Debates
Bullying: da vítima ao espectador
Da Redação | 07 de abril de 2022 - 01:13

Por Maísa Pannuti
O bullying é um tipo particular de violência,
caracterizado por agressões sistemáticas, repetitivas e intencionais, contra um
ou mais indivíduos que se encontram em desigualdade de poder, gerando
sofrimento para as vítimas, agressores e comunidade. Ele pode ocorrer de várias
formas, bem como de maneiras combinadas, dentre elas, o bullying verbal,
físico, material, psicológico, sexual e, um tipo muito específico, que é o
virtual ou cyberbullying.
Este último é praticado por meio de ferramentas digitais e
provocam traumas e sofrimento inimagináveis, uma vez que a propagação das
difamações pelo efeito multiplicador das postagens é praticamente instantânea,
não havendo possibilidade de exclusão dos conteúdos. Além disso, extrapola os
muros da escola e expõe a vítima ao escárnio público, gerando danos na
autoestima e na identidade, de modo que, o que poderia ser de caráter privado,
torna-se público.
A análise sobre o bullying não pode ficar restrita
apenas ao agressor, devendo sempre ser considerada a tríade de participantes:
o agressor, que é aquele que vitimiza; a vítima, que é quem sofre repetidamente
as consequências dos comportamentos agressivos; e os espectadores, que são
aqueles que assistem às práticas, seja presencialmente ou de forma virtual,
muitas vezes se calando por medo de sofrer represálias e serem as novas
vítimas.
Todas as formas de bullying precisam ser
combatidas, assim como todos os envolvidos precisam de orientação e de ajuda. É
importante considerar que não é apenas a vítima que deve receber apoio, os agressores
também necessitam de orientação, assim como os espectadores, que desempenham um
papel muito importante, sendo fundamental desenvolver a responsabilidade de
que, ao presenciar uma cena de bullying, não se deve calar.
Os danos para quem sofre, para quem pratica e, mesmo para
quem testemunha a violência, muitas vezes podem ser irreparáveis, devendo ser
destacados: baixo rendimento acadêmico, problemas de autoestima, sensação de
impotência, desenvolvimento de condutas delinquenciais, problemas psicossomáticos
e transtornos emocionais graves (depressão; anorexia; bulimia; transtornos de
ansiedade; ideação suicida; e suicídio).
Alguns sinais de alerta podem ser observados nos envolvidos
no bullying: no caso das vítimas, muitas vezes, começam a apresentar baixo
rendimento escolar, assim como fingem estar doentes para faltar à aula; outras,
sentem-se mal justamente perto da hora de sair de casa. Na escola, podem ficar
isoladas e apresentar postura retraída em sala de aula, mostrando-se tristes,
deprimidas ou aflitas.
Já os agressores também podem apresentar alguns indicativos,
tais como pouca habilidade social e falta de empatia ao realizarem
brincadeiras de mau gosto, às quais podem evoluir para gozações, risos
provocativos, hostis e desdenhosos, assim como tentativas de dominação dos
outros por meio de ameaças diretas ou indiretas, insultos, apelidos pejorativos
e agressões físicas.
É necessário que pais e educadores observem atentamente as
crianças e os adolescentes, uma vez que, por meio de observação atenta, escuta
ativa e um canal sempre aberto ao diálogo, será possível perceber eventuais
dificuldades e mudanças de comportamento, assim como identificar interesses e
padrões de socialização.
A prevenção e o combate ao bullying são de
responsabilidade de todos, devendo começar pelo exemplo que os adultos devem
ser para crianças e adolescentes. Eles aprenderão a respeitar as diferenças se
conviverem em um ambiente pautado pelo respeito, solidariedade, generosidade e
cooperação, no qual as diferenças são vistas como elementos que enriquecem a
sociedade, livres de qualquer tipo de preconceito.
De nada adianta a simples punição aos agressores, ou apenas
a proteção às vítimas, se a comunidade não se conscientizar de que o bullying é
um fenômeno social e multifatorial e que, por isso, deve ser combatido desde
sua raiz, o que implica o engajamento de todos na construção de uma sociedade
mais plural e aberta à diversidade.
*Maísa Pannuti, psicóloga, mestre e doutora em Educação, é
especialista em Psicologia no Centro de Inovação Pedagógica, Pesquisa e
Desenvolvimento (CIPP)