Debates
Inovação e eficiência no campo: o papel crucial da transformação digital
Da Redação | 23 de abril de 2024 - 00:24
Por Luciana Miranda
No limiar entre tradição e inovação, o setor do agronegócio
confronta-se com a urgência de uma transformação que é tanto cultural quanto
tecnológica. A digitalização, longe apenas de deixar mais moderno os processos
estabelecidos, representa a reinvenção da produtividade agrícola. Estamos
testemunhando uma era onde a inteligência artificial, o big data e a internet
das coisas (IoT) não são mais termos reservados para o lado urbano das cidades,
mas são, de fato, a nova realidade do campo.
Segundo o Banco Mundial, o setor é responsável por 10% do
PIB dos países da América Latina. Só no Brasil, já representa 24,4% do PIB,
estimado em R$ 2,63 trilhões (Cepea/CNA). E parte desse resultado pode
ser atribuído à inovação.
Desde a década de 70, o agronegócio no Brasil se destacou
por adotar a prática de duas safras anuais, um marco inicial em sua trajetória
de inovação. Essa evolução não se deu apenas pelo avanço no maquinário, mas
também pelo significativo investimento em pesquisa e desenvolvimento,
culminando em um impressionante aumento de 59% no valor bruto da produção
agrícola.
A ascensão é marcada por um incremento médio anual de 1,4%
na eficiência (Brasil, 2021), resultado principalmente da redução do uso do
solo e da incorporação intensiva de tecnologias avançadas.
Digitalização e produtividade agrícola
O agronegócio está vivenciando uma era de disrupção
tecnológica, a digitalização, embora inicialmente possa parecer distante do
contexto rural, tem demonstrado um alinhamento natural com as necessidades do
campo. Implementações digitais estratégicas têm proporcionado um aumento médio
de 20% na eficiência operacional, enquanto a otimização de recursos tem levado
a uma redução de custos que pode chegar a 30%, segundo projetos recentes em que
eu tive a oportunidade de participar.
Com o emprego de ferramentas avançadas, o setor tem
testemunhado melhorias notáveis tanto em termos de produção quanto na gestão
sustentável de recursos.
Projetos de implementação de sistemas de monitoramento de
combustível baseados em IoT, por exemplo, têm mostrado ganhos significativos na
eficiência do uso de recursos que resultam em uma redução de 25% no consumo de
combustível por meio de otimização logística e prevenção de desperdícios. Uma
boa taxa de economia, considerando que o combustível é um dos maiores custos
variáveis na operação agrícola.
Impacto na redução de custos
Mas nem tudo são flores. O agronegócio enfrenta desafios
únicos em termos de conectividade e acesso a informações em tempo real. De
acordo com o Agtech Report 2023, 73% das propriedades rurais brasileiras não
têm acesso à internet.
Por isso, soluções como aplicativos assíncronos que
funcionam offline, por exemplo, atuam bem neste cenário. Estes, não só permitem
o acesso a informações críticas e gestão de tarefas, como também aprimoram a
comunicação entre as frentes de trabalho, resultando em melhor planejamento e
execução das operações agrícolas.
Atualmente, existem, por exemplo, projetos que envolvem
soluções de pagamento digital integrado e sistemas de crédito simplificados que
permitiram às operações agrícolas uma diminuição em seus ciclos de pagamento e
recebimento em 35%, aumentando a liquidez e reduzindo a necessidade de capital
de giro. Essas plataformas também têm proporcionado uma economia direta em
taxas de transação e custos administrativos, com relatórios apontando uma
diminuição de até 40% nestes itens.
Os dados não mentem: a digitalização não é apenas um
complemento ao agronegócio — ela é um componente crítico, um verdadeiro divisor
de águas que amplia horizontes e abre caminho para um futuro onde eficiência e
sustentabilidade caminham lado a lado.
Com ganhos expressivos em redução de custos e melhorias de
eficiência, a transformação digital se estabelece como a chave para um
agronegócio resiliente, próspero e mais competitivo.
É um convite à mudança de paradigma, uma revolução que
transcende as barreiras tradicionais do campo. No centro dessa revolução,
existe a possibilidade de uma conectividade sem limites, uma rede de
informações que permeia cada hectare, cada operação, cada decisão. Enquanto
avançamos em direção a esse futuro, o tempo de resistência ficou para trás; é
hora de alavancar a mudança, de liderar a evolução. Este é um ponto de virada
para a transformação.
Luciana Miranda é VP e CMO da AP Digital Services