Debates
O Brasil não pode crescer?
Da Redação | 18 de janeiro de 2025 - 01:22
Por Edson Vasconcelos
O país encerrou 2024 com sinais no mínimo ambíguos em sua
economia, que geram uma dúvida no setor produtivo: o Brasil não pode crescer? A
pergunta, que em um primeiro momento pode parecer confusa, justifica-se ao
serem analisados alguns indicadores e projeções sobre o contexto econômico do
país. E demanda ações efetivas para que a economia brasileira, com a força da
indústria, possa ter um crescimento consistente em longo prazo.
Por um lado, estima-se que a variação do Produto Interno
Bruto (PIB), após anos de expansão média bastante moderado, deve fechar 2024
com alta em torno de 3,5%. Essas são as previsões feitas tanto por agentes do
mercado financeiro, por meio do Boletim Focus do Banco Central, quanto pela
Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O expressivo crescimento tem, entre suas consequências, um
forte aumento na criação de empregos, chegando-se a um cenário em que a força
de trabalho do país já está quase toda ocupada. Hoje, as empresas encontram
grandes desafios para preencher os postos que geram. Um problema que é
agravado, ainda, por desvios que acontecem em programas assistenciais como o
Bolsa Família, uma ação importantíssima, mas que abrange quase 30 milhões de
beneficiários em idade economicamente ativa, dificultando a contratação dessas
pessoas em regiões que têm sobras de vagas de trabalho.
Surpreendentemente, o Comitê de Política Monetária (Copom)
aponta a saturação do mercado laboral e a consequente pressão inflacionária
sobre os salários – causada pela disputa entre setores e empresas por um
contingente de trabalhadores já empregados – como as principais razões para a
elevação expressiva da taxa básica de juros. É justamente nessa alta demanda
por mão de obra que reside a contradição em que o país se encontra.
Uma medida que, mais do que fazer a necessária contenção de
um eventual descontrole inflacionário, tem como efeitos colaterais a inibição
dos investimentos produtivos privados e a desaceleração do crescimento
econômico. Daí vem a impressão, contida na pergunta do título deste artigo, de
que o Brasil não pode vislumbrar um ciclo mais robusto de expansão sem que,
imediatamente, qualquer expectativa positiva seja frustrada pela realidade.
O fato é que essa contradição expõe uma armadilha estrutural
em que o país está embrenhado. O alto índice de ocupação dos postos de trabalho
não resulta em aumento de produtividade. Sem ganhos expressivos de escala, as
empresas acabam repassando os aumentos de custos salariais ao preço final das
mercadorias, alimentando ainda mais o processo inflacionário. No caso dos
produtos industrializados brasileiros, inseridos em um panorama de forte
concorrência global, isso representa também uma expressiva perda de competitividade.
A solução para esse dilema passa por um verdadeiro choque de
inovação no setor produtivo. É fundamental promover a modernização do parque
industrial brasileiro, com investimentos em tecnologia e automação que permitam
às empresas aumentar sua produtividade sem depender exclusivamente da
contratação de mão de obra. Isso não significa a substituição pura e simples de
pessoas por máquinas, mas a possibilidade de fazer com que empresas e
trabalhadores sejam mais produtivos com o uso de equipamentos e processos atualizados.
Quando o setor produtivo conseguir produzir mais utilizando
máquinas e tecnologias de ponta, certamente a economia do país poderá crescer
de forma sustentável. Se hoje o Brasil tem um PIB anual de aproximadamente US$
2,1 trilhões, certamente poderia chegar a US$ 4 trilhões. Não por sua expansão
populacional ou por altas na taxa de pessoas ocupadas, mas pela ampliação de
sua produtividade e aumento do valor agregado de seus produtos. O que, por sua
vez, permitiria a elevação do nível salarial sem gerar pressão inflacionária.
Obviamente, a melhoria de todo esse panorama passa por
medidas que precisam ser adotadas pelas diferentes esferas do poder público
para aprimorar o ambiente de negócios brasileiro e estimular que a iniciativa
privada faça os investimentos necessários. Uma delas é a busca pelo equilíbrio
fiscal e a eficiência dos gastos públicos, essencial também para o controle
inflacionário.
O governo federal precisa adotar políticas públicas que
melhorem a distribuição de renda da população e reconhecer que a geração de
riqueza tem sua origem na iniciativa privada. O Estado jamais ocupará o papel
do setor empresarial nessa função.
Outra, que vem sendo incansavelmente defendida pela
Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), é a criação de políticas industriais
que criem estratégias efetivas para que o setor se atualize no país, tendo
assim condições de competir em condições de igualdade e se inserir de fato nas
cadeias globais de produção. Além de defender uma política federal mais ampla e
efetiva, que permita à indústria um grande salto tecnológico, entendemos que é
também papel de estados e municípios estimular o desenvolvimento industrial.
No Paraná, a Fiep já colocou em andamento, desde 2024, um
processo para construção de uma proposta de política industrial para o estado,
cuja indústria já é a quarta maior do país e tem potencial para crescer ainda
mais. Entendemos que, com um conjunto de ações que busque soluções para
desafios enfrentados em áreas como infraestrutura, empregabilidade,
qualificação profissional, inovação e acesso ao crédito, entre tantas outras, o
Paraná poderá se transformar no melhor lugar para a indústria do país.
Acima de tudo, o que queremos é garantir uma rota de crescimento. Por sua grande capacidade de alavancar o desenvolvimento social pelo aumento da renda per capita, inclusive por ser um dos setores que mais colaboram com a balança comercial positiva do país com suas exportações, irradiando efeitos positivos para os demais segmentos e para toda a comunidade, a indústria é, sem dúvida alguma, o setor que tem mais condições para impulsionar nossa evolução. Por meio dela, acreditamos, sim, que o Brasil pode crescer muito e de maneira sustentável.
Edson Vasconcelos é presidente do Sistema Federação das
Indústrias do Paraná (Fiep)