Debates
Rumos da CPI
Da Redação | 04 de maio de 2021 - 02:02
Por Marcio Coimbra
Jair Bolsonaro já tem uma Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) para chamar de sua. Desde a redemocratização, todos os governos passaram
por escrutínios no Congresso Nacional. Não será a primeira, nem a última vez.
Enquanto isso, a velha máxima da política de Brasília segue assombrando o
Planalto: Todos sabem como uma CPI começa, mas nunca como termina. Resta saber
como a base bolsonarista irá se comportar. Até aqui, não faltaram erros.
O presidente é um político intuitivo, porém pouco
estratégico. Isto ficou claro na falta de articulação dentro do Congresso
Nacional em seus anos no Planalto. Uma agenda econômica que nunca decolou,
reformas que nunca saíram e derrotas sucessivas em outras votações marcaram o
estilo errático de Bolsonaro. Vemos a mesma trilha se repetir no começo da CPI
que irá investigar os erros na condução da pandemia.
Os riscos são grandes, uma vez que, sem uma base uma sólida
no parlamento, Bolsonaro pode ser tragado pela falta de uma tropa de choque
habilidosa e experiente. Desde o princípio, os problemas se acumularam, desde a
ausência de articuladores para evitar a instalação da comissão, passando pelo
vazamento de documentos com a estratégia a ser adotada pelo Planalto e chegando
ao pedido de liminar trapalhão que visava evitar a escolha de um parlamentar
opositor para o cargo de relator. Tudo errado.
Bolsonaro precisará trabalhar muito para evitar o pior,
especialmente por este ser um governante semeador de desafetos, alguém que
carrega a marca da ingratidão, especialista em tornar aliados em inimigos, uma
prática que pode se tornar caminho perigoso durante investigações sensíveis. O
leque de averiguações é enorme. Indicação do uso de cloroquina como tratamento
precoce, as onze oportunidades perdidas e documentadas de compra de vacinas
para a população brasileira e um rosário de denúncias que devem ainda aterrizar
nas mesas dos parlamentares.
Enquanto isso, 116 pedidos de impeachment se acumulam nos
escaninhos da Câmara dos Deputados. Apenas nos quatro primeiros meses deste ano
foram 57. A pressão está crescendo e Bolsonaro pode ser tragado pela soma de
acontecimentos nesta pandemia e falta de blindagem política real em sua defesa.
Com a economia em descompasso, é aquilo que se chama de tempestade perfeita. Um
acontecimento que já foi responsável por ceifar mandatos presidenciais na
história recente.
A sorte de Bolsonaro é seu mandato estar no fim e um
impeachment neste momento não interessar à oposição, tampouco os postulantes ao
cargo presidencial no próximo ano. O presidente cai somente se houver um fato
arrebatador. Ainda assim, impeachment é um processo demorado que leva no mínimo
seis meses. Do contrário, a tendência é seguir sangrando com as investigações,
seus desdobramentos, falta de vacinas, mortes e economia em desacerto. Chegaria
perigosamente avariado para disputar em 2022.
Os rumos da CPI são incertos, mas os elementos, listados
pelo próprio governo, são contundentes e documentados. É difícil enxergar vida
fácil para o Planalto nestas investigações. Segundo aquela máxima, todos sabem
como uma CPI começa, mas nunca como termina. Neste caso temos uma certeza: não
termina bem para Bolsonaro.
Márcio Coimbra é coordenador da pós-graduação em
Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie
Brasília, Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan
Carlos (2007). Ex-Diretor da Apex-Brasil. Diretor-Executivo do Interlegis no
Senado Federal