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Aterro Botuquara, o câncer de Ponta Grossa

Imagem ilustrativa da imagem Aterro Botuquara, o câncer de Ponta Grossa

Por Mário Sérgio de Melo

Os jornais de Ponta Grossa têm noticiado o imbróglio sobre o encerramento do Aterro Botuquara, que recebeu o lixo da cidade por mais de meio século, e foi desativado em 2019. Quando o Botuquara foi instalado, no final dos anos 1960, as normas ambientais e os atributos naturais da região eram desconhecidos. Hoje se sabe, o local do aterro não poderia ter sido pior, do ponto de vista ambiental.

O Botuquara – agora uma incômoda montanha de lixo – situa-se sobre os arenitos da Formação Furnas, um generoso aquífero, cada vez mais utilizado por indústrias, postos de serviços, hospitais, supermercados, granjas e outros empreendimentos da cidade e região. O Aquífero Furnas tem potencial para amenizar as crises hídricas previstas para os tempos de emergência climática que adentramos. As normas atuais preconizam que as áreas de recarga dos aquíferos não sejam utilizadas para os aterros, pelo risco de contaminação dos mananciais subterrâneos. Por esse motivo, recentemente foi impedida a localização de novo aterro da empresa Ponta Grossa Ambiental, na região do Rio Verde, ela também situada sobre a área de recarga do aquífero.

Muito se discute a destinação da área do desativado Aterro Botuquara. Fala-se de plano de recuperação de área degradada, de termo de ajuste de conduta, em área de lazer, em um sistema de energia solar, em produção de bioenergia, em Ministério Público, em Secretaria Municipal de Meio Ambiente, em poluição das águas superficiais e subterrâneas pelo chorume do antigo aterro. Um imbróglio, aparentemente sem solução, ou com prováveis soluções para daqui décadas.

O Aterro Botuquara é como um câncer já diagnosticado, mas para o qual se rejeita tratamento. Ele pode tornar-se incurável e alastrar-se, se as águas do Aquífero Furnas forem contaminadas. Os aquíferos são fonte abundante de água de boa qualidade, e têm outras vantagens: dispensam tratamento e redes de distribuição, não dependem das desastrosas variações das chuvas, previstas para se acirrarem com as mudanças do clima que estamos provocando. Mas eles têm uma vulnerabilidade: não podem ser poluídos. Se o forem, sua recuperação é inviável. Por todos esses motivos, crescem em todo o mundo os cuidados para a proteção dos aquíferos.

Além de negligenciar o câncer diagnosticado, o poder público parece também querer impedir que se façam novos exames, para compreender o alcance das possíveis metástases: não é feito adequado monitoramento das lagoas de chorume, não são realizadas nem divulgadas análises da qualidade da água nos arroios próximos, nem de poços de monitoramento das águas subterrâneas.

Dadas as características locais, a melhor solução para o câncer Aterro Botuquara parece ser mesmo extirpá-lo: transferir a montanha de lixo para um local sobre solos e rochas naturalmente impermeáveis, sem risco de contaminação de mananciais subterrâneos nem superficiais.

No município de Ponta Grossa há muitas áreas assim, onde afloram no terreno rochas argilosas impermeáveis da Formação Ponta Grossa.

Mário Sérgio de Melo é Geólogo, professor aposentado do Departamento de Geociências da UEPG

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