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Crônicas dos Campos Gerais: ‘São João Maria'

Sueli Fernandes, professora aposentada, filha da escritora, trovadora e artista plástica Amalia Max. Formada em História pela UEPG. Publicou seu primeiro livro 'Aconteceu ComigoComigo... - viagens pelo mundo'; em 2019.
Sueli Fernandes, professora aposentada, filha da escritora, trovadora e artista plástica Amalia Max. Formada em História pela UEPG. Publicou seu primeiro livro 'Aconteceu ComigoComigo... - viagens pelo mundo'; em 2019. -

Texto de autoria de Sueli Maria Buss Fernandes, Professora aposentada, Ponta Grossa, produzido no âmbito do projeto Crônica dos Campos Gerais 

Em seu livro “De como aconteceu”, a autora Maria Lourdes Pedroso relata: “Diz que ninguém sabe quando ou como ele chegou. O certo é que, um dia, amanheceu acampado junto a um olho d'água lá nos confins de Uvaranas”.

A cidade se expandiu e o olho d'água, na Rua Afonso Celso, ficou próximo ao centro. Giovanni Maria D' Agostini, o monge João Maria, nasceu na Itália, passou por outros países antes de chegar ao Brasil. Andarilho, permaneceu em

Ponta Grossa e região, pregando o evangelho e levando conforto espiritual às pessoas. Na rua alguns meninos costumavam fazer chacota de seus andrajos e, certo dia, arremessaram pedras sobre ele. Irritado, profetizou que aquelas

pedras voltariam em dobro, que não restaria pedra sobre pedra na cidade. A maldição se cumpriu através de uma tempestade de granizo causando destruição, porém João Maria não foi atingido. Permaneceu ileso sob uma árvore. Era idolatrado pela multidão que o rodeava, pedindo ajuda para problemas financeiros, amorosos ou males físicos. Tinha poderes milagrosos de curandeiro e fazia curas através de benzimentos com ervas ou pelas águas sagradas. Mais tarde, refugiou-se na cidade da Lapa, no Paraná. Desde criança eu conheço a história e a maldição do monge.

Recentemente, numa viagem àquela cidade, conheci a gruta onde ele se abrigou enquanto esteve ali. Percorri, com alguns amigos, os mais de 200 degraus subindo e descendo por sobre pedras irregulares e escorregadias pelo limo, até alcançar a gruta. Ali, vendo a água pingar das rochas como numpranto manso e persistente, fiz um silencioso pedido ao monge. Minha filha estava grávida, aos 40 anos, e eu temia pela saúde do bebê. Prometi, como agradecimento, que levaria a ele um maço de couve na bica de Uvaranas.

Cumpri a promessa e ele cumpriu a sua parte. Minha neta nasceu isenta de qualquer problema. O monge João Maria apreciava vegetais, principalmente couve de folha serrilhada. Nos quintais de seus devotos existe pelo menos um pé desse tipo de couve. Encontrei no local, um pouco degradado, objetos como fotos, imagens e mensagens deixados por quem recebeu graças.

Após percorrer desertos, florestas, sertões, passar por guerras e revoluções, sempre caminhando, o profeta, monge ou santo, está sepultado em uma cidade do México. Em suas andanças pelo mundo costumava enterrar cruzes feitas com galhos verdes e, quando as estacas brotavam, era considerado um milagre. Talvez haja uma delas a velar o sono eterno do monge andarilho.

Texto escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais.

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