Editorial
O abandono das ferrovias vira caso da Justiça Federal
Da Redação | 04 de outubro de 2025 - 01:08

Após o abandono dos barracões da antiga oficina da Rede Ferroviária, em Ponta Grossa, por parte da concessionária Rumo Logística, a Justiça Federal ordenou que a empresa tomasse providências em relação à área. A situação de descaso resultou em uma ação civil pública, motivada pelos riscos e problemas sociais e de segurança causados pelo abandono.
A antiga oficina da Rede Ferroviária (RFFSA), localizada em uma área estratégica de Ponta Grossa, foi um importante símbolo de desenvolvimento da cidade no século passado. No entanto, desde sua desativação na década de 1990, o local, com aproximadamente 100 mil metros quadrados, permanece abandonado e se tornou um ponto de preocupação para moradores e comerciantes do bairro de Oficinas. A falta de manutenção transformou a estrutura em abrigo e esconderijo para criminosos, resultando em inúmeros casos de roubos e aumentando a sensação de insegurança na região.
Em outubro de 2025, a Justiça Federal realizou uma vistoria no local e constatou o abandono dos imóveis. O laudo técnico descreveu a área como "sem nenhum cuidado, com muito lixo e objetos depositados", incluindo "carcaças de veículos e trens". Também foram encontrados danos por incêndios e falta de manutenção.
O abandono gerou preocupações entre os moradores do bairro de Oficinas, na área onde se localizam os barracões. Entre os problemas apontados estão a insegurança, o acúmulo de lixo e a proliferação de animais. Em 2020, um incêndio de grandes proporções atingiu um dos barracões desativados. A situação de abandono contrasta com a revitalização da área do Parque Linear, próxima aos barracões, que foi limpa e organizada pela prefeitura em uma concessão feita pelo DNIT para a Rumo.
A Defensoria Pública da União ingressou com uma ACP em 2020 contra a Rumo, a União, o DNIT, a ANTT, o estado do Paraná, o município de Ponta Grossa e a Cohapar, solicitando providências para as ocupações irregulares e a área abandonada.
A 2ª Vara Federal de Ponta Grossa convocou audiências públicas em 2021 e 2023 para ouvir os moradores e discutir a situação com as partes envolvidas. O objetivo era encontrar soluções para os problemas gerados pelo abandono da faixa de domínio da ferrovia. Após a inspeção de 2025, o termo de audiência registrou o descaso na área das oficinas, contrastando com o local vizinho e mais bem cuidado, o Parque Linear.
Além do abandono da estrutura, outro desafio de Ponta Grossa é continuar crescendo mesmo com as limitações impostas pelas ferrovias. Um dos exemplos clássicos é o viaduto do San Martin. Outro problema é a passagem de nível existente na Avenida Monteiro Lobato. Para realizar obras estruturantes, o Município necessitaria de aproximadamente R$ 1 bilhão. Somente a proposta do Contorno Ferroviário, apresentado em Brasília, consumiria quase R$ 800 milhões.