Debates
Agricultura 4.0 é uma realidade que veio para ficar
Da Redação | 19 de dezembro de 2019 - 01:39
Por Robinson Cannaval Junior
Quando se fala em novas tecnologias, rapidamente algumas
pessoas associam os novos mecanismos a modismos passageiros, como o APP do
momento ou o aparelho da vez. Mas engana-se profundamente quem faz essa
associação à Agricultura 4.0.
A chegada dessas tecnologias e soluções digitais para
criação de valor na cadeia do Agronegócio veio para gerar uma drástica redução
dos custos de produção, colheita, transporte, armazenagem, processamento e
transmissão de dados. Ou seja, a Agricultura 4.0 permite medir, controlar e
otimizar processos do Agronegócio de modos que seriam impraticáveis há poucos
anos e isso não é passageiro. Essa praticidade e as tecnologias não irão
regredir. Muito pelo contrário, só evoluir e auxiliar nos processos do
Agronegócio, em todos os âmbitos.
A Agricultura 4.0 permite, por exemplo, a redução na
aplicação de defensivos e utilização de combustível e a aplicação de nutrientes
corretamente, de acordo com o potencial de resposta da planta. Gera ainda valor
agregado, com a segregação e a rastreabilidade de produtos com características
específicas de qualidade e uso final. Hoje o Agronegócio pode contar, por
exemplo, com drones e satélites, que mapeiam o solo, identificam pragas; com a
Internet das Coisas (IoT), que disponibiliza sensores no campo captam
informações sobre a lavoura; com máquinas inteligentes que controlam a
liberação de insumos, entre tantas outras inovações. Com as novas tecnologias
também é possível determinar o local exato onde as pragas estão em uma
plantação e, com isso, restringir o uso de defensivos, ao invés de aplicar na
área toda plantada, como é comum nos dias de hoje.
A tecnologia 4.0 também pode ser usada na logística do
campo, para monitorar e gerir frotas.
Mas para se chegar a esta evolução no campo, o Brasil deve,
imprescindivelmente, se adaptar. Soluções digitais em geral requerem
conectividade. A falta de acesso a redes de transmissão de dados pode
dificultar ou atrasar a adoção de tecnologias 4.0 pelo Agronegócio brasileiro.
Apesar do acesso considerável à Internet, apenas duas a cada 10 propriedades
são cobertas por redes 3G ou superior no Brasil. A presença de “máquinas
inteligentes” na produção ainda é tímida, dada a relevância da agricultura
brasileira. Ficamos atrás de países como a China e os Estados Unidos neste
quesito.
O tamanho de nosso país e as dificuldades de se obter a
infraestrutura serão barreiras que devem ser vencidas de maneira complementar
entre a iniciativa privada e também por iniciativas públicas. A tendência é o
gargalo da infraestrutura ir diminuindo com o tempo, à medida que o produtor
rural e o restante da cadeia mudarem a mentalidade.
Outra dificuldade a ser vencida para a aplicabilidade da
agricultura 4.0 no Brasil é que boa parte das informações da produção agrícola
brasileira ainda se encontra em planilhas eletrônicas ou no “caderninho”. Essas
duas maneiras citadas de se armazenar dados se tornam obsoletas dentro do
conceito da Agricultura 4.0, pois só informam ao produtor e ao empresário o que
foi feito (o passado e, no máximo, o presente). Enquanto as novas tecnologias
permitem extrair conhecimento do passado e com isso a decisão do que é preciso
fazer ou deveria ter sido feito (modelos preditivos).
A falta de dados históricos estruturados sobre o desempenho
da lavoura e do negócio é um grande obstáculo para a captura rápida dos
benefícios das tecnologias digitais. Apesar de representar mais de 20% do PIB
brasileiro, o setor do Agronegócio demandou menos de 2% dos investimentos em
softwares no ano de 2018, o que é considerado muito pouco perto das
possibilidades e da representatividade do Agronegócio.
O desenvolvimento de tecnologias 4.0 é mais “barato”
em comparação com outras ondas de tecnologias agrícolas (como a química e a
biotecnologia). Se por um lado isso aumenta as chances de surgimento de
inovações valiosas, também cria dificuldades na hora de escolher onde colocar
foco frente a tantas possibilidades.
Hoje, por exemplo, além da rotulagem de alimentos, os
consumidores estão muito mais conscientes do que compõe sua alimentação. Querem
saber exatamente o que comem. É preciso, então, que a outra ponta da cadeia, o
produtor, esteja com as informações digitais interligadas a todo o sistema de
produção, armazenamento e distribuição para que o consumidor final tenha o seu
desejo atendido corretamente de origem e características dos alimentos.
Os empresários da cadeia integrada do Agronegócio precisam
de atentar às mudanças tecnológicas e se adaptar se quiserem sobreviver e, acima
de tudo, prosperar. Pois, na busca pela eficiência, eficácia e pela qualidade,
não dá para se destacar e se aprimorar fazendo o mesmo dos dias de hoje ou do
passado.
Robinson Cannaval Jr – Sócio fundador e diretor do
Grupo Innovatech, Diretor executivo da Innovatech Consultoria, Formado em
Engenharia Florestal pela ESALQ/USP, com especialização em Gestão estratégica
de Negócios pela Unicamp e MBAs em Finanças e Valuation pela FGV.