Debates
Riscos ambientais
Da Redação | 11 de janeiro de 2022 - 02:46
Por Isonel Sandino Meneguzzo
O ano de 2022, semelhante a todo início de ano, começou com
algumas tragédias que vem atingindo diferentes locais do país. Os desastres
naturais, especificamente, no cenário nacional, possuem uma tendência de
ocorrer nesta época do ano, devido fundamentalmente à ocorrência de chuvas
torrenciais. Evidente que outros fatores contribuem para isto. Porém, a água é
elemento fundamental na origem destes processos (inundações, deslizamentos,
quedas de bloco, por exemplo).
Cabe destacar que diversos processos que afligem a
humanidade como um todo, são naturais e suas ocorrências são comuns em nosso
planeta. Portanto, estamos sujeitos a nos deparar com um rio que inunda suas
planícies, com um deslizamento de terra ou uma queda de bloco rochoso em um
talude de uma estrada. Em outras palavras: estamos sim, suscetíveis a riscos,
dos mais variados. Apesar da probabilidade ser quase zero, até um meteorito
pode atingir nossas cabeças, carros ou casas.
Porém, para muitos destes processos naturais existem
alternativas técnicas que podem minimizar riscos nas mais diferentes atividades
que os seres humanos realizam em nosso planeta. Vale lembrar o contexto
sanitário e ambiental atual: o uso de máscaras e o distanciamento físico,
reduzem as chances de uma pessoa ser contaminada por algum vírus que cause
doenças respiratórias.
O caso ocorrido no último dia 08 de janeiro em Minas Gerais
é emblemático. Primeiro porque existem estudos de caráter técnico-científico
que poderiam subsidiar, tanto o segmento empresarial do setor turístico, como
os órgãos ambientais e de segurança, no que se refere à correta utilização da
natureza pelo ser humano.
Estudos detalhados, com a participação de profissionais da
área de Geociências, indicarão quais foram os fatores responsáveis pelo que
ocorreu em Capitólio. Pelas imagens até então visualizadas é possível inferir
que haviam indícios de que o maciço rochoso era instável e seu desprendimento poderia
ocorrer. Ainda no campo das hipóteses, o que se verificou no local foi um
processo natural, em que as rochas fraturadas (quebradas), estão naturalmente
suscetíveis a ação das águas (das chuvas e de rios). A água, por sua vez, é
responsável pela chamada ‘decomposição’ das rochas, processo natural que atua
ao longo de milhares de anos causando sua alteração física e química,
tecnicamente denominado de intemperismo.
Cabe aqui realizarmos um paralelo em relação às rochas que
ocorrem na região dos Campos Gerais. Rica em rochas areníticas, a região abriga
diversos locais de interesse turístico, com presença de cachoeiras, cavernas,
canyons, fendas, furnas e sumidouros. Torna-se evidente, portanto, que também
aqui estamos sujeitos a sofrer diversos tipos de acidentes nestes ambientes.
Assim como em Minas Gerais, temos também aqui inúmeros
paredões rochosos, esculpidos em rochas sedimentares que naturalmente sofrem
com a ação das intempéries, tornando-as mais frágeis, e, consequentemente
suscetíveis a desencadear algum tipo de processo natural, tal como o
desabamento de um teto de caverna ou uma queda de blocos rochosos, por exemplo.
Os diferentes locais dos Campos Gerais, com suas belezas naturais excepcionais merecem a atenção e cuidado de seus visitantes. Cabe aos proprietários destes pontos turísticos juntamente com o poder público ficarem atentos e realizarem medidas efetivas, pautadas em critérios técnico-científicos, objetivando que as visitas sejam seguras, com o menor risco possível.
Isonel Sandino Meneguzzo (Professor do Departamento de Geociências
da Universidade Estadual de Ponta Grossa - [email protected])