Crônicas dos Campos Gerais: O Beijo do Fim | aRede
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Crônicas dos Campos Gerais: O Beijo do Fim

Crônicas dos Campos Gerais: O Beijo do Fim

Texto de autoria de Rosicler Antoniácomi Alves Gomes, Professora de Português e Inglês, Ponta Grossa, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais
Texto de autoria de Rosicler Antoniácomi Alves Gomes, Professora de Português e Inglês, Ponta Grossa, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais -

Da Redação

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Crônicas dos Campos Gerais: O Beijo do Fim

Festinha de garagem simples, comum na Ponta Grossa dos anos setenta, animada com um toca-discos sem DJ, refrigerantes e petiscos. Cada um que estivesse perto se mobilizava para trocar o vinil e engolir um petisco. 

A adolescente, vencendo a timidez, convidara para o seu aniversário o menino que ocupava todos os confins de seus pensamentos e fazia vibrarem as fibras estreantes de seu coraçãozinho tomado de assalto pela puberdade. 

Aos domingos, o “point” da época, no Bairro Oficinas, eram as matinês do Cine Teatro Pax. As moças chegavam cedo, pois queriam estar acomodadas, “guardando” poltrona ao lado, para os “paqueras”. As escadarias de entrada, por onde os viam entrar, desembocavam, como até hoje, bem à frente dos blocos de poltronas com assentos acolchoados e braços separando umas das outras. Torciam para serem vistas logo, pois aquele subir e descer de “paqueras” pelas alas entre os blocos podia levá-los para outra poltrona “guardada”. 

Certo domingo, sem optar por subir e descer pelas alas, ele viera sentar-se ao lado dela como uma abelha vai a uma flor que exala um perfume de néctar. Num momento despretensioso, disputara com ela o apoio de braço da poltrona e deduziu: “Não sei se é meu ou seu, pois está entre nós dois... Podemos ser sócios?” E tomou-lhe a mão, sem mais nem menos. O coração dela quase parou. O filme podia ter sido uma lembrança que ela jamais esquecesse, mas tinha esquecido de prestar atenção, nem sabia que filme era. Quando o filme, fosse qual fosse, acabou, ele se despediu amavelmente, e foi ao encontro de amigos. 

Nem acreditara que ele viria à sua festinha, mas estava lá. Chegara bem tarde, com uns amigos, quando outros já estavam indo embora. Antes de ir embora também, achou que podia conceder uma dança à aniversariante... Talvez valesse a pena conceder também um sorriso que não fosse muito comprometedor. Talvez achasse que uma menina tão tímida pudesse entender tudo errado. Havia poucas meninas tão tímidas nos anos setenta, como saber o que estaria pensando essa? Ela o acompanhou até a saída, pois ele não largara sua mão. Ao despedir-se, tocou sua boca com um beijo quase casto. E se foi.

Tudo se foi, com aquele beijo, enquanto ela quase desfalecia. Pois foi colocado em sua boca, como se coloca um bilhete embaixo da porta. O coração dela sabia que embaixo da porta não são colocados bilhetes de começo. Ela não era menina para um cara popular, disputado por garotas mais “descoladas”. Aquele era um bilhete de fim.

Texto de autoria de Rosicler Antoniácomi Alves Gomes, Professora de Português e Inglês, Ponta Grossa, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais (https://cronicascamposgerais.blogspot.com/).

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