Serviços de telefonia estão no topo do ranking de reclamações do Procon em Ponta Grossa
Dados do Procon de Ponta Grossa e do Paraná revelam baixa satisfação dos consumidores, em contraste com países que avançam rapidamente em novas tecnologias de conectividade
Publicado: 21/12/2025, 17:07

Dados do Procon de Ponta Grossa ajudam a dimensionar a insatisfação dos consumidores. Até o dia 30 de novembro de 2025, o órgão municipal realizou 23.808 atendimentos, dos quais 8.668 resultaram em reclamações formais contra fornecedores, todas registradas no sistema Proconsumidor. Desse total, 1.729 reclamações são específicas da área de telefonia, o que evidencia a relevância do setor entre as principais demandas dos consumidores.
Entre as operadoras mais reclamadas no município aparecem TIM, com 571 registros, seguida pela Oi, com 338, Claro, com 318, Client, com 224, Vivo, com 137, e Ligga, com 53 reclamações. Os números refletem um problema estrutural que vai além de casos pontuais e se repete entre diferentes prestadoras de serviço.
A planilha de reclamações do Procon aponta que as principais queixas envolvem cobranças indevidas, que somam 398 registros, além de dificuldades para rescindir contratos, com 226 ocorrências. Também são frequentes reclamações relacionadas a cobranças por serviços não contratados, oferta não cumprida, funcionamento inadequado do serviço, instabilidade de sinal, informações incompletas sobre planos e dificuldades no cancelamento ou acesso ao Serviço de Atendimento ao Consumidor.
PROBLEMA ESTADUAL
O Procon do Paraná realizou uma pesquisa entre os dias 18 e 19 de setembro ouviu 2,1 mil consumidores paranaenses e revelou que mais de 51% consideram que as informações sobre o funcionamento dos planos de telefonia móvel não são acessíveis nem claras. O levantamento também mostrou que 76,8% dos entrevistados já enfrentaram algum tipo de problema com a operadora de celular.
O nível de satisfação também é baixo: apenas 16,8% dos usuários se dizem totalmente satisfeitos com a operadora contratada, enquanto 63,8% afirmam estar apenas parcialmente satisfeitos e 19,4% declaram insatisfação. Os dados indicam que as dificuldades enfrentadas pelos consumidores não se restringem a uma região específica, mas refletem uma realidade presente em diferentes municípios do Paraná.
Ainda segundo o Procon-PR, dos quase 100 mil atendimentos registrados em 2025 na plataforma consumidor.gov.br, cerca de 15 mil estão relacionados a empresas de telecomunicações, incluindo telefonia móvel, internet e TV por assinatura. As reclamações mais comuns envolvem cobranças indevidas, tarifas por serviços não solicitados, cobranças após cancelamento de contratos e ofertas não cumpridas.
E O SINAL NAS RODOVIAS?
O acesso a redes de internet nas rodovias do Paraná é outro ponto que vem sendo debatido com veemência nos últimos anos. Com as concessões de rodovias federais e estaduais, existem acordos para o fornecimento de sinal de Wi-Fi, mas não há uma legislação de fato que obrigue as concessionárias a fornecer esse serviço. Pelo menos por enquanto.
O PL 623/2024, de autoria da Deputada Maria Victoria (PP) dispõe sobre as diretrizes para a conectividade nas estradas de rodagem sob jurisdição do Governo do Estado do Paraná. No projeto, fica definido que o sinal fornecido não poderia ser inferior ao 4G, e ele segue tramitando na Assembléia Legislativa do Paraná.
À época, a deputada afirmou que esta é uma demanda de diversos setores da população. “É uma demanda justa do setor produtivo, dos agricultores e de quem utiliza as estradas diariamente em todas as regiões. O poder público precisa de mecanismos mais efetivos para facilitar a ampliação da conectividade nas estradas estaduais”, disse.
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) defende que todas as rodovias federais deveriam ter a ampliação da cobertura 4G por meio de obrigações em contratos de concessão, da criação de PPPs digitais, e também do uso de fundos públicos. Em março de 2025, a ANTT determinou que as concessionárias que já possuíam a previsão de implementar redes sem fio, que considerassem a medida como obrigatória. No mês de abril, a Agência, juntamente da Anatel, despacharam medidas visando garantir o 4G em rodovias. A decisão de manter o sinal 4G é por ser considerada mais adequada do ponto de vista de infraestrutura, além do custo ser mais em conta.
POSICIONAMENTO DAS OPERADORAS
Procuradas pela reportagem, as assessorias de imprensa das operadoras que atuam em Ponta Grossa foram contatadas para comentar as reclamações e os problemas relatados pelos consumidores. Até o fechamento desta edição, apenas a Claro encaminhou posicionamento.
Segundo Marcelo Repetto, diretor regional da Claro para a regional Sul, há investimentos contínuos na ampliação da cobertura no Paraná, considerado um mercado estratégico. De acordo coma operadora, ela tem expandido sua presença em dezenas de municípios e que, somente na região do DDD 42, foram implantadas 27 novas antenas ao longo de 2025. A Claro também destaca uma parceria com o Governo do Paraná voltada à expansão da cobertura móvel em áreas rurais, rodovias, polos turísticos e regiões estratégicas, com a instalação de centenas de novas antenas em todo o estado.
A redação do Jornal da Manhã entrou em contato com a assessoria de imprensa das outras empresas fornecedoras de serviços de telefonia e comunicação, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.
Enquanto novos investimentos são anunciados, consumidores seguem cobrando melhorias efetivas na qualidade do serviço, sobretudo em relação à estabilidade do sinal de internet móvel. Em uma cidade que depende cada vez mais da conectividade para o funcionamento de serviços públicos, atividades econômicas e comunicação cotidiana, a expectativa é que as operadoras avancem não apenas na expansão da cobertura, mas também na confiabilidade do serviço oferecido à população.
CONTRASTE
Enquanto parte do interior do Brasil ainda enfrenta dificuldades básicas de conectividade, outros países avançam rapidamente em novas tecnologias. Em abril de 2025, a China, por exemplo, ativou a primeira rede comercial de internet 10G do mundo, no condado de Sunan, província de Hebei, em parceria entre a Huawei e a operadora estatal China Unicom.
A tecnologia, baseada na infraestrutura 50G-PON, permite conexões fixas por fibra óptica com velocidades de até 10 gigabits por segundo e latência de apenas 3 milissegundos. Em testes práticos, foram registrados downloads próximos de 9.834 Mbps e uploads de 1.008 Mbps, possibilitando, por exemplo, o download de um filme em resolução 4K em poucos segundos. O avanço evidencia o contraste entre a fronteira tecnológica global e os desafios ainda enfrentados no Brasil, especialmente em regiões rurais.
ORIENTAÇÕES AO CONSUMIDOR
O Procon orienta que, ao identificar falhas recorrentes ou interrupções no serviço, o consumidor registre reclamação formal, já que a indisponibilidade pode gerar direito à redução proporcional do valor da fatura, conforme o tempo em que o serviço permaneceu fora do ar, respeitadas as normas da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
O órgão municipal ressalta ainda que não realiza operações conjuntas com a Anatel e não possui estudos próprios sobre cobertura de sinal no município, exemplificando a necessidade de mudanças nas políticas públicas que busquem garantir o acesso democrático às tecnologias de comunicação, não só em Ponta Grossa, mas no Paraná e em todo o Brasil.





















