria de imprensa.