Debates
Meio século da OCB
Da Redação | 31 de agosto de 2019 - 02:02
Por Roberto Rodrigues
Para celebrar os 50 anos de sua criação, a Organização das
Cooperativas Brasileiras (OCB) realizou, 8 a 10 de maio, seu 14° Congresso,
discutindo a construção do futuro do movimento diante do cenário econômico e
político do país e do mundo, com mais de 1.300 participantes de todo o país.
Trata-se de um movimento que ganhou credibilidade ao longo
deste meio século de existência, estando expressivamente presente nos
diferentes segmentos socioeconômicos do Brasil, com cerca de 6.800 cooperativas
atuantes que nucleiam mais de 14 milhões de cooperados. Para se ter uma ideia
da importância dessas empresas, basta dizer que, na área rural, mais da metade
da produção agropecuária nacional passa por cooperativas, com uma condição: a
grande maioria dos associados é de pequenos e médios produtores. E, na área do
crédito, o dado é ainda mais relevante: as cooperativas de crédito só cresceram
depois da Constituição de 1988, na qual foram reconhecidas como integrantes do
Sistema Financeiro Nacional e passaram a ser fiscalizadas pelo Banco Central,
assim como já eram os demais bancos. Com isso, a evolução recente desse setor
foi tão espetacular que, se todas as cooperativas de crédito integrassem um
único banco de cúpula, este já seria o sexto maior do país, atrás apenas do
Banco do Brasil, da CAIXA e dos privados Itaú, Bradesco e Santander. E é um
velho sonho dos líderes cooperativistas que essa unicidade seja alcançada num
futuro não muito distante.
No Congresso, foram discutidos alguns temas recorrentes
nunca resolvidos até então. Entre eles, foi aprovada uma recomendação de que
todas as cooperativas, de qualquer ramo de atividade, passassem a ter em seu
Conselho de Administração pelo menos uma mulher e um(a) jovem. Antigos líderes
não gostavam dessas ideias, argumentando que nos quadros sociais não havia
representantes do sexo feminino ou da juventude suficientemente preparados para
assumir um cargo nos Conselhos. Com isso, inibiam o acesso a tais pessoas.
Mas desta vez ficou aprovada a tese: mesmo que não existam
mulheres ou jovens já capacitados para a função e, portanto, sem condições
eleitorais, a direção da cooperativa cooptará pessoas indicadas nos seus
comitês feminino e de juventude, que passarão a integrar o Conselho com direito
a voz e sem direito a voto (para se diferenciar dos colegas eleitos).
Tal proposta ajudou na reafirmação de outros aspectos que têm a ver com o posicionamento das cooperativas no cenário global.
E aí ressalta a conceituação clara de que cooperativa é uma
empresa; constituída sob a orientação da doutrina, margeada por valores e
princípios universais, mas uma empresa. Presta serviços aos seus associados
para que eles possam progredir econômica e socialmente, mas é uma empresa.
Sendo assim, a cooperativa precisa estar inserida nos mercados de forma
competitiva, com gestão profissional focada e eficiente, assumindo que a
sustentabilidade da sua produção é elemento central da competitividade.
Definitivamente, cooperativa não é sociedade beneficente, nem palco para
amadores.
Num mundo tremendamente concorrencial, com “guerras
comerciais” legítimas ou não – com lideranças mundiais desestabilizando
instituições multilaterais construídas a duras penas por décadas, dando espaço
para um neoprotecionismo que afetará os países emergentes –, as cooperativas
serão elemento de destaque na defesa de pequenos e médios investidores de
qualquer setor econômico, garantindo, assim, a inclusão social e a preservação
da democracia no planeta.
*Roberto Rodrigues é coordenador do Centro de
Agronegócio da FGV e Embaixador Especial da FAO para as Cooperativas