Coluna Fragmentos: Os vivos são governados pelos mortos! | aRede
PUBLICIDADE

Coluna Fragmentos: Os vivos são governados pelos mortos!

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

A matéria publicada em 12 de junho de 1957 informava a respeito da movimentação de entidades e pessoas contra a demolição do portão principal do Cemitério São José
A matéria publicada em 12 de junho de 1957 informava a respeito da movimentação de entidades e pessoas contra a demolição do portão principal do Cemitério São José -

João Gabriel Vieira

@Siga-me
Google Notícias facebook twitter twitter telegram whatsapp email

“A morte é uma festa”. Esse é o título de um dos mais importantes trabalhos na área da história publicado no Brasil na década de 1990. Escrito pelo historiador João José Reis (UFBA), o livro trata das práticas culturais e dos rituais que envolviam a morte, o velório e o sepultamento das pessoas no Brasil nos séculos coloniais e também no Império.

De acordo com Reis, os velórios no Brasil oitocentista não eram apenas marcados por dor, lamentações e prantos. Eram também o local de (re)encontro de pessoas que bebiam, dançavam e cantavam para o morto. Nas palavras do historiador baiano, naqueles tempos os velórios eram verdadeiros convescotes.

Era comum que em vida muitas pessoas se preocupassem com os “festejos” que envolveriam sua própria morte. Assim, o planejavam durante anos e deixavam contratadas as carpideiras (mulheres que choravam durante o velório e o sepultamento), as rezadeiras e os músicos que deveriam acompanhar o morto até sua última morada. Desta forma, mais do que um espaço e um momento de religiosidade, os velórios se transformavam em um grande ato social e acabavam por revelar o prestígio do indivíduo mesmo após a sua morte.

João José Reis narra um inusitado episódio ocorrido na capital da Bahia em 1835: a Cemiterada! Esse movimento reuniu desde escravos até os mais importantes políticos baianos do período, e contrapôs uma prática cultural secular (a de sepultar as pessoas dentro ou ao redor das igrejas de Salvador) a outra baseada em princípios sanitários (a obrigatoriedade de sepultar os mortos exclusivamente em cemitérios afastados do perímetro urbano).

A Cemiterada é apresentada por Reis como uma convulsão social que provocou a destruição de túmulos, a queima de empresas funerárias e o conflito físico entre as tropas a serviço do governo baiano e a população que não aceitava a lei que tornava obrigatório o sepultamento nos cemitérios.

Pouco tempo depois, no final do século XIX, com o avanço do conhecimento científico e das práticas higiênico-sanitárias no país, o sepultamento em cemitérios já se apresentava como uma prática social e culturalmente compreendida e aceita pela população em geral.

No caso de Ponta Grossa, os registros históricos dão conta da existência de um cemitério próximo à igreja São João (atual Praça Barão de Guaraúna) e outro ao lado da capela de Sant´Ana (mais tarde Igreja Matriz), que funcionaram ao longo dos Oitocentos.

O Cemitério Municipal São José foi inaugurado em 1865, mas passou a ser efetivamente utilizado a partir do final daquele século, no momento em que a cidade expandiu e incorporou as diretrizes sanitárias relativas ao sepultamento de pessoas.

.

O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 08 de março de 2009.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

PUBLICIDADE

Participe de nossos

Grupos de Whatsapp

Conteúdo de marca

Quero divulgar right

PUBLICIDADE