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O deus dinheiro e seu vassalo, o mercado

Imagem ilustrativa da imagem O deus dinheiro e seu vassalo, o mercado

Por Mário Sérgio de Melo

Dizem que o capitalismo, que prioriza o lucro e desdenha a qualidade de vida, é o vilão da crise que vive a humanidade. Lucro, qualidade de vida, crise: três palavras que merecem reflexão.

Hoje “lucro” não é a viabilização econômica de uma ação; este lucro é necessário. Mas não a insana concentração de renda por poucos, que se locupletam explorando o trabalho da grande maioria que, à beira da pobreza, luta para suprir suas necessidades básicas. Este lucro é esbulho: o roubo do fruto da força do trabalho.

“Qualidade de vida” é o bem-estar social e pessoal, com as demandas básicas supridas – alimentação, saúde, moradia, ensino, trabalho, cultura, lazer, segurança... –, e não o luxo e ostentação de quem precisa superar seus próximos. E que vive em moradias que parecem bunkers, anda em carros blindados, com guarda-costas, secretamente acumula fortunas nos paraísos fiscais. Qualidade de vida implica paz de espírito e no mundo, ética, solidariedade, esperança no porvir, alegria de viver.

“Crise” é a disfunção de um sistema, orgânico ou não. Crise antecede o colapso; ela é um alerta, antes da falência total do sistema. Colapso é o caos resultante desta falência. Um desarranjo amiúde com alcance imprevisível. Hoje há muitas crises: ambiental, social, política, sanitária, bélica, econômica, educacional, de segurança, ética, religiosa... Os sinais são claros. Porém, entre enxergar um sinal da crise e fazer algo para evitar o colapso, há uma barreira inexplicável. Por que a humanidade não é capaz de reverter a crise climática que ameaça exterminar-nos? Por que não é capaz de distribuir a renda produzida pelo trabalho para acabar com a fome, a pobreza, a humilhação, a criminalidade, a descrença? Por que não é capaz de adotar um ensino que privilegie a tolerância, a solidariedade, o discernimento, o bom senso? Por que não é capaz de findar com as guerras? Por que não é capaz de usar a bênção das tecnologias para o diálogo honesto, a compreensão, o bem-estar, e não a desinformação e a manipulação? Por que os verdadeiros religiosos não conseguem mais transmitir os ensinamentos dos profetas, e as igrejas tornaram-se heréticos templos de devoção à prosperidade, ao domínio e ao logro?

Será o capitalismo o culpado de tantas crises, e do colapso vislumbrado à frente? Ou o capitalismo, com todas suas crises, é ele mesmo mais um resultado de arraigados instintos? Desde sempre o ser humano tem sido agressivo e dominador. Muito antes do capitalismo. Mas hoje contamos com enormes fontes de energia, conhecimentos e tecnologias. Só multiplicamos o alcance da ambição, agressividade, dominação e do cego deslumbramento humanos. O capitalismo é mais um fruto desses infelizes traços do “Homo sapiens”, que parece mais “demens” que “sapiens”. Fecha-se um ciclo vicioso: os instintos criam o capitalismo, o capitalismo acirra os instintos.

Vivemos a era em que o deus dinheiro e seu vassalo mercado conduzem a espécie humana para a autoextinção. Enxergaremos e mudaremos antes do colapso?

Mário Sérgio de Melo é Geólogo, professor aposentado do Departamento de Geociências da UEPG

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