Debates
O País do futuro
Da Redação | 25 de janeiro de 2022 - 01:50
“Menos armas e mais comida, menos hipocrisia e mais
transparência, mais vacinas distribuídas igualmente e menos fuzis vendidos
imprudentemente.”
Papa Francisco
O escritor austríaco Stefan Zweig assina o livro “Brasil, um
país do futuro”, no qual descreveu suas percepções sobre o potencial da nossa
nação. O ensaio é de 1941, quando o autor vivia em Petrópolis, onde se
estabeleceu após fugir das atrocidades da segunda guerra mundial, e onde se
suicidou no ano seguinte à publicação da obra.
O livro expõe uma análise de Zweig sobre o País, baseada no
que vê em suas andanças e daquilo que compreende a partir do contato com os
brasileiros. Sua admiração pelo povo é que o fez acreditar na construção de uma
sociedade mais próspera. Desde então, o Brasil ganhou uma espécie de sobrenome:
um país do futuro.
A expressão cunhada há 80 anos nos persegue até o hoje e ao
que parece ainda vai nos acompanhar por um bom tempo. O fato é que este futuro
nunca chega e, mantidas as atuais condições de temperatura e pressão, fica cada
dia mais distante. É o que prevê a Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE).
[…] estudo divulgado pela OCDE avalia que o padrão de vida
no Brasil deve ficar estagnado pelos próximos 40 anos
Um estudo divulgado pela instituição avalia que o padrão de
vida no Brasil deve ficar estagnado pelos próximos 40 anos. A análise projeta
que o Produto Interno Bruto (PIB) nacional terá um crescimento médio de 1,1%
nesta década e de 1,4% entre 2030 e 2060. Para a OCDE, a população
economicamente ativa e a taxa de ocupação no mercado de trabalho tendem a ter
indicadores negativos.
Na régua que a organização usa para medir o padrão de vida dos países, os EUA estão no ponto mais avançado, que pode ser classificado como um índice 100. Na comparação com os americanos, o Brasil hoje está na casa 23 e deve chegar a 27 até 2060. A China, com uma população quase sete vezes maior que a brasileira, está no patamar 26 e deve saltar para 51 no mesmo período.
O estudo da OCDE afirma que o inexpressivo progresso
brasileiro pode ser alterado, desde que haja avanços nas reformas estruturais.
Caso contrário, seguiremos no atoleiro ou andando de lado. A questão fiscal e o
controle das contas públicas devem ser os principais focos de atenção, principalmente
em razão dos reflexos da pandemia.
Impossível acreditar que o governo que está aí tenha o
mínimo de capacidade de lidar com os desafios que o Brasil precisa vencer. O
grande feito, até o momento, foi ampliar a parcela de brasileiros na condição
de miséria. São 20 milhões de pessoas convivendo com a fome.
Confirmado o alerta da OCDE, seguiremos com baixas taxas de
crescimento e pífios desempenhos na produção de riquezas e de qualidade de vida
Ao contrário de combater a degeneração econômica, para
evitar que muitas famílias tivessem que passar pela degradante situação de
conseguir um pedaço de osso, pé de galinha ou carcaça de peixe para comer, o
presidente preferiu gastar seu tempo combatendo a vacina contra a Covid-19 e
questionando a urna eletrônica. Todos sabemos que ninguém come voto impresso!
A agenda política, o negacionismo da crise sanitária e a
crença em remédios sem eficácia produziram 620 mil mortes e nenhuma ideia que
permita vislumbrar a retomada da economia e da estabilidade. Confirmado o
alerta da OCDE, seguiremos com baixas taxas de crescimento e pífios desempenhos
na produção de riquezas e de qualidade de vida.
Sem um rumo, a situação brasileira tende a piorar no curto
prazo. A rota atual leva a mais exclusão social e mais desesperança. As
projeções econômicas para o ano são sombrias. Levantamento do Banco Central
junto às instituições financeiras aponta que o PIB vai crescer apenas 0,36% em
2022, e alcançar 1,80% e 2% nos próximos dois anos.
A taxa básica de juros, principal instrumento para segurar a
alta de preços, deve fechar o ano em 11,5% e se manter elevada entre 2023 e
2024. A inflação, que bateu 10% em 2021, deve cair para a casa de 5% neste ano.
A expectativa do mercado para a cotação do dólar em 2022 é de R$ 5,60.
O Brasil precisa crescer mais rapidamente para trazer o
futuro mais perto de todos […]. O País merece mais respeito e menos politicagem
O histórico da gestão Bolsonaro não nos permite acreditar
que este governo consiga reverter o cenário de degradação, nem hoje e nem no
futuro. A sensação é de que o presidente e sua equipe apostam no quanto pior
melhor, e vivem a expectativa de que qualquer esmola que ofereçam ao povo vai
resgatar alguma simpatia.
O povo brasileiro tem pressa, precisa de saúde, emprego e
comida na mesa. O Brasil precisa crescer mais rapidamente para trazer o futuro
mais perto de todos, e não só da elite. O País merece mais respeito e menos
politicagem.
Luiz Claudio Romanelli é advogado, especialista em gestão
urbana, deputado estadual e vice-presidente do PSB do Paraná