Debates
Uma nova primavera
Da Redação | 26 de agosto de 2021 - 01:49
Por Davi Carneiro Ribeiro
O discurso pró-renovação da política brasileira é antigo,
quase histórico. Muitos deputados, prefeitos, governadores e presidentes são
eleitos, embalados pelos ventos agradáveis da primavera, “primeiro verão” em
latim, trazendo consigo a promessa de novos ares – e se vão, levando com eles a
frustração de todo um povo que, à grande maioria das vezes, se decepcionou ao
notar que o discurso da campanha de outrora prometeu muito mais do que o
mandato acabou por realmente entregar. Enfim, o inverno chega. A partir deste
ponto, faíscas populares e manifestações calorosas com pautas pró-primavera,
antes presente, são comuns.
Atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro foi eleito
impulsionado pelos ares clássicos do primeiro verão. Alimentara a esperança da
renovação política e expectativas extraordinárias para, enfim, “o fim” da
corrupção. Carregando consigo promessas de um Brasil – finalmente – amigável ao
liberalismo econômico, atraiu milhões de votos esperançosos. O novo líder
maior. O mais novo vencedor.
Entretanto, as flores caíram. O sol já não é mais tão
quente. O inverno chegou.
Bolsonaro constrange com um mandato "sem cor", sem
ideologia definida e contraditório em muitos capítulos. O exato oposto do
pregado em sua campanha eleitoral, tão cheia de personalidade e certezas.
O atual presidente faz pouco: pregando até mesmo certa
“rivalidade” com o popular “Centrão” político durante seus tempos de campanha,
acabou por se render aos seus caprichos e exigências em busca de popularidade
dentro da Câmara e Senado. Além disto, seu desdém para com a pandemia do
Coronavírus (e posteriores vacinas) o enfraqueceu quanto aos índices de
popularidade Brasil afora.
Envolveu-se também em outras polêmicas, a exemplo do
fracasso em privatizar até mesmo instituições que independem da aprovação do
Congresso, tal como Infraero, Dataprev, Serpro e a popular EBC/TV Brasil,
popularmente conhecida “TV Lula”. Esta última, em especial, teve sua
privatização destacada em promessas de campanha – mas, no fim, apenas lhe
restou a alcunha de, agora, ser a “TV Bolsonaro”.
Questões como a quebra de recorde na liberação de emendas
parlamentares (descumprindo outro compromisso de campanha sobre o fim do “toma
lá, dá cá”) e o ocultamento de gastos do cartão corporativo (descumprindo o
compromisso da transparência no governo) fazem Jair, por fim, limitar-se a mero
sonho de uma noite de verão. Sem medo de transferir a culpa de seus tropeços em
governadores e prefeitos, Bolsonaro cumpre a trajetória da estrela de vida
curta. O melancólico papel do astro de antigo potencial que “poderia ser e não
foi”.
Em meio ao caos, muitos se perdem. Ou tentam fabricar
desculpas das quais eles mesmos, lá no fundo, sabem que decepcionam a si
próprios enquanto mentes dotadas de raciocínio lógico. Ora! Não caiamos no
impulso tentador de defender às cegas, com garras e dentes afiados, pobres
indivíduos tão imperfeitos quanto qualquer outro. Afinal, não somos obrigados a
defender o indefensável por razão de um "pacto invisível" feito
durante as eleições com o candidato escolhido da vez.
Infelizmente, muitos atravessam a existência humana na vã
tentativa de justificar erros alheios. Triste desespero de ter notado
tardiamente que compraram passagens para barcos, por vezes, já previamente
fadados ao naufrágio. Se você idolatra pessoas, está fadado à eterna frustração
e decepção.
Pois bem, as manifestações chegaram e as ruas clamam por uma
nova estação. O poeta chileno Pablo Neruda já bem escreveu: “Podes cortar todas
as flores, mas não podes impedir a primavera de aparecer”.
Seja bem-vinda!
Davi Carneiro Ribeiro é redator. Apaixonado por Ciências
Políticas, Filosofia, Religião e tudo o que direta ou indiretamente os envolve