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Um vírus que fechou Santuários, mas não venceu a fé
Da Redação | 08 de outubro de 2020 - 01:50
Por Sandro Arquejada
Toda peregrinação é diferente de um passeio, é muito mais do
que realizar um simples turismo, deve ter um sentido espiritual que aproxime a
pessoa do sagrado, como a caminhada do povo de Deus, cruzando o deserto. Nos
textos da Bíblia, vemos que Deus, muitas vezes, recorda o seu povo que,
libertado da escravidão, teve que peregrinar pelo deserto antes de chegar à
terra prometida. E não somente faz memória, muitos dos ritos e datas
importantes para os judeus e para os cristãos, como a Páscoa, por exemplo, são
fundamentados em acontecimentos que estão ligados àquela travessia de 40
anos.
A peregrinação representa a caminhada do povo ou do
indivíduo, nesta vida, rumo à verdadeira terra prometida, a pátria celeste. O
peregrino não viaja simplesmente, ele busca nos lugares santos uma experiência
de fé, algo místico, ouvir a Deus, ter uma intensa vivência de aprofundamento
com Ele, ou pedir a intercessão de algum santo, alcançar uma graça, ou ainda
agradecer um favor recebido.
Assim é a motivação de peregrinos no mundo todo, e também
com aqueles que vêm ao Santuário Nacional, em Aparecida (SP), ao Santuário de
Frei Galvão, em Guaratinguetá (SP) e ao Santuário do Pai das Misericórdias, na Canção
Nova, em Cachoeira Paulista (SP). Todos esses espaços sagrados estão no
circuito religioso do Vale do Paraíba Paulista.
Essa experiência do “deserto” é marcante para o povo de
Deus. Foi lá que o povo viu a manifestação do Senhor quando falava a Moisés;
era conduzido – uma nuvem os guiava durante o dia e uma coluna de fogo à noite
–; foi alimentado pelo maná, pão do céu, prefiguração da Eucaristia; recebeu a
instrução por meio das tábuas da lei, que Jesus daria pleno sentido com o
Sermão da Montanha; foi curado de picadas de serpentes, olhando para a serpente
de bronze, que prefigura o Cristo erguido na cruz, Ele que tomou sobre si
nossas maldições.
No atual contexto, de pandemia e de tantas incertezas, nós
percebemos quanto o povo brasileiro tem se confiado à intercessão da Mãe
Aparecida, dos Santos, além de buscar conteúdos cristãos que trazem esperança e
fé. Tal realidade aponta que Deus não desampara quem nele confia, e como com
aquele povo do Êxodo, também o faz hoje conosco. Percebemos a fé e a gratidão
das pessoas ao Senhor, e como estão ansiosas para, a partir de uma
peregrinação, voltarem a se encontrar com o sagrado.
Se os meios de comunicação e as novas tecnologias, de alguma
forma, não deixam o povo sem a presença de Deus em suas casas, são os corações
que agora estão ansiosos por irem em direção ao Senhor, voltarem à experiência
tão forte e vibrante de buscá-Lo numa peregrinação.
Esse ano será diferente, o povo tem uma barreira a mais para
vencer. No entanto, creio que mesmo com restrições, isso se fará de forma
gradual, tanto na recepção do povo nos locais de peregrinação, quanto com a
iniciativa dos peregrinos. É provável que os peregrinos privilegiem neste
momento os locais mais próximos de suas moradias. E para evitar aglomerações,
muitos devem ir com veículo próprio ou, quem nunca se aventurou, agora poderá
se animar a ir caminhando, de bicicleta ou a cavalo, como muitos fazem.
Assim como no deserto, nem serpentes, onde nem a fome e a
sede, impediram o povo de peregrinar até o seu destino, o povo brasileiro
encontrará os meios mais adequados e não diminuirá sua fé.
Sandro Arquejada é missionário da Comunidade Canção Nova.
Formado em administração de empresas pela Faculdade Salesiana de Lins (SP),
atualmente trabalha no Setor de Novas Tecnologias da TV Canção Nova. É autor
dos livros “Maria, humana como nós” e “As Cinco Fases do Namoro”, pela Editora Canção
Nova.