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No Brasil, para ser ministro da saúde não precisa ser da saúde: de FHC a Bolsonaro
Da Redação | 23 de maio de 2020 - 03:17
Por Matheus Worschech
Ser um profissional da área da saúde nunca foi, e nunca
será, um dos requisitos para ser Ministro da Saúde no Brasil – talvez, por
isso, muitas das políticas públicas não foram integralizadas, assim como o
próprio Sistema Único de Saúde (SUS) não foi totalmente efetivado.
Em nossa rala e frágil democracia, dos vinte e três
presidentes (eleitos de forma democrática ou não), tivemos quase o dobro do
número dos presidentes como ministros no Ministério da Saúde: cinquenta ao
total, sendo dois interinos.
O atual Chefe de Estado, o presidente sem partido, Jair
Bolsonaro, em menos de dois anos trocou três vezes de ministros da saúde. Se
continuar assim, ao que tudo indica, terá trocado mais de ministros que seus
antecessores, cuja média é de quatro ministros por oito anos de mandato.
Bolsonaro, que é visto como radical por uns e reformista por
outros, assim como Lula é um presidente popular. Fala a língua do (seu) povo.
Vivemos a maior crise da história – três em uma: sanitária,
econômica e política. Crise sem precedentes em nossa história. É preciso pensar
de forma estratégica, sobretudo responsável. Não podemos aceitar um aumento no
número de mortes por conta da fome devido ao autoritarismo de prefeitos e
governadores, tampouco devemos aceitar a imposição de um medicamento sem a
comprovação de sua eficácia. O autoritarismo é real, e desnecessário. Uma briga
de egos.
A fome atinge centenas de milhares de pessoas por dia. Mas,
é injustificável, inviável e, também, desumano somarmos o aumento dessas mortes
por conta das orientações desastrosas dos nossos representes.
Cargos de confiança devem estar alinhados com os interesses
do Governo. Um Ministro da Saúde, por mais técnico que seja, precisa ter a
consciência que seu cargo é político. Caso contrário, deverá ser substituído,
assim como fez o Presidente.
O governo da ex-guerrilheira, Dilma Rousseff (PT),
assemelha-se ao do ex-deputado federal, Jair Bolsonaro (sem partido): ambos
desastrosos. E, tanto Dilma quanto Bolsonaro tiveram ministros-interinos que
não são da área da saúde: Agenor Álvares (2016-2016) e Eduardo Pazuello.
O reformista para uns e golpista para outros, Michel Temer
(MDB), em seu governo, contou com a ajuda de um advogado e um engenheiro civil
para o Ministério da Saúde.
A correligionária do ex-presidiário Luiz Inácio Lula da
Silva, Dilma, indicou quatro ministros da saúde em seu governo, sendo apenas
três da área da saúde. Os ministros tiveram uma gestão de, aproximadamente, um
ano e cinco meses cada.
Lula, o ex-presidente mais popular da história do País e,
também, o primeiro a ser preso, empossou quatro ministros, sendo apenas três da
área da saúde. Ao menos, ao contrário de sua pupila, ele finalizou seu mandato.
A gestão de cada ministro durou, em média, dois anos cada.
Fernando Henrique Cardoso (PSDB) parece ter inspirado seus
sucessores e aprendido com os antecessores, pois, também, indicou cinco
ministros, dos quais apenas três eram da área da saúde.
É inevitável que tivemos avanços e retrocessos na gestão de
saúde no Brasil, mesmo que com ministros para além da área da saúde.
Matheus Worschech é Pós-graduando em Democracia
e Pensamento Estratégico Contemporâneo.