Debates
Ensino infantil: a esperança que podemos tirar dos dados do Ideb 2019
Da Redação | 29 de setembro de 2020 - 01:39
Por Walcir Soares Junior (Dabliu)
Avaliar em ciências sociais é uma tarefa árdua. Na avaliação
de políticas públicas, essa dificuldade se amplifica, ainda mais quando se
trata de um país com dimensões continentais como o Brasil e características
regionais tão diversas, o que prejudica até mesmo a leitura dessa avaliação. Se
decidirmos olhar para o agregado, temos uma dimensão global do problema, mas
podemos estar abrindo mão de rica informação contida nos detalhes. Se olharmos
demais para as pequenas diferenças, perdemos a dimensão global.
Recentemente, o Ministério da Educação (MEC) divulgou os
resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que avalia o
conhecimento dos alunos em português e em matemática (5º ano, 9º ano e ensino
médio, público e privado), considerando também taxas de reprovação em cada
localidade. Os dados trazem algumas evidências de que o ensino infantil
parece ter grande efetividade no desempenho dos alunos. No artigo “Evidências
da relação entre a frequência no ensino infantil e o desempenho dos alunos do
ensino fundamental público no Brasil”, publicado em 2016 pela Revista
Brasileira de Estudos Populacionais, verificamos que o efeito da pré-escola nas
notas do 5º ano - os maiores impactos em magnitude estão no 5º ano - se mostrou
positivo e altamente significante, aumentando em 11,2 e 12,5 pontos na escala
do SAEB, em português e matemática, respectivamente.
Isso quer dizer que, para um aluno médio brasileiro, apenas
ter iniciado os estudos na pré-escola (aos quatro anos de idade) podem garantir
um aumento de mais de 10 pontos na escala do SAEB, ou seja, melhorar
consideravelmente seu desempenho escolar. Esse é um efeito para o aluno médio –
efeito esse que se amplifica se olharmos para alunos em ambientes mais
desfavoráveis.
Os resultados divulgados pelo Ideb 2019 mostram que a meta
estipulada pelo MEC só foi atingida para os anos iniciais do ensino
fundamental, justamente aquelas crianças beneficiadas com a obrigatoriedade de
ingressar na escola aos quatro anos de idade (Lei 12.796/13), ainda que não a
totalidade delas. Uma evidência interessante – e também otimista – de que esses
alunos poderão melhorar o desempenho dos anos finais do ensino fundamental nos
próximos anos e também do ensino médio.
Além disso, as escolas que tiveram um melhor desempenho têm
como característica incluírem em seus currículos formas de desenvolvimento das
competências socioemocionais, evidência que tem sido amplamente difundida nos
últimos anos, no mundo todo. Assim, essas escolas de maior desempenho
evidenciam uma relação positiva entre investimentos em infraestrutura, expansão
do ensino integral e equidade nos processos.
Por fim, apesar de não ter atingido a meta estipulada pelo
MEC, o ensino médio se destacou como sendo o maior aumento ao longo da série
histórica iniciada em 2005, passando de 3,8 para 4,2, sendo Goiás o único
estado a bater a meta estabelecida, de 4,8 pontos. Ainda que estejamos longe de
boas notícias com relação à educação brasileira, prefiro olhar para as
conquistas com esperança.
Walcir Soares Junior (Dabliu), doutor em Desenvolvimento Econômico com foco em políticas públicas educacionais, é professor de Economia na Universidade Positivo.