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Quando não ter dado certo foi o melhor que aconteceu
Da Redação | 10 de setembro de 2021 - 10:35
Por Soraya Rodrigues de Aragão
Diante dos nossos planejamentos, metas e objetivos, é
natural que gostaríamos que determinado projeto tivesse vingado. Pode ser a
viagem dos nossos sonhos, a compra daquela casa de praia, a conquista da pessoa
que consideramos “ideal” ou mesmo coisas simples como um impedimento a um
encontro com os amigos, o avião que atrasa, fazendo-nos perder o compromisso,
dentre outros acontecimentos. E diante dos acontecimentos malogrados, nos
sentimos culpados, até mesmo em débito conosco.
Então, nos lamentamos, nos frustramos, dizemos que a vida
não é justa ou que Deus nos esqueceu, que somos vítimas do “destino”, sem
cogitarmos que talvez foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. Muitas
vezes, aquilo que se apresenta aparentemente promissor pode se converter em uma
verdadeira adversidade. O que quero dizer é que certas perdas são verdadeiros
ganhos e que certos ganhos são verdadeiras bombas, mas não podemos antever o
resultado das coisas e mesmo tendo agido corretamente e feito tudo da melhor
forma possível, simplesmente o que queríamos, não aconteceu. Ou pior, aconteceu
exatamente o contrário do que tínhamos planejado criteriosamente. Vale à pena
salientar que não faço referência quando o naufrágio das nossas expectativas e
esperanças acontecem por irresponsabilidade, negligência, falta de preparo, de
vontade, de planejamento, foco ou determinação, mas de um verdadeiro livramento
ou simplesmente não era o tempo previsto para o que queriamos que acontecesse.
Geralmente, temos o hábito de avaliar os fatos da vida a
partir dos nossos critérios e modelos, julgando que algo seria “bom” ou “ruim”,
que aquilo seria benéfico ou maléfico, que aquela conquista seria a melhor da
nossa vida, que permanecer com uma determinada parceria seja de namoro,
trabalho, emprego ou amizade poderia nos deixar realizados e felizes. No
entanto, esquecemos de avaliar um ponto importante: tudo na vida é relativo e
aquilo que aos nossos olhos possa parecer a melhor proposta do mundo, pode se
converter em algo prejudicial o qual preferiríamos que não tivesse acontecido,
sequer cogitado. Isto advém do fato de julgarmos os acontecimentos sem
considerarmos os ajustes no meio do caminho, o desenrolar dos eventos,
hipotetizando e fantasiando o que seria bom para nós, mas sem levarmos em conta
que não temos o controle de tudo o que acontece em algumas circunstâncias da
vida. Sim, a vida é cheia de surpresas.
Sim, em alguns momentos não temos as “rédeas da nossa vida
em nossas mãos”, e então nos angustiamos, nos sentimos ansiosos, impotentes ou
mesmo incompetentes. Contudo, cedo ou tarde, a vida se encarrega de nos mostrar
que aquele benefício específico que buscávamos poderia ser um meio para tirar
nossa tranqüilidade e a nossa paz; que aquele “ganho” iria subtrair muito mais
coisas valiosas para nós e que não reconhecemos, somente diante de uma perda. O
contrário também é válido. Também tem a questão do tempo. O que no período de
nossas vidas era bom, pode tornar-se um verdadeiro estorvo, como um fruto que
apodrece.
Não podemos esquecer que deveremos ter as rédeas da nossa
vida, mas a charrete que nos carrega pode quebrar a roda, o cavalo pode querer
descansar ou a própria rédea da vida pode se quebrar. Não estou dizendo que
devemos ter uma postura negativa, tampouco passiva diante da vida, mas reitero:
muitas coisas fogem do nosso controle, pois não somos onipotentes, somos parte
de um todo, de um sistema onde a nossa vontade de um é apenas um fator dentre
muitos em uma dinâmica coletiva chamada vida. E é exatamente neste ponto que a
partir de uma percepção individualista, onde não levamos em conta o todo, é que
a vida nos mostra o quanto é sábio termos humildade. Faça tudo o que estiver ao
seu alcance, mas não pretenda ter controle de tudo; segure as rédeas da sua
vida, mas esteja preparado de que algumas vezes quem nos comanda no “carro
desta vida” pode empreender um outro caminho independentemente da nossa vontade
e isto pode ser o melhor acontecimento naquela circunstância. Agradeça.
Algumas vezes confiar na sabedoria da vida e agradecer pelo
que aconteceu como sendo o melhor possível, não é uma postura resignada,
passiva, em que se traduz por falta de persistência, autossabotagem ou mesmo
permanência na zona de conforto. Segure as rédeas da sua vida em suas mãos, mas
permita-se também ser guiado pela sabedoria do todo, pois não temos o
entendimento de tudo. Na maioria das vezes a gente não sabe o que diz, mas a
vida sabe o que faz. E não esqueça: Muitas vezes quando algo não der certo, foi
a melhor coisa que podia ter acontecido. Agradeça. Agradeça sempre! É a vida
florescendo o que melhor poderia ser.
Soraya Rodrigues de Aragão - Psicóloga,
Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde.
Escritora e palestrante. Autora de 4 livros publicados. Site:
www.sorayapsicologa.com Email: [email protected]