Cotidiano
Santa Casa de PG realiza cirurgia inédita de osteointegração
O procedimento marca um avanço na medicina regional
Da Redação | 15 de maio de 2025 - 06:08

A primeira cirurgia de osteointegração da região dos Campos Gerais, e a segunda registrada no estado do Paraná, foi realizada com sucesso pelo médico ortopedista Carlos Eduardo Miers, especialista em reconstrução e alongamento ósseo, no último sábado (10), na Santa Casa de Misericórdia de Ponta Grossa. O procedimento marca um avanço na medicina regional, oferecendo uma alternativa moderna e mais funcional para pacientes amputados.
A cirurgia de osteointegração de membros consiste na implantação de um dispositivo no canal medular do osso, fêmur ou tíbia, permitindo a conexão direta com a prótese, sem necessidade de soquetes ou encaixes adaptados. Esse método possibilita que a prótese seja acoplada de forma mais rápida e prática, proporcionando ao paciente maior controle e mobilidade para realizar atividades do dia a dia, inclusive exercícios físicos.
“A osteointegração é a revolução de como o amputado se conecta com sua prótese”, ressalta o médico Carlos Miers. Ele explica que, atualmente, o paciente, para usar uma prótese, precisa vestir um soquete no coto. Esse soquete acarreta alguns transtornos, como dor, acúmulo de suor, calor excessivo e até favorece o aparecimento de feridas. Além disso, à medida que o corpo muda, seja engordando ou emagrecendo, esse soquete perde a usabilidade e precisa ser trocado periodicamente.
Outra questão no uso de próteses tradicionais é que a descarga de peso ocorre através da circunferência do coto de amputação. Já com a osteointegração, a transferência de carga se dá de maneira mais anatômica, em que o peso é transmitido diretamente pelo osso até a prótese, o que reproduz uma forma mais natural a biomecânica da marcha, proporcionando mais mobilidade e autonomia para o paciente.
O conceito de osteointegração em si não é novo, existe desde a década de 1950, embora fosse mais utilizado na realização de implantes dentários. Na prática, o procedimento funciona de forma semelhante: enquanto na odontologia é inserido um parafuso na mandíbula para se conectar à prótese, na ortopedia o procedimento consiste na inserção de uma haste de titânio no canal medular do osso — seja do fêmur ou da tíbia. Com o tempo, o próprio osso incorpora essa haste, crescendo em volta dela, tornando-a uma extensão do osso. Assim, a ponta desse implante tem um conector que atravessa a pele, permitindo o encaixe com a prótese mecânica mais adequada.
PIONEIRISMO - O ortopedista Carlos Miers, responsável pela cirurgia inédita nos Campos Gerais, destaca que a realização do procedimento representa a materialização do compromisso que ele e a sua equipe sempre tiveram com os pacientes: o de trazer inovações e proporcionar um tratamento de ponta, que hoje é realizado no mundo todo e no Brasil está começando. “Não é porque não estamos na capital, que ficaremos aquém do que acontece na vanguarda da medicina”, exclama.
Com a realização da primeira cirurgia de osteointegração na região, o médico acredita que este será o pontapé inicial para que o procedimento se torne mais comum e acessível a todas as pessoas com amputação. “Começamos esse trabalho com a difusão da informação, mostrando aos pacientes que eles não precisam sofrer com a má adaptação à prótese, pois existem diversas opções de tratamento. E, a partir disso, nos colocamos à disposição para oferecer todo o atendimento e os cuidados necessários antes e depois da cirurgia”, enfatiza.
INDICAÇÃO - A cirurgia de osteointegração é indicada para toda pessoa amputada que tem uma má adaptação da prótese e está insatisfeita com o uso da atual, seja porque não consegue vestir, machuca ou porque não consegue andar direito. “É muito comum os pacientes relatarem que não veem a hora de tirar a prótese, porque está machucando ou porque não está confortável, e isso é um grande limitador, porque a hora que ele retira a prótese irá precisar fazer o uso de muletas ou de algum outro auxiliador para poder caminhar”, revela o ortopedista.
Miers completa que a osteointegração vem justamente para solucionar esse problema, uma vez que resolve as questões relacionadas ao soquete e ao encaixe da prótese, permitindo que o paciente tenha mais conforto e utilize a prótese por mais tempo. Ele conta que a jornada do paciente começa com uma avaliação minuciosa feita pelo ortopedista, na qual são analisadas as demandas, para que o tratamento seja focado nas necessidades de cada paciente.
Se for o caso da osteointegração, aí inicia um protocolo diferenciado. Segundo o médico, o paciente passa por uma avaliação multidisciplinar com infectologista, psicólogo e cirurgião plástico, tudo para garantir a segurança e a tranquilidade do paciente durante todo o processo. Obviamente, a cirurgia é o ponto crucial, mas a reabilitação pós-operatória é fundamental para o sucesso do tratamento.
"Após a cirurgia, inicia-se a fase de recuperação e reabilitação, marcada por um período de adaptação e treinamento para o uso do novo dispositivo. Nas semanas iniciais, ocorre o processo de osteointegração. A partir daí, o paciente começa uma progressiva descarga de peso, acompanhada por exercícios fisioterapêuticos, que visam prepará-lo para o uso adequado de uma nova prótese. Todo esse processo de reabilitação costuma durar entre 3 e 6 meses após a cirurgia", conclui o médico.