Dinheiro
Nova maltaria redesenha produção de cevada nos Campos Gerais
Área plantada aumentou nos Campos Gerais e reduziu no Centro-Sul. Estado segue como maior produtor de malte do país
Da Redação | 25 de outubro de 2024 - 09:06
No dia 3 de setembro, o município de Guarapuava recebeu o título de “Capital Nacional da Cevada e do Malte”, com a publicação da Lei 14.956/24. A homenagem é justa, já que a região Centro-Sul abriga a maior maltaria da América Latina, pertencente à cooperativa Agrária. A unidade garante o abastecimento de 30% da demanda das cervejarias brasileiras, com uma produção anual de 360 mil toneladas de malte.
Em um futuro próximo, talvez o título deva migrar para outra
localidade. Isso porque, segundo dados do Departamento de Economia Rural
(Deral) da Secretaria de Agricultura do Estado do Paraná (Seab), a região dos
Campos Gerais ultrapassou a região de Guarapuava na área destinada ao plantio
da cevada. Em 2023, Guarapuava plantou 43,2 mil hectares com o cereal do malte,
ante apenas 26 mil neste ano (queda de 40%). Na contramão, Ponta Grossa e
região registraram acréscimo de 10% na área destinada à cevada, passando de
31,7 mil hectares em 2023 para 35 mil hectares esse ano. Com isso, a região
assumiu o posto de maior área dedicada à produção de cevada do Estado.
Esse avanço de área tem relação com a Maltaria Campos
Gerais, novo empreendimento capitaneado por um grupo de cooperativas (Frísia,
Castrolanda, Capal, Bom Jesus, Coopagrícola e Agrária) com capacidade para
produção anual de 240 mil toneladas de malte. A indústria já está em operação,
com capacidade total.
De acordo com o gerente de marketing e estratégia
corporativa da cooperativa Agrária, Rodrigo Lass, a nova indústria precisa de
800 toneladas de cevada por dia para abastecer a produção. A matéria-prima que
será fornecida pelos produtores cooperados deve atender parâmetros específicos
referentes à proteína, tamanho do grão, capacidade de germinação, entre outras
características. De outro lado, existe garantia de compra do cereal produzido
nestes padrões.
O produtor cooperado da Capal Vitor Salomons, de Arapoti, na
região Centro-Oriental, até o ano passado, destinava a produção de cevada para
a maltaria da Agrária localizada em Guarapuava. “Agora vamos entregar na nova
maltaria, com frete menor. Como a Capal é uma das parceiras da maltaria,
entregamos na cooperativa em Arapoti, e ela faz o transbordo para a maltaria em
Ponta Grossa”, relata. A economia no frete é da ordem de R$ 30 por tonelada do
cereal.
Segundo Salomons, a cevada contribui para a rotação de
cultura na região. “A gente roda um ano cevada, um trigo e outro aveia. A
cevada remunera melhor do que o trigo, mas o risco também é maior”, afirma,
referindo-se à suscetibilidade da cultura a doenças. “O custo da cevada também
é um pouco superior, cerca de 10% em relação ao trigo”, complementa.
Ano difícil
Segundo o engenheiro agrônomo do Deral, Carlos Hugo Godinho,
apesar da maior área, a produção da região dos Campos Gerais pode não se
converter em maior volume de produção. “Existe o fator novidade, por isso
muitos produtores estão plantando cevada pela primeira vez. Além disso, essa
região já tinha uma produtividade um pouco menor e este ano tivemos problemas
com estiagem, o que pode prejudicar a produção”, analisa. A produtividade
esperada das lavouras de cevada na região de Guarapuava varia ente 4,9 a 5,9
toneladas por hectare, enquanto a média da região de Ponta Grossa está
oscilando entre 4 e 4,2 toneladas por hectare. “O pessoal da região [de Ponta
Grossa] entrou com força na cevada, mas este ano o risco é grande por conta da
seca e da geada”, avalia o produtor Salomons.
Em relação a possível “migração” da produção de cevada entre
as regiões, com risco de desabastecimento da maltaria localizada em Entre Rios,
Lass, da cooperativa Agrária, acredita que isso não deve acontecer. “São
unidades industriais que caminham de maneira paralela e, justamente para que se
possa garantir o abastecimento da Maltaria Campos Gerais, estamos trabalhando
com o fomento do plantio da cevada na região. Outro ponto relevante é que o
Brasil possui um déficit de produção de malte, o que faz com que parte
significativa do insumo cervejeiro seja importado, fator determinante para o
investimento no novo negócio”, explica.
Como o malte é feito?
Depois de colhidos, os grãos de cevada são armazenados,
classificados e passam por um processo de embebição (lavados e hidratados). Na
etapa seguinte, os grãos são transferidos para um ambiente fechado com umidade
e temperatura controlados para que possam germinar.
Após a germinação, os grãos vão para uma estufa para o
processo de secagem e/ou torrefação. Dependendo do tempo e da intensidade desse
processo, os grãos podem assumir cores e aromas diferentes, como caramelo e
café, que resultarão em cervejas de sabores distintos. Nesse ponto os grãos já
são considerados malte.
A Agrária Malte, no distrito de Entre Rios, fabrica as
variedades Pilsen, Pale Ale, Munique, Vienna e de Trigo. Na maltaria Campos
Gerais, somente é produzido o malte Pilsen.
Vale lembrar que nem só de cevada é feito o malte. Existem
maltes feitos a partir de trigo, sorgo, aveia, centeio e triticale.