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Construção civil em alerta: falta de pessoas amplia a força dos dados
Da Redação | 30 de abril de 2025 - 00:37

Por Marcus Granadeiro
Atualmente, a construção civil enfrenta um grande problema
envolvendo a falta de mão de obra qualificada, cenário que não é exclusivo do
Brasil, mas sim um fenômeno mundial. O NCCER (National Center for Construction
Education and Research), fundação voltada ao desenvolvimento profissional deste
setor nos Estados Unidos, indica que 41% da atual força de trabalho deste
mercado estará aposentada em 2030 e não há previsão para a reposição desses
trabalhadores, o que impede a manutenção do mesmo volume de profissionais.
A escassez de mão de obra, além de gerar um aumento de custo
direto também traz gastos indiretos, como atrasos nos cronogramas, retrabalhos
ou menor qualidade de entrega.
Para combater este problema, muitos buscam a Inteligência
Artificial (IA) e, nesse caso, o desafio é rever como adquirir, validar e
conceber da forma que fazemos hoje, integrando essa ferramenta à inteligência
humana. No mundo da construção, isso significa, de forma mais objetiva,
entender como transformar os dados e informações não estruturadas, como imagens
rasterizadas - ou seja, composta por pixels, nuvem de pontos, solicitações de
informações e propostas, e-mails, fotos e desenhos 2D, entre outros, em dados
estruturados para tomada de decisão. Neste contexto, os dados estruturados são
sinônimo de BIM (Building Information Modeling) - metodologia de trabalho que
cria e gere modelos digitais de construção.
Com o BIM é possível ter mais agilidade para fazer eventuais
replanejamentos para otimizar ao máximo os recursos disponíveis, gerando,
assim, informações confiáveis para tomadas de decisões. Vale lembrar que
aprimorar o projeto sob a visão da construtibilidade, e não apenas sua forma
final, é outro diferencial.
Além disso, a geração de uma documentação diferenciada para a comunicação com esta força de trabalho menos qualificada é outro ponto a ser abordado. Com base nos modelos BIM, é possível gerar um material que esteja em linha, por exemplo, com a Geração Z, ou seja, os nascidos entre 1995 e 2010. Essa medida é de extrema importância, já que, nas gerações anteriores, os padrões de desenho eram diferentes; são da época em que as pessoas liam livros. Mas hoje estamos na era do Tiktok, ou seja, uma melhor comunicação reduzirá retrabalho e trará mais produtividade aos novos profissionais do setor.
Integração é outro ponto nevrálgico, pois, para se obter a
agilidade que o cenário demanda, é preciso eliminar os silos de informação. No
processo tradicional, os dashboards e relatórios utilizados para a tomada de
decisão são manipulados. Mas, em um processo BIM, a informação passa a ser
única e automática, evitando perda de dados entre as etapas de planejamento,
projeto, obra e operação.
Há ainda outro tema sensível, envolvendo uma decisão que
será divisor de águas em termos de resultados e futuro: a adoção de um sistema
fechado ou aberto de BIM, chamado OpenBIM. Normalmente, o sistema fechado
parece mais simples, fácil e costuma ter o apoio do marketing das grandes
empresas de software. Porém, a adoção do sistema aberto pode ser uma
alternativa mais promissora a longo prazo. É importante entender que o OpenBIM
não significa usar softwares de código aberto, mas usar padrões de dados abertos,
no qual se pode passar a ter a escolha de qual software se usará, inclusive
sendo possível fazer a troca de software sem nenhum prejuízo ao legado.
Todo esse cenário apresentado, somado ao problema que o setor está enfrentando, reforça a necessidade da participação do nível estratégico da empresa nas definições sobre BIM, sendo um erro deixá-lo na competência exclusiva dos técnicos. Estamos tratando de um problema de negócio. Temas como IA e BIM são conceitos técnicos, mas a sua maneira de aplicação dentro das empresas é um fator extremamente estratégico.
*Marcus Granadeiro é engenheiro civil formado pela Escola
Politécnica da USP, membro do RICS - Royal Institution of Chartered Surveyors
(MRICS), certificado em Transformação Digital pelo Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT) e sócio-diretor do Construtivo, empresa de tecnologia com
DNA de engenharia, que é parceira em treinamento e certificação da
buildingSMART Brasil.