Debates
Vamos falar sobre Ensino Híbrido?
Da Redação | 23 de setembro de 2020 - 01:42

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Desde meados do mês de março, início da quarentena no
Brasil, escolas e faculdades estão fechadas para evitar aglomerações e manter o
isolamento social, para assim inibir a propagação do coronavírus.
Posto isto, professores e estudantes iniciaram, de forma
virtual, um ensino emergencial, realizado de suas casas através do uso de TDIC
(Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação), usufruindo de plataformas
já utilizadas na Educação a Distância. Passados alguns meses, o ensino
emergencial passou a ser um ensino intencional e fomos nos acostumando com o
“novo normal” da educação, pois já nos encontramos há um semestre trabalhando
neste modelo, que foi denominado de Ensino Não Presencial.
Por diversos fatores, sejam políticos, sociais ou
financeiros, algumas escolas e faculdades estão planejando para o segundo
semestre o retorno das aulas presenciais no ambiente físico, com metade das
turmas presentes e a outra metade permanece com aulas on-line. Mas, o que tem
me preocupado, é que estão denominando este retorno às aulas de Ensino Híbrido.
O principal objetivo do Ensino Híbrido é colocar o estudante no centro de sua aprendizagem, protagonista do seu próprio conhecimento, desenvolvendo nele capacidades como: ser ativo, participativo, pensante e colaborativo. Não podemos confundir o Ensino Híbrido (que é uma Metodologia Ativa) com o que as escolas estão querendo implantar, mesclando aulas presenciais com aulas virtuais. Se o papel do aluno não mudar, não será Ensino Híbrido.
É muito mais do que a mistura da aula presencial com a aula
on-line. São combinações de atividades, com diferentes propostas, que se
baseiam em deixar o estudante no centro de sua aprendizagem e o professor,
neste caso, deixa de ser um mero transmissor do conteúdo, como tradicionalmente
exerce, e passa a ser o mediador da aprendizagem.
Nessa abordagem, o estudante realiza seus estudos em
diferentes ambientes, executa estratégias mais ativas de atividades práticas,
nas quais participa ativamente na resolução de projetos, problemas, estudos de
caso, discussões, dentre outros. Realiza pesquisas, fundamenta suas ações com o
apoio dos professores, que serão mediadores destas ações, aprende com o
trabalho colaborativo e mão na massa com os demais estudantes, em sala de aula ou
no ambiente que for estipulado ou conveniente para essa aplicação. O professor
tem o papel de incentivar, mediar e problematizar o ensino e aprendizagem,
unindo o melhor do presencial e da educação a distância e dará o direcionamento
dos estudos, conduzindo o aluno ao aprendizado ativo e autônomo.
O Ensino Híbrido é uma metodologia, um modelo que faz a
integração das TDIC nas atividades de docência. As tecnologias digitais
servirão como suporte, pois serão utilizadas com o objetivo de gerar uma
aprendizagem significativa no estudante, e que sirvam de complemento e
interação e não substituição da aula presencial. As tecnologias são apenas
recursos, sendo até mesmo dispensáveis em algumas ocasiões, pois elas precisam
alterar a dinâmica da sala de aula, organizando espaços e tempos e interação
entre os estudantes.
Inovação na sala de aula e não mistura de modalidades
O ensino on-line, fiel aos padrões de inovações disruptivas,
avançou firmemente de forma ascendente para alcançar uma variedade mais ampla
de estudantes e, em certos casos, até começou a substituir o ensino
tradicional. Um dos avanços mais significativos foi se basear mais fortemente
em experiências físicas, ou presenciais, para fornecer apoio e sustentação para
estudantes que aprendem nesta modalidade. A localização física simplesmente não
importa, desde que o aluno tenha boa conexão com a internet e disposição para
uma experiência totalmente virtual.
São fatores de rupturas almejados há uma década, que hoje
estão em momento de implementação e geram mudanças na educação, para uma sala
de aula centrada no aluno, para o ensino on-line no currículo escolar e,
principalmente, o hibridismo. Entretanto, visando uma transformação
pós-pandemia, este cenário seria o ideal para uma evolução metodológica da educação,
desde que mantenha as premissas de personalização do ensino e centralização do
aluno no processo de aprendizagem e não continue com a educação tradicionalista
transmitida on-line.
Depois que tudo isso passar, os professores e a gestão das
escolas poderão enxergar uma nova maneira de ensinar, quando perceberem que os
estudantes são capazes de estudar e aprender muitos dos conteúdos sozinhos, em
suas casas, e aproveitar o momento presencial na escola para realizar
atividades ativas que desenvolvam uma aprendizagem mais significativa.
Certamente teremos um grande avanço nas competências
digitais, levaremos para o presencial a aula invertida, de que muito se fala,
mas até então era difícil de ser implementada. Ficará claro para muitos
que não há por que explicar determinado conteúdo que o estudante poderá ler,
ver e estudar antes, mas trabalhar muito mais na sala de aula presencial,
através de projetos de aprendizagem mais ativa, trabalhos em grupo, projetos
mais personalizados e uma avaliação mais processual. São avanços que não
faremos de uma só vez, mas será uma tendência em colocar tudo “mais na
prática”, usar das metodologias ativas, preparar o estudante antes do encontro
presencial e personalizar o processo de aprendizagem. Não somente trabalhar com
videoaulas e exercícios, mas realizar nos momentos on-line, uma série de
dinâmicas diferenciadas que gerem engajamento, viabilizando as competências, o
desenvolvimento profissional e o projeto de vida do estudante.
A médio prazo, sem dúvida, teremos um forte crescimento dos
modelos híbridos e do on-line mais ativo, com modelos mais flexíveis, mais
personalizados, em que os alunos precisarão escolher mais; o que se faz de bom
no presencial, que é aprender colaborativamente quando estamos juntos, também
será possível fazer no on-line. São modelos que se integram, quebraremos a
barreira entre o presencial e o on-line, os modelos presenciais serão híbridos
e o on-line terão modelos mais adaptados.
Isso é uma tendência no mundo inteiro e haverá mais o uso da
inteligência artificial, de plataformas adaptadas às necessidades de cada
aluno, uma formação de professores mais mão na massa, para que ele possa dar
conta, tanto para trabalhar no presencial quanto no on-line.
Com base no exposto sobre o que é e como funciona o Ensino
Híbrido, continuar com aulas tradicionalistas, divididas em momentos
presenciais e momentos on-line não é Ensino Híbrido, mas, sim, poderíamos
chamar de Educação Híbrida, apenas para aproveitar o significado do
“hibridismo”.
Mariane Kraviski é mestre em Educação e Novas Tecnologias e
professora da Área de Educação, da Escola Superior de Educação do Centro
Universitário Internacional Uninter