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Imagem ilustrativa da imagem Soberana

Por Renata Regis Florisbelo

Uma forma de escrita nos moldes da personificação me acomete, curioso gosto por assumir as dores, os temores e os amores de um ser inanimado, objeto ou formas de vida às quais não se atribuiria pensamento, sentimento ou vontade. Tão humanas, as aspirações e os anseios nos pertencem como criaturas insatisfeitas que somos. Em épocas nas quais vigora o individualismo,  ou qualquer coisa que remeta ao plano individual, quando se menciona a dimensão cidade, a perspectiva coletiva se abre. Jamais um indivíduo sozinho pode abarcar a amplitude que venha a congregar um município.

Uma cidade é feita, obrigatoriamente, por um conjunto de pessoas. Alguma afinidade encontre entre si, seja a origem, a história, a atividade de trabalho ou qualquer ímpeto que acomete a muitos indivíduos. Também neste cenário vigora a escalada pessoal em alcançar seus objetivos haja o que houver ou doa a quem doer, somando ou subtraindo do conjunto da integridade da cidade. Caminhando por nossas ruas, ocorre que somos como o sistema sanguíneo de um único corpo, uma rede intrincada de vasos, veias e artérias, fluxo, que segue para manter um único organismo vivo, a própria cidade viva.

Ponta Grossa se abre, recebe pessoas, empresas, instituições, segue sua trajetória como a trama de um tecido que tudo recebe, transforma e pondera. E o que a cidade anseia? Estaria feliz conosco? Já descreveram a Terra como um cachorro cheio de pulgas (nós) que não aguenta mais carregá-las, e a qualquer momento pode sacudir e espirrá-las, para fora, no ímpeto da saturação. Chegamos ao ponto no qual a gota d’água era a gota que faltava. Identidade, ponto crítico. Quantos indivíduos anseiam por destaque, por supervalorizar sua própria personalidade, sempre se julgando superior aos demais, afã mesquinho de tudo alcançar? O engano, a ilusão, inúmeras cegueiras. Como julgar-se especial sem praticar um feito amorosamente especial? A cidade clama enquanto alguém reclama, da vida, do mundo, dos outros, de um ponto obscuro que tudo oblitera, entretanto são nossos olhos que não enxergam.

O conjunto da cidade somos todos nós, no mínimo, um pouco de cada um de nós. Sendo dela, ao menos uma simples célula, também nos cabe o mérito ou despautério pelo resultado de suas (nossas) ações. Particularmente, não aprecio as falas sempre atribuindo a outros as culpas pelas mazelas, a voz das querelas. O trabalho de cada pessoa constrói o que está ao seu redor, incluindo a cidade e sua passagem por ela. Uma alquimia poderosa se forma pela gota do sacrifício de cada indivíduo, nem sempre quantitativo. Às vezes, uma única gota pode ser o impulso para um mar de boas novas. A premissa é nossa ação sincera pelo conjunto da cidade. Talvez minha visão seja poética e cheia de gestos de amor e doação à cidade, no conjunto de sua unidade, eis a minha singela parcela de singularidade.

Sim, a cidade é soberana, uma nobre dama, sem soberba, ela sabe que sua sorte está ligada a quem sabe e a quem não sabe que sua boa sorte somente a nós pertence.

Renata Regis Florisbelo é escritora e presidente da Academia de Letras dos Campos Gerais

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