Debates
Durante os festivais
Da Redação | 15 de abril de 2021 - 01:23
Por Ben-Hur Demeneck
A comoção diante da morte de Fernando Durante uniu o espectro político e
cultural. Da “direita à esquerda”, do autor ao gestor cultural, da plateia ao
placo se lamenta a perda de 6 de abril. O fato faz pensar quanto a Cultura
importa para PG, além de ativar a lembrança de outras figuras importantes para
a cidade. Como acontece com a memória de Márcia Sielski e Ezequiel Batista,
falecidos há cerca de 8 anos.
Tão logo elas partem, figuras como Durante e Márcia Sielski deixam saudades.
Produtora cultural incansável da primeira década dos anos 2000, Sielski deu
espaço a muitos artistas e organizou uma sólida agenda cultural em tempos de
relativa inércia na economia criativa. Foi uma das representantes do Paraná na
II Conferência Nacional de Cultura, em 2010. Faleceu em 7 de outubro de 2012.
Quem frequenta festivais encontra uma galeria de tipos marcantes. Quem conheceu
Ezequiel Batista testemunhou uma paixão febril por teatro. Dramaturgo de “As
flores de Dom Jardim”, “O Circo do Zabumbá” e de dezenas de outras peças, ele
integrou o Movimento Alternativo Arte Popular Independente (MAAPI) e o Grupo
Matiz, segundo informa matéria de Eduardo Godoy presente no portal Arte PG.
Faleceu em 26 de maio de 2013.
O Jornal da Manhã publicou em sua edição impressa de 13 de abril a nota “Ópera
pode receber o nome de Durante”. O texto registra a mobilização de amigos e
familiares do produtor cultural Fernando Durante em favor de petição virtual
dirigida à Prefeitura. Pedem a instituição do nome “Teatro Fernando Durante” ao
“Cine-Teatro Ópera”, sobrepondo nome e sobrenome ao espaço já consagrado.
Como negar que Durante merece homenagem? Ou que Sielski e Batista precisam? Aos
dois faltou a visibilidade concedida por cargos públicos de destaque e
programas de televisão, tal como teve Fernando durante anos. Por outro lado, as
memórias daqueles seguem vivas. Para falar da Márcia, podemos colher relatos
com Scilas Augusto (banda Mandau). Ele recorda dela com respeito, ao lhe abrir
espaços enquanto dava seus primeiros passos como profissional. Para contar do
artista que PG perdeu, Lucélia Clarindo ficaria horas em torno do assunto
“Zecão”.
Nomes da Cultura clamam pelo registro como patrimônio simbólico do município.
Apesar de a “nomenclatura de logradouros” ocupar a Câmara Municipal tanto
quanto a fiscalização das contas públicas, no Google Maps não se acha sequer um
mísero nome de rua recordando Sielski e Batista. Um atestado de que a maioria
dos vereadores não frequenta teatros e livrarias.
O abaixo-assinado virtual iniciado pelo músico Cláudio Chaves no Avaaz sinaliza
cuidado e carinho. Não há como ser contra homenagens a quem foi relevante na
Cultura, mas vale dialogar como deve ser feita – aqui registro minha emoção
toda vez que leio o nome de Aldir Blanc na lei de emergência cultural. Talvez
acrescentar o nome de Durante a teatro de tamanho lastro histórico recaia numa
institucionalidade e numa frieza de prédio incompatíveis ao dinâmico homem de
cultura que ele foi.
Por outro lado, em vez de constar nome numa placa, seria lindo ele ter seu nome
associado a algo “em movimento”. Talvez algo como o prêmio de Melhor Ator do
Fenata. Afinal, ele foi o único cidadão de PG a receber tal honra, em 1978.
Ou, quem sabe, uma honraria mais apropriada à sua figura querida e presente no
FUC e no Fenata – o prêmio do Júri Popular. Láurea presente nos dois eventos
capaz de conter o quente aplauso do presente.
O importante aqui é preservar a memória daqueles que fizeram Cultura. Tal gesto
mantém a cidade aquecida, pulsando.
Ben-Hur Demeneck é jornalista e produtor cultural, ganhador do Mérito
Cultural Ribas Silveira em 2010.