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Muito mais que um pastel

Imagem ilustrativa da imagem Muito mais que um pastel

Por Giovani Marino Favero 

Nunca vi ninguém triste comendo pastel, mas talvez muitos ficarão reflexivos nos próximos dias. Depois de mais de trinta anos, a tia Tina e o tio Zé não estarão mais na feira da Benjamim ou do Jardim Carvalho. Para os mais antigos, é quase uma despedida de um hábito que remonta aos tempos em que tínhamos feiras livres nos bairros, como Uvaranas, São José e outros.

A banca, referência para minha família e tantas outras, iniciou sua jornada em 1990, em uma época de Brasil caótico economicamente, mas que redescobria a democracia. A tia veio para Ponta Grossa para estudar, formou-se na UEPG, e o tio veio logo atrás, sempre muito apaixonado. Nos anos 70, diz-se que ele era "fazendeiro" porque vendia "fazendas" — os tecidos das lojas Pernambucanas. O Sr. José trabalhou em empresas renomadas, como Purina e Guabi, além de ter contribuído para a gestão da prefeitura no período Wosgrau. Poucos sabem, mas ele também é economista formado pela UEPG.

Foi a tia Tina quem decidiu, na última década do século passado, montar a Kombi do pastel na feira livre. O tio Zé, que dividia seu tempo entre outros trabalhos, acabou abraçando de vez o negócio tempos depois.

Sempre me divirto ouvindo as histórias deles: "Lembro da filha de tal pessoa desde que era bebê; agora são os filhos dela que vêm comer pastel comigo." Gerações passaram pela banca.

Lembro de minha avó, preocupada nos dias de frio intenso, com o choque térmico entre o óleo fervente e o vento gelado que dominava certas épocas do ano. Ou das chuvas torrenciais, especialmente nas terças-feiras do Jardim Carvalho, onde a feira era a céu aberto, como ela gostava de lembrar.

Haverá, sim, uma lacuna. Não só do prazer de saborear uma comida tipicamente brasileira, mas de algo ainda mais valioso: o encontro. O pastel era o pretexto, mas a banca era o elo que unia o passado ao presente, os amigos às famílias, e fazia da feira um ponto de encontro pulsante em nossa cidade.

Agora, resta-nos a saudade e as histórias que se acumulam como recheios de um pastel que nunca acaba. Porque a feira sem a tia Tina e o tio Zé não será a mesma, mas eles deixaram marcas indeléveis — nas memórias, no paladar, e no coração de quem teve o privilégio de compartilhar esse capítulo da história de Ponta Grossa.

Que o próximo pastel, onde quer que seja saboreado, traga com ele o gosto de gratidão por tudo o que vivemos ao lado deles. E que essas lembranças nos lembrem que, às vezes, um simples pastel pode ser muito mais do que parece: pode ser o sabor de uma vida inteira.

Giovani Marino Favero é professor associado do Departamento de Biologia Geral da UEPG.

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