Drama familiar expõe abandono do IML de Ponta Grossa
Publicado: 24/06/2015, 11:10
Adriana Cristina da Cruz viajou 400 quilômetros de Marília até Ponta Grossa para tentar retirar o corpo do pai, José Roberto da Cruz, no Instituto Médico Legal (IML) da cidade. Depois de várias promessas envolvendo melhorias no órgão, o IML de PG contínua sendo o retrato da precariedade: Adriana terá que esperar quase 12 horas para conseguir enterrar o pai.
José Roberto, 58 anos de idade, sofreu um acidente de carro por volta das 19h de ontem (23) na PR-090 - a colisão aconteceu no trecho entre Sapopema e São Jerônimo da Serra, no norte do Paraná. O pai de Adriana teria sofrido um infarto fulminante enquanto dirigia e acabou capotando o veículo - José morreu ainda no local.
Família encontrou o IML fechado
Adriana conta que ela e o marido viajaram toda a madrugada para chegar em Ponta Grossa no começo da manhã de hoje. "Para mim, IML funciona em plantão. Nós chegamos aqui às seis da manhã e ficamos passando frio aqui fora. Depois que abriram o lugar, descobri que não tinha médico e que ia demorar tanto assim", contou a filha da vítima.
A filha de José explica que agora os familiares nem sabe que hora vão enterrar o pai. "Eu não sei nem o que falar para as pessoas sobre o velório e enterro. Vamos ter que fazer tudo correndo", contou Adriana.
Diretor do IML disse que já emitiu notificação
Procurado pela equipe de reportagem do portal aRede, o diretor do IML em Ponta Grossa, Anderson Dropa, disse por telefone que já emitiu vários ofícios para a direção estadual do órgão em Curitiba, mas até o momento a situação segue a mesma. "Dois dias por semana o IML de Ponta Grossa não tem médico. Quando eu morava na cidade eu mesmo liberava os corpos nas segundas e quartas-feiras, mas agora que não tem mais como", disse Dropa que atualmente reside em Ipiranga, cidade na região dos Campos Gerais.
Quando assumiu a direção do IML da cidade, Dropa afirmou que pretendia "humanizar" o atendimento no local. Na tarde de hoje (24), Dropa deverá vir de Ipiranga para liberar o corpo de José Roberto - o diretor também prestará mais informações ao portal aRede.
IML já foi alvo de várias promessas
Em março desse ano, uma parceria entre a Prefeitura de Ponta Grossa e o IML foi anunciada pelas autoridades. A medida consistia em deslocar um médico da Prefeitura da cidade para "reforçar" o atendimento no IML até a situação do órgão fosse normalizada pelo Governo do Estado. A previsão era de que o trabalho conjunto entre os médicos começasse em abril - no final do mês de junho, quem precisa do IML continua sofrendo com os mesmos problemas.
A situação já é alvo de uma investigação do Ministério Público.
Falta de médicos é "rotina" no IML de PG
A falta de médicos no IML de Ponta Grossa pode ser considerada rotina. O problema já foi exposto por diversos representantes políticos, mas até o momento segue sem solução. Em janeiro desse ano, o corpo do empresário Luiz Alberto Guebur Dalzoto só foi liberado após pressão de algumas autoridades. A mesma situação já ocorria em setembro de 2014, quando uma família esperou cerca de 13 horas para conseguir retirar o corpo de um familiar.