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Imagem ilustrativa da imagem Grão de areia

 Por Giovani Marino Favero

O ano de 2023 tem sido extremamente sombrio para mim, muitos amigos e conhecidos com idades próximas à minha estão morrendo. Uma sequência triste de um velório a cada duas semanas. Nunca havia vivenciado um período assim. Sempre comentamos que há os anos das festas de debutante, depois das formaturas, seguidos pelos casamentos, na sequência os nascimentos, aniversários de criança, e, infelizmente, dos velórios. Só que essa ordem está um pouco rápida esse ano. Muitas pessoas entre quarenta e cinquenta anos nos deixando.  

Quando meu pai faleceu em dois mil e quinze, meu filho, ainda muito pequeno, tentou me confortar com a poética referência de que o vovô tinha virado uma estrela. Um momento ímpar para mim, pois ele tinha apenas 4 anos e deveria ter escutado isso de alguém mais velho ou da televisão. Com certeza foi um momento marcante em vários sentidos.

Voltando a 2023, no enterro do irmão de um de meus melhores amigos, morto aos 44 anos, o capelão fez uma bela fala. Confesso que quando vi o senhor, descendente de poloneses, com fortes sardas e o cheiro característico do colágeno septuagenário, não esperava nada de confortante em uma situação de incredulidade pela finitude de uma vida tão boa, amigável e jovem.

O capelão, com seu maravilhoso sotaque (sem ironias, gosto mesmo), falou da passagem pela terra e de como nosso corpo não é nada, mas que a eternidade material era certa, pois nossa carne faria parte da terra e estaria para sempre vinculada a partículas de pó, como grãos misturados nesse universo material. A alma, sim, teria um caminho ao lado do criador.

Essa relação de eternidade material é uma visão que sabemos, mas pouco refletimos.

Em uma coluna no Estadão em 2017 (Há tantas estrelas no Universo quanto grãos de areia na Terra?, 25/05/2017) , João Cortese refaz o famoso cálculo comparativo entre grão de areia na Terra e a quantidade de estrelas no Universo. O que chamou minha atenção é que, mesmo antes do Hubble, esse cálculo parece estar próximo ao real, algo em torno de 100 sextilhões de estrelas.

Ninguém sabe se nos tornaremos estrelas, mas com certeza voltaremos a ser grãos de alguma matéria.

No início desse mês de julho tive a visita do meu irmão com suas filhas e fiz questão de leva-los ao Museu de Ciências Naturais da UEPG (https://www2.uepg.br/mcn/). Dentre as várias atrações científicas estão dois grãos de areia em particular, um fragmento da Lua e um de Marte. Naquele instante, pensei nas palavras do capelão, e a relação entre o material da vida e a imortalidade.

Giovani Marino Favero, pró-reitor de pesquisa e pós-graduação e professor associado do Departamento de Biologia Geral da UEPG.

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