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Coluna Fragmentos: Terra de muitas cachoeiras!

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

No dia 13 de dezembro de 1956, Tibagi foi destaque no JM por conta de um grave episódio político ocorrido naquela cidade
No dia 13 de dezembro de 1956, Tibagi foi destaque no JM por conta de um grave episódio político ocorrido naquela cidade -

João Gabriel Vieira

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Uma das mais importantes cidades da região dos Campos Gerais, Tibagi tem sua história vinculada à abertura dos sertões paranaenses, ocorrida nos Setecentos. Desde esse período já aparecem registros sobre a existência de ouro, diamante e outras pedras preciosas no rio Tibagi, palavra de origem tupi-guarani que, como registra o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire que passou pela região no século XIX, significa “muitas cachoeiras” ou “muita água”.

É provável que já no final do século XVIII tenha se formado um povoado composto por aventureiros que tentaram a sorte no garimpo. Esse agrupamento humano ficava à margem do rio, na mesma localização onde hoje se encontra a cidade de Tibagi.

Ao longo do século XVIII, motivados pela descoberta das riquezas minerais, vários paulistas solicitaram à Coroa portuguesa a cessão de terras nas proximidades do Tibagi, tornando-se os primeiros proprietários da região (não considerando a presença indígena no local). Além da mineração, também desenvolveram atividades criatórias mantidas com base na escravidão indígena e negra.

Entre esses proprietários de terras estava José Felix da Silva, paulista que fundou a Fazenda Fortaleza, a mesma que se transformou em um símbolo do processo de ocupação da região de Tibagi e em torno da qual se produziram diversas histórias e lendas. Para auxiliá-lo, convidou o paulista Antonio Machado Ribeiro, conhecido como Machadinho, o qual, após viver nas terras pertencentes a Castro, mudou-se para a Fortaleza, ajudando o seu proprietário na expulsão dos índios que habitavam a região deste muito antes da chegada dos colonizadores brancos. 

Depois de um desentendimento com José Felix, Machadinho mudou-se para as margens do Tibagi, na mesma área já ocupada por mineradores e, em pouco tempo, tornou-se o principal líder do povoado que emergia naquele final de século. Machadinho, que morreu em 1809, é considerado fundador de Tibagi, pois foi nas terras deixadas por ele para a Igreja que se erigiu a primeira capela da cidade, a mesma que depois se transformou na Matriz de Nossa Senhora dos Remédios.

Ao longo dos Oitocentos, o que se percebeu foi um considerável crescimento populacional em Tibagi, decorrente do desenvolvimento das fazendas da região e da manutenção das atividades mineradoras ao longo do leito do rio.

Assim como nas demais cidades dos Campos Gerais, a política tibagiana foi historicamente controlada pelos grandes proprietários rurais. Entre estes se destacam figuras como Jocelym Borba, Bonifácio Guimarães, Tibúrcio Martins, Jeca Florentino e Telêmaco Borba. Este último teve sua história detalhadamente retratada por um de seus descendentes, o castrense Oney Borba, num livro clássico chamado: “Telêmaco Mandava Matar”.

O título do livro escrito por esse importante memorialista dos Campos Gerais expressa bem uma das características mais típicas das práticas políticas verificadas no processo de formação e desenvolvimento histórico de Tibagi. O uso da força e da violência, a coerção, a intimidação e, em muitos casos, o assassinato de adversários e/ou inimigos políticos tornou-se corriqueiro em todo interior paranaense até meados do século passado.

Prova disso, a matéria publicada pelo JM em dezembro de 1956 e que envolve a atuação do então prefeito tibagiano, Guataçara Borba Carneiro, coincidentemente um dos netos de Telêmaco Borba, que sempre foi tratado pelo periódico ponta-grossense como um político que exorbitava em suas práticas administrativas. Apesar da arbitrariedade política ser uma tônica do período em foco, é conveniente lembrar que naquele momento o JM pertencia a Petrônio Fernal, um dos mais influentes políticos princesinos de meados do século XX e, portanto, refletia também os interesses, posicionamentos e comprometimentos de seu proprietário e do grupo político do qual ele fazia parte.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 05 de abril de 2009.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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