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Imagem ilustrativa da imagem O povo nas ruas

Por Mário Sérgio de Melo

Uma vibrante multidão de mais de trezentas mil pessoas nas ruas do Rio, vestida de vermelho, excedendo-se nas manifestações. Não, não eram progressistas, comemorando a isenção do imposto, o aumento do salário mínimo ou os bons resultados na economia, nem se revoltando contra os PL’s da devastação e da bandidagem, a PEC da blindagem ou a militarização das escolas. Eram os rubro-negros flamenguistas comemorando o título da Libertadores. Aliás, num jogo de dar vergonha belo baixo nível, cheio de chutões, infrações e falta de talento e criatividade. Bom no jogo foi mesmo só o belo gol de Danilo, que lembrou o Dadá Maravilha, o “beija-flor”, porque diziam que voava e pairava no ar para os cabeceios fatais para o adversário. A meu ver, Danilo também protagonizou o duelo mais relevante da final, anulando o atacante Vitor Roque do Palmeiras.

O mundo inteiro deve ter assistido à final sul-americana. Deve ter se decepcionado. Não se viu nem sombra dos melhores times europeus. Apesar de tanto Flamengo quanto Palmeiras terem em seus elencos muitos estrangeiros garimpados em todo o continente. Nosso futebol carece de credibilidade para preservar aqui os melhores, que sempre se bandeiam para a Europa ou outros destinos milionários.

Mas o mais chocante é mesmo a impressão que, no Brasil, o que mobiliza a população é o futebol. Tudo bem, se o povo não estivesse seguindo as máximas de que só lhe interessa o pão e o circo, ou, como dizem outros, religião e futebol são o ópio do povo. Por que motivo multidões não vão às ruas comemorar o pleno emprego, o aumento da massa salarial, a redução do IR, a expansão dos programas sociais, a melhora na economia, o crédito do país nas tratativas internacionais? Ou não vão protestar contra o crime organizado enraizado nos governos, nos bancos, na administração pública e em políticos seus comparsas?

O Brasil venceu o complexo de vira-lata em 1958, na Suécia. Até então, carregava a calamidade da derrota para o Uruguai em 1950. O futebol nos resgatou. Mas desde então as coisas mudaram muito. O dinheiro tomou conta. E os brasileiros ainda não sabem ser virtuosos com o dinheiro. No “país do futebol”, fomos ficando para trás.

Mas, se tem nos faltado conseguir manter por aqui os melhores craques, mais ainda tem nos faltado mobilizar o povo para lutar pelos atributos que nos expurguem em definitivo o complexo de vira-lata. O povo não vai às ruas pela sua dignidade, identidade, direitos e liberdade com o mesmo ímpeto com o qual comemora um título obtido numa partida sofrível.

A desdém para a defesa de questões essenciais tem seus motivos: a mídia corporativa é incansável em enviesar, ocultar e mentir; a educação é concebida para criar comandados, e não críticos; a desigualdade social parece intransponível; o histórico de escravagismo, colonialismo e genocídio dos nativos ainda está impregnado na cultura...

O complexo de vira-lata vai ser superado quando o povo, lúcido, for às ruas para reivindicar e celebrar sua plena emancipação.

Mário Sérgio de Melo é Geólogo, professor aposentado do Departamento de Geociências da UEPG

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