Debates
Programa HospSUS como política de estado é uma necessidade
Da Redação | 12 de julho de 2019 - 02:29
Por Bernardo Caron
Conhecido como Programa HospSUS, o Programa de Apoio e
Qualificação de Hospitais Públicos e Filantrópicos do SUS Paraná pode virar
política estadual de governo com o projeto de lei que acaba de chegar à
Assembleia Legislativa para ser apreciado por nossos deputados. Trata-se de uma
demanda antiga dos serviços hospitalares credenciados ao Sistema Único de Saúde
(SUS), de transformar o programa em política de estado e garantir a manutenção
dos incentivos financeiros aos hospitais estratégicos, públicos e filantrópicos,
independentemente da sucessão no governo.
Se aprovado pela Alep, o projeto trará segurança jurídica
aos prestadores de saúde do SUS, especificamente aos que são referência para as
redes Mãe Paranaense e Paraná Urgência. Não menos importante, representará
segurança para a população, com a continuidade do tratamento assegurada pelos
incentivos provenientes do HospSUS.
O HospSUS foi criado em 2011 pelo então secretário estadual
da Saúde Michele Caputo – atualmente deputado e autor do projeto de lei.
Contemplava inicialmente 49 hospitais públicos e filantrópicos distribuídos nas
diferentes regiões do estado. Essas instituições são a retaguarda para a Rede
Mãe Paranaense e a Rede Estadual de Urgência e Emergência.
Os hospitais são incluídos seguindo uma série de critérios
estabelecidos pela Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (Sesa), e recebem
incentivo financeiro com base no número de leitos gerais e leitos de UTI
oferecidos ao SUS. Os recursos provenientes do Tesouro do Estado, e suas
aplicações, são direcionados para melhoria da qualidade da assistência, com
investimentos na manutenção e ampliação da capacidade instalada (instalações
físicas e equipamentos), para aumento da oferta de serviços, custeio das ações
e serviços e melhoria da gestão dos hospitais.
Os recursos de custeio são alocados às instituições de forma
que metade do valor total do incentivo seja destinado de forma fixa, e a outra
metade de forma variável, ou seja, condicionada ao desempenho das metas
estabelecidas pelo Programa HospSUS.
O ponto delicado é que, se numa eventual mudança de governo
o secretário de Saúde e o governador definissem que essa política de governo,
que já dura oito anos, não fosse mais importante, os hospitais que fazem parte
da rede HospSUS perderiam automaticamente os incentivos que recebem. Isso
impactaria muito a receita dos hospitais, possibilitando, inclusive, o
encerramento das atividades de alguns deles, e também a interrupção do
tratamento dos pacientes.
No Hospital Angelina Caron, além de setores como trauma,
urgência e emergência, somos um centro de referência para gestantes de alto
risco. Com o HospSUS, passamos a oferecer mais vagas para essas pacientes.
Para que consigamos manter o hospital com o aparato
tecnológico atualizado, com os colaboradores treinados para desempenhar um
atendimento de excelência e oferecer o espaço físico adequado, é muito
importante que tenhamos essa parceria com os governos federal, estadual e
municipal. Sem falar no auxílio recebido por meio de verbas parlamentares.
Os incentivos também nos permitem complementar a receita de
setores que estão completamente defasados pela tabela do SUS, cuja realização
não seria viável se não fosse esse complemento financeiro.
Há que se ressaltar que os incentivos do programa não são
doações. Os hospitais que fazem parte da rede HospSUS tem seus indicadores
monitorados mensalmente pela Sesa, que exige o enquadramento das instituições
em uma série de critérios e demandas.
Além disso, é preciso enfatizar que o setor filantrópico é
fundamental para a saúde pública em todo o país. O relatório "A
contrapartida do setor filantrópico para o Brasil", organizado pelo Fórum
Nacional das Instituições Filantrópicas (Fonif) e divulgado em março deste ano,
aponta que o Paraná possui 53,8% dos procedimentos do SUS realizados por
instituições filantrópicas.
A média geral do país, segundo o levantamento, também fica
em torno de 53%, chegando a 73,5% no Rio Grande do Sul, que encabeça a lista.
Quando se fala em procedimentos de alta complexidade, o percentual é ainda
maior: 60% da média geral nacional são feitos em Santas Casas e hospitais
filantrópicos, o que evidencia a importância do nosso setor.
Tendo em vista essa grande contribuição dos hospitais
filantrópicos e a importância do Programa HospSUS para saúde pública,
endossamos o projeto de lei apresentado à Assembleia Legislativa do Paraná, e
fazemos votos de que o programa se torne uma política de estado permanente,
para o bem-estar social de toda a população paranaense que depende do
atendimento de qualidade pelo SUS.
Bernardo Caron é diretor administrativo do Hospital
Angelina Caron, de Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba,
instituição médico-hospitalar de caráter filantrópico de referência estadual e
nacional que realiza 93% dos atendimentos pelo SUS. Com 2,07 milhões de procedimentos
anuais em pacientes de todo o país, o hospital é um tradicional centro de
fomento ao ensino e à pesquisa.