Debates
Inteligência competitiva no Agronegócio: fator decisivo entre sucesso e fracasso
Da Redação | 16 de agosto de 2019 - 02:51

Por João Comério
A agricultura vive um momento de grandes transformações,
impulsionadas por fenômenos recentes ou pela aceleração de tendências, e acompanhar
essa evolução não é tarefa fácil. Mesmo isoladamente, cada um desses fatores
poderia vir a ter um impacto significativo sobre o setor do agronegócio. Em
conjunto, essas tendências poderão redefinir a estrutura, a conduta e o
desempenho dos agentes no segmento, produzindo novos vencedores e perdedores,
tanto no nível de empresas como no de países inteiros.
As mudanças tecnológicas, ambientais e de mercado demandam
que os players da cadeia do agronegócio, que queriam se manter e crescer,
adaptem-se a um ambiente de maior incerteza, novos equilíbrios de força e
necessidade crescente por respostas rápidas e decisivas.
Como é sabido, os resultados dos empreendimentos no agronegócio são
fortemente impactados por fatores originados “da porteira pra fora”, em outros
elos da cadeia de valor. E, embora a disponibilidade de dados venha crescendo
de maneira exponencial, as lideranças empresariais não têm acesso a informações
críticas e essenciais para tomar decisões importantes para os seus negócios. Ou
seja, lhes falta o que chamamos de inteligência competitiva.
O objetivo da inteligência competitiva é captar sinais de
mudanças no ambiente externo que tenham impacto sobre o desempenho da empresa,
tanto ameaças como oportunidades, antes dos seus competidores e a tempo de
reagir sobre as informações. A ausência de processos efetivos de inteligência
competitiva leva a prejuízos evitáveis ou ao desperdício de oportunidades.
O desafio maior não está na falta de dados, mas na
transformação de dados em diretrizes para tomada de decisão, definindo as
variáveis de interesse (“o que?”) e estabelecendo protocolos para obtenção e
curadoria das informações relevantes (“como”). Para isso, se faz necessário
mapear quais informações são relevantes para o negócio não é uma tarefa trivial.
Muitas vezes as relações entre variáveis importantes não são óbvias e ainda
elas mudam ao longo do tempo.
Um exemplo básico dessa necessidade de avaliação e de
variáveis nem sempre claras para os empresários do agronegócio pode
ser visto na questão dos custos do transporte da produção agrícola. Muitos
acreditam que ter as informações sobre os valores do frete e custos de
transportadora seria o ideal. Mas se esquecem que esses valores também têm “n”
variáveis, como mão-de-obra, custo do combustível, disponibilidade modal, entre
outros. Isso fora a avaliação do próprio negócio, como demanda, projeção de
safra, sazonalidade etc.
Neste caso, para se compreender uma das grandes preocupações
do produtor agrícola, que é o custo do transporte é necessário monitorar, fazer
projeções macroeconômicas, como inflação e juros; avaliar a política de preços
da Petrobrás; estar atento aos movimentos da categoria (caminhoneiros), entre
tantos outros aspectos extremamente variáveis.
Já no caso da pecuária, podemos citar como exemplo as
variáveis que contemplam o investimento na ampliação da capacidade de abate de
frangos de um frigorífico. É preciso avaliar dentro do planejamento premissas
básicas como demanda, preços e custos, mas é necessário também ter em mente os
indicadores antecedentes, como as tarifas de importação, mapa de plantio do
milho, fenômenos naturais como o El Niño, tendências de consumo, entre outros.
Para isso, é preciso saber quais são as fontes de dados confiáveis e
pertinentes e quais são os meios de captura relevantes para essas informações.
Apenas depois de ter todas essas informações nas mãos é que é possível o
empresário definir e aplicar quais serão as medidas a serem tomadas.
Como se pode perceber, se manter, empreender e crescer no agronegócio não é tarefa fácil e exige resposta rápida do empresário e produtor. E neste universo tão dinâmico e variável, a inteligência competitiva é o fator decisivo entre o sucesso e o fracasso.
* João Comério é Presidente do Conselho do Grupo
Innovatech, formado pelas empresas Innovatech Consultoria, Innovatech Gestão,
Filius Venture e Auctus Inteligência Aumentada; Presidente do Comitê de
Inovação da ABAG e conselheiro do fundo da USP. Comério é graduado pela
Universidade Federal de Viçosa em MG, com especialização em Princípios de
Gestão na Columbia University, New York, NY, EUA.